segunda-feira

James Dean e o "ersatz" moderno. Cafe del Mar

Com um Tato Nano seria impossível James Dean estampar-se a 160kl/h, como ocorreu no seu Porshe. Mas mais importante do que referir a forma como Dean morreu é vincar a forma como viveu. Num permanente combate contra o mundo. Abandona a faculdade para ser quebrador de gelo num camião-frigorífico, marinheiro num rabocador, marujo num iate até conseguir por fim as luzes da ribalta desse sol mítico moderno que é a 7ª arte. Desenvolve vários trabalhos, com See the Jaguar, The Immoralist e Vidas Amargas.

Depois lança-se noutros trabalhos onde projecta o seu talento e ao mesmo tempo exprime uma aspiração de vida e uma rebeldia que é contagiante às pessoas da sua geração. Dean chegou até a ordenhar vacas, coisa que alguns de nós também costumamos fazer, mesmo sem Porshe, cuidou de outros animais (nós também), pilotou tractores, criou um touro, destacou-se no basquete, fez ioga, tocou clarinete, no fundo encarnou o conceito de mundo e vida total. Queria fazer de tudo, experimentar tudo e sentir tudo. Provavelmente, se pudesse viver 100 anos não teria tempo suficiente para fazer tudo aquilo que queria.

Enquanto herói da mitologia aspira ao absoluto, mas não pode encontrar esse absoluto no amor de uma mulher. Dean terá vivido um amor infeliz com Pier Angeli. Junto à igreja, onde apanharia Angeli vestida de noiva, o barulho do motor da sua moto cobria o som dos sinos da igreja.

Mas há algo em James Dean que partilhamos hoje, e que tem a ver com a forma, por vezes patética, com que queremos viver apressadamente tudo. Usufruir de tudo inteiramente. De certo modo, o exemplo de Dean, ou melhor o seu destino é cada vez mais ofegante, preso a um ersatz que hoje, mais de meio século após a sua morte, ressalta a importância da velocidade com que vivemos.

Inquieto e impulsivo para uns, calmo para outros, ele caminha em direcção à morte quando se estampa a 160 Kil/h na flôr da vida. De certo modo, a sua morte significa que ele foi destruído pelas forças hostis do mundo, mas também que, nessa derrota, ele finalmente atinge o absoluto: a imortalidade. James Dean morre, e é aí que a sua vitória sobre a morte começa.
E o mais curioso é que a vida e o carácter heróicos de Dean não foram pré-fabricados pelo star system, como sucede a muitos actores actualmente. São bem reais, revelados, embora seja uma pena que estes heróis morram tão jovens. Provavelmente, se James Dean conduzisse um Tato Nano teria escapado e, desse modo, poderia ter vivido mais umas longas décadas que o acidente ceifou.
Mas o mais triste é reconhecer que James Dean não inovou em nada, apenas canonizou e sistematizou um conjunto de normas de vestuário que permitiu a uma classe de pessoas afirmar-se por intermédio da imitação do herói. As Jeans sebentas representava essa sua marca d' água. Quanto ao mais, Dean é o puro herói da adolescência, que exprime num mesmo gesto a sua necessidade de afirmação e a sua rebeldia - que se traduzem nos dois títulos que recebeu dos filmes: La fureur de la vie e Rebel whitout a cause.
E, de facto, foi esse o problema na vida de James Dean que viveu uma vida violenta, na qual uma fúria rebelde se confronta com uma vida sem causa.
Cafe del Mar: Afterlife - Breather (Arifhunda Mix)