Léxico político de Cavaco Silva - p´lo Jumento -
"Léxico político de Cavaco Silva
Se Mao teve o seu livro vermelho e Kadafi o seu livro verde é tempo de começar a dar contributos para o livro laranja de Cavaco Silva. Aqui fica uma proposta de léxico político:
Transparência nos negócios: entregar as poupanças a um amigo presidente do BPN para que este fixe o preço a que compra e vende as acções, dando-se preferência à compra das acções não cotadas do banco do amigo, assegurando-se lucros superiores a 100% para as poupanças do próprio e familiares.
Cooperação estratégica: elogiar as reformas do governo quando este está em alta e fazer silêncio quando as sondagens são adversas ao partido do governo, principalmente se o partido é dirigido por má moeda ou por moeda com cotação inferior às acções da SLN.
Solidariedade institucional: combinar com Manuela Ferreira Leite o que cada um vai dizer na semana seguinte.
Desenvolvimento económico: evolução da economia que se traduz em riqueza, sendo esta indirectamente medida pelo indicador que contabiliza o número de quilómetros de estradas municipais construídos.
Veto político: equivalente presidencial dos ovos, vendem-se à dúzia.
Carapaus alimados: iguaria preciosa indicada para repastos com clérigos convidados mas que deve ser servida com parcimónia.
Bolo-rei: bolo seco com frutas cristalizadas e por vezes com uma fava que é especialmente indicado para encher a mula e cujos aromas subtis só são devidamente apreciados se comido sem mastigar.
Assessor: variante de agente secreto rasca, mas de grande utilidade para promover a intriga política junto da comunicação oficial, bem como para divulgar as comunicações oficiais.
EPIS: Associação de empresários amigos presidida por Rendeiro, um conhecido empresário modelo da praça, uma autêntica boa moeda do meio empresarial nacional.
Acções: há as boas e as más, as melhores são aquela cujos preços de compra e de venda são fixados por Oliveira e Costa.
Tabu: momento prolongado de reflexão.
Cimento: matéria-prima cuja unidade de medida era o ecu, mais recentemente convertido em euro.
Genros: designação dada aos doentes tratados em hospitais com recurso a cunhas.
Praia: o local mais apropriado para levar os seguranças a passear.
Má moeda: género de políticos que dão excelentes candidatos à autarquia da capital.
Roteiro da exclusão: passeio político equivalente a lavar as mãos com água-benta.
Obs: Publique-se com carácter de urgência e envie-se uma xerox para Belém, para ver o reflexo das "presidencias abertas" de Cavaco e a forma como tem violado a regra da imparcialidade e equidistância com que era suposto exercer no cargo de mais alto magistrado da nação.
É triste dizê-lo, mas em cada uma daquelas variantes na relação institucional, o actual locatário do Palácio Rosa tem-se comportado como aquele juíz que não abdica de querer julgar o filho com o fundamento de que o conhece melhor e, por isso, supostamente a decisão judicial também seria mais justa. Puro engano, no final nem Ferreira leite lhe agradecerá porque o Portugal-profundo não lhe dará crédito político, Belém fica chamuscado por tão baixa isenção no tratamento dos assuntos de Estado, os partidos da oposição também verão aí razões para criticar Belém por discriminação positiva relativamente ao psd e em desfavor ao pcp, be e cds e, óbviamente, o PS. Numa palavra: Cavaco em Belém está a conseguir fazer várias coisas mal ao mesmo tempo, os assessores, por fidelidade canina e falta de conhecimento político e visão estratégica, só embaraçam e até aquela memória desenvolvimentista que nutriu uma classe média feita à medida comunitária e de grande superfície que encheu os bolsos a Belmiro de Azevedo - e fez a rede viária do país, em boa medida alicerçada nos fundos comunitários que então jorravam de Bruxelas, está a desvanecer-se, pois o role-playing a que se tem prestado em Belém acaba por escavacar a prestação que deu a Portugal na qualidade de PM. E isto por uma razão simples: cavaco não desiste de querer meter a sua amiga Ferreira leite em S. Bento, mesmo sabendo que ela não sabe, não pode e não quer governar, mas é esse pacote confuso que configura um complexo de relações e de condições ideais - objectivas e subjectivas - para que seja Cavaco a manipular S. Bento concentrando em si as figuras de PR e de PM (ainda que por interposta pessoa). É óbvio que os resultados das urnas, já nas Legislativas, vão cilindrar essa vã pretensão.
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