quinta-feira

O tempo é hoje pura alienação. Happy New Year

Enquanto organização social constitui, hoje, a alienação necessária, como revelava Hegel, e o meio no qual o sujeito se realiza perdendo-se, tornando-se "outro" (com ou sem alteridade) para se tornar a verdade de si mesmo. Vivemos actualmente a produção desse tempo estranho, nessa alienação espacial em que os actores sociais proclamam uma coisa, enunciam certos valores e depois assumem uma práxis social literalmente oposta. É assim na esfera pública e no domínio privado, o que agrava a existência: ao altruísmo proclamado no espaço público sucede-se o egocentrismo; ao apego à meritocracia constata-se o penhoramento da cunha no mercado socioprofissional; ao valor da sinceridade e da autenticidade contrapõem-se a perfídia, a intriga, a inveja e a maledicência. A natureza humana já não muda, com a sem mensagem papal, com ou sem encíclica, com ou sem missa, com ou sem doutrinação. O homem é um produto dos tempos, é aquilo que sempre foi: um ser mesquinho, interesseiro, bajulador, vendável - como uma simples mercadoria, que actua exclusivamente em função dos seus interesses ainda que o faça evocando o bem-estar social. As excepções genuínas são verdadeiramente raras. Nestes fins de ano temos a tendência para fazer balanços, eleger o melhor e o pior do tempo que passou, em vão. Se esquecermos isto estamos também a omitir que não compreendemos uma das principais lições da história, segundo a qual o tempo (que está fora de nós) é que é tudo, o homem, aqui e agora, não é nada, não passa duma carcaça do tempo. Ao teimar em desconhecer esta regra intemporal, o homem persiste na sua alienação, vivendo um tempo desvalorizado, obedecendo a uma inversão completa do tempo enquanto domínio de desenvolvimento humano. Creio que o único balanço que hoje podemos fazer deste nosso tempo é, como diria Sto Agostinho: o espaço onde as coisas se desenrolam. O tempo, o nosso tempo, não é senão uma acumulação rotinada de espaços e de imagens cujo anel se interrompe com a surpresa da morte. Até lá vivemos entretidos com a mesquinhez do costume desconhecendo, efectivamente, se Deus é ou não um grande brincalhão que vai gerindo o tempo e o espaço consoante pode e sabe.

HAPPY NEW YEAR

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