Cimeira de Áquila - Países emergentes querem mais influência
in DN, Luís Naves.
G8 já não consegue gerir problemas globais e um grupo de economias em desenvolvimento desafiou o poder dos industrializados.
As potências mundiais concordaram em pressionar o Irão a abandonar o seu programa nuclear. Reunidos em Áquila, Itália, os líderes do G8 aprovaram uma declaração mais dura do que era esperado, isto apesar das reservas russas. Na prática, o Irão terá dois meses para negociar o seu programa de enriquecimento de urânio. Depois, não haverá mais discussões. O Presidente americano, Barack Obama, apelou a Teerão para que escolha a via do compromisso.
O grupo dos oito países mais industrializados (EUA, França, Reino Unido, Alemanha, Rússia, Japão, Canadá e Itália) apresentaram anteontem uma proposta sobre redução de emissões de gases com efeito de estufa, a qual apontava para uma quebra para metade (em relação a níveis de 1990) até 2050. As nações mais ricas comprometiam-se a cortes de 80%. Foi aceite o limite de dois graus centígrados para o aumento da temperatura planetária.
Mas o G8 recebeu ontem os membros do G5 (que inclui as potências emergentes, China, Índia, Brasil, México e África do Sul) e o resultado foi decepcionante. Estes países representam 3,3 mil milhões de pessoas, contra 0,9 mil milhões do G8, e qualquer plano de redução de emissões não faz sentido sem o seu apoio. O PIB conjunto do G8 soma quase 30 biliões de euros (milhões de milhões), enquanto o G5 pouco passa dos seis biliões de euros.
A reunião dos industrializados e emergentes foi cordial, mas o G5 surgiu com uma posição em bloco, a exigir maior influência nas decisões das potências e, no que dizia respeito à proposta ambiental, muita relutância em aceitar as medidas. China e Índia estão contra a proposta, temendo que isso implique maiores sacrifícios para as suas economias. O Brasil pediu metas intermédias e no final do encontro o Presidente Barack Obama apelou a todos os países para que aceitem estas metas ambiciosas.
Fora da cimeira, as reacções sobre a iniciativa ambiental também mostraram grande cepticismo. O plano não diz nada sobre a forma de alcançar os objectivos, afirmam os críticos.
A cimeira de Áquila acaba por ter mais ideias do que músculo também na questão do comércio internacional, que foi o tema central da discussão de ontem. Para não haver 13 intervenientes, o Egipto foi igualmente convidado. As potências do G14 concordaram em reanimar a ronda de negociações sobre liberalização de comércio conhecida por ciclo de Doha. Este deverá ser concluído no próximo ano. Houve também promessas de evitar medidas proteccionistas.
A cimeira de Áquila mostra que o G8 deixou de fazer sentido. O Presidente francês, Nicolas Sarkozy, reconhecia ontem que o grupo "já não pode tratar dos desafios globais" e propôs a junção dos emergentes, que formaria então o G14 para negociar temas globais. Para tratar da economia, haveria o G20, que inclui outras economias fortes, como Austrália e Coreia do Sul, também convidadas para Áquila e que apoiam as metas ambientais. A formulação G20 já reuniu duas vezes desde o início da crise e terá novo encontro em Setembro, em Pittsburgh, nos EUA.
Obs: Já agora, para quando a reforma da ONU, que precisa ser reformada quase desde o ano em que foi fundada.
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