O cinismo político entre Belém e S. Bento enquanto entropia política nacional
Temos aqui defendido que um dos grandes males da democracia e "dinâmica" (ou falta dela!!!) económica e social nacionais decorrem da natureza politico-institucional entre Cavaco e Sócrates no quadro das suas relações pessoais, políticas e institucionais, seja directa seja por interpostas pessoas, designadamente assessores, deputados e demais pessoal político que opera de cada um dos lados da barricada e vai fazendo a "guerra fria" entre os dois principais pólos de poder actualmente em Portugal.
Ambos fazem discursos, porque é também essa a sua função de representação política, mas o facto de desenvolverem uma guerra privada, nutrida nos bastidores, adensada por assessores perversos que potenciam os seus efeitos junto dos media, contrasta com o cinismo público que mantêm diante dos portugueses. E é precisamente esse traço disfuncional e intolerável da razão cínica que quadra a relação do PR com o PM que converte a relação política ao alto nível em Portugal como uma moral política de conveniência, uma atitude interesseira e só aparentemente reformadora das leis e das instituições que acaba, em função dos factos conhecidos, por descambar em mensagens de Ano Novo de sentido contraposto que baralham ainda mais os portugueses relativamente à saída da crise e das respostas que é urgente dar para consumar a morte da dita crise que parece ter vindo para ficar, como o Toyota.
Já não é só a oposição ou a luta entre dois homens políticos que comandam, directa ou indirectamente, dois partidos, facções ou cosmovisões diferentes da vida e do mundo, é o “talento” que cada um arranja para desenvolver uma espécie de segundo carácter, dissimulador para representarem o campo de possibilidades que cada um, PR e PM, faz da ordem sociopolítica que lidera e a forma que encontram para formatar toda essa cultura política deformada feita de atitudes, comportamentos e condutas nos dois campos da barricada política em Portugal.
Ao cinismo político soma-se a hipocrisia que nunca como hoje se erigiu em Portugal como uma espécie de ideologia dominante entre Belém e S. Bento, uma relação feita de imposturas, guiada pelo princípio paranóico da exclusão, em que um quer cilindrar o outro – mas não consegue e, por isso, são ambos obrigados a coabitar fazendo mensagens de Ano Novo de sentido contraposto praticamente ao mesmo tempo.
Ambos falam em nome do desenvolvimento, da liberdade, do combate à crise (desemprego, défice, etc) mas, na prática, e no interior das coisas, como diria o poeta, guerreiam-se: Cavaco apoiou Ferreira Leite para PM, quando deveria ter sido um PR isento e imparcial; para agravar a situação, mandata o seu assessor mais importante, Fernando lima, para conspirar contra a democracia e assassinar politicamente o PM, tentativa saíu gorada e veio a ser descoberta; o PM induz alguns deputados do seu grupo parlamentar a comportarem-se como "watchdogs" treinados pavlovianamente para criticar Cavaco nos seus calcanhares de Aquiles nesta coabitação doente e perversa que se instalou na democracia portuguesa.
Estabeleceu-se assim em Portugal uma praxis política perversa, uma relação cínica e hipócrita entre ambos, que acaba por contaminar toda vida pública e a conduta dos partidos, a vida no hemiciclo da AR, topoi onde hoje gravita o pólo da decisão política no país, e isso faz com que todos os outros subsistemas da decisão (Justiça, Educação, Finanças, Economia, Saúde) sejam demasiado politizados em entrem em entropia e paralisem.
É esta perversão global do sistema que contribui para agravar ainda mais os indicadores de desenvolvimento social e económico no país, não encontrando os decisores as melhores ideias nem os melhores projectos para escapar à crise em que mergulhámos.
Este bias entre cinismo, hipocrisia e falta de ideias e inventividade política para escapar à crise é, ou pode ser, uma das principais razões por que Portugal hoje se afasta dos índices de desenvolvimento humano dos países da União Europeia, de cuja plataforma política faz parte.
Esta razão cínica entre Belém e S. Bento é, hoje, profundamente perversa em Portugal porque gera desconfiança nos empresários, nacionais e internacionais, e isso afasta ou adia inúmeras possibilidades de investimento e a figura que quer Cavaco quer Sócrates tinham de, entre cada uma das suas “gentes”, ser o líder que iria salvar o país da crise e da recessão - não passa de uma representação cujo espectáculo mediático já se tornou miserável à luz das condições em que hoje vivem milhares de portugueses.
Por último, é esta banalização da vida pública nacional, pontilhada por Cavaco e Sócrates, que hoje castra os portugueses, roubando-lhes energias para serem inovadores, produtivos, competitivos, atraírem investimento, criarem riqueza e potenciar os níveis de desenvolvimento e bem-estar colectivo que o país carece.
A natureza desta relação cínica entre Belém e S. Bento é hoje a responsável pela inibição, angústia e decadência em que hoje vivem os portugueses.
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