A catástrofe no Golfo do México gerado pela BP. O que vale a política perante a globalização dos fluxos...
Governo da complexidade pouco pode fazer diante do maior acidente ecológico da BP no Golfo do México, que gerará uma das piores marés negras das últimas décadas.
O permanente crescimento da complexidade no domínio das instituições públicas passa também a impedir que os agentes sociais e económicos actuem, conduzindo todo um ecosistema ao terreno da insegurança que, por sua vez, vai adensar as pressões sobre a dinâmica política, por um lado, ameaçando o próprio consulado de Obama, e ameaçando o sistema de instituições internacionais na confiança do funcionamento das multinacionais que exploram plataformas petrolíferas cujas consequências não conseguem controlar. A BP está a passar por esse problema que afecta a região do Golfo do México e cujos prejuízos assumem cerca de 1,2 mil milhões de euros para as seguradoras, um desastre ambiental de grandes proporções e meses de operações de resgate e limpeza. Esta é a realidade que a empresa petrolífera britânica British Petroleum (BP) e a sua subsidiária Transocean têm pela frente depois da explosão e afundamento da plataforma petrolífera Deepwater Horizon no Golfo do México, a cerca de 70 quilómetros da costa norte-americana do Louisiana.
Por outro lado, este desastre ecológico interfere com o conceito de responsabilidade pelos efeitos secundários e os efeitos não pretendidos das acções que impedem de equacionar ou de prever um futuro através de critérios de sustentabilidade, sobretudo provenientes da principal superpotência do mundo que revela a esse mesmo mundo estar paralisado para lidar com uma catástrofe ambiental, porque a empresa que explora a plataforma não tem meios nem know-how para estancar o problema. O que reflecte bem o paradoxo tecnológico em que vivemos, além do paradoxo democrático. Com aquele não se consegue atingir uma solução técnica, com este o Estado não consegue obrigar a uma solução política que obrigue a empresa responsável pelos danos ambientais a restaurar imediatamente o statu quo ante.
Há, pois, aqui vários graus de impotência, irresponsabilidade para gerir e lidar com a organização dos interesses globais que são afectados por esta catástrofe que afecta a fauna e flora dos Estados do Alabama, Mississipi e outros. E quando a BP conseguir delimitar tecnicamente o problema que geraram, os particularismos dos diversos sistemas sociais afectados, dificultando a integração em termos de bem comum, a ideia que fica é que a complexidade civilizatória do nosso tempo não consegue um governo centralizado com capacidade efectiva de decisão.
A consequência desta catástrofe global revela a ingovernabilidade do sistema político norte-americano, a permissividade da legislação que regula o sector petrolífero e a necessidade urgente de definir a necessidade duma responsabilidade cooperativa dos actores envolvidos, tomando em linha de conta que os republicanos terão aqui o seu leitmotiv para começarem a criticar a administração Obama pela incapacidade em obrigar a BP em resolver um problema técnico para o qual parece não dispor de tecnologia à altura para monitorizar este desastre. Está também a dizer ao mundo que o poder político dos Estados e governos hoje se encontra em apuros um pouco por todo o mundo, tal significa que a política é fraca perante a poderosa competição dos interesses presentes nos fluxos financeiros, seja via poder das grandes multinacionais que fazem quase o que querem, seja ainda via media planetários, pois num caso e noutro o formato da globalização dos fluxos e dos processos suplanta as exigências dos Estados nacionais em preservar os respectivos interesses nacionais que, em princípio, são os guardiões do chamado bem comum que falava Aristóteles.
Não deixa de existir uma certa ironia em tudo isto, pois inúmeros são os países pobres que podiam e deviam dispor desse recurso ainda fundamental para o funcionamento das sociedades que é o crude, o qual daria imenso jeito a Portugal. E são logo precisamente os EUA, um país rico, que se revela incapaz de estancar aquela fuga de ligação à superfície, e que já afecta as várias reservas naturais da região do Golfo do México.
Digamos, ainda que mal comparado, que a América está novamente a viver a reedição do seu 11 de Setembro de 2001.
Etiquetas: BP, Catástrofe no Golfo do México, EUA, política perante a globalização dos fluxos
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