sábado

Sócrates - um Homem com nervos d' aço em busca da 2ª maioria absoluta. António Costa, António Vitorino...

Depois de ser alvo duma tentativa de eliminação política - como nunca houve em Portugal (na escala, no timing e na intensidade) - Sócrates tem-se revelado um líder com ressonância positiva. Fala com autenticidade e sintonizado com a preocupação geral da sociedade (e, claro, do PS). Mas ao falar com aquela autenticidade sobre os seus próprios valores também dá eco às emoções de quem o rodeia, transmitindo a mensagem no tom certo, deixando as pessoas animadas e inspiradas num momento particularmente difícil. E quando um líder tem ressonância, isso lê-se imediatamente nos olhos das pessoas, que aparecem animadas e interessadas. Por efeito de contraste lembremo-nos das prestações melancólicas e medievais de Ferreira leite - para se perceber a diferença... O que faz de Sócrates um líder é a sua capacidade intelectual para apreender as especificidades das tarefas e dos desafios nacionais e o valor acrescentado que também revela para coligir um conjunto coerente e eficaz de propostas que integrem um Programa de Governo que coloque Portugal na rota do crescimento e do desenvolvimento. E com urgência, porque a recessão é um parasita tenebroso a quem importa não dar tréguas. Ou seja, Sócrates, hoje, mais do que nunca, terá de vestir a pele do negro Martin Luther King Jr.(ou de Obama), e conseguir mobilizar não apenas o partido - mas também a sociedade, nem que tenha de lhes dizer - que tem um "sonho". Mas que seja um sonho pressentido por todos e por cada um dos portugueses, sob pena do sonho descambar num pesadelo. Esse sonho mais não é do que, afinal, a grande metáfora e a meta-narrativa que nos permitirá aplacar os receios, eliminar as injustiças e desigualdades sociais e promover a esperança individual e colectiva. Caberá ao líder racionalizar esses valores, prioridades e estratégias, deles depende a expectativa e a confiança do próprio jogo económico onde se jogam investimento, trabalho, consumo, riqueza e bem-estar. Tudo coisas que não nascem debaixo das pedras, mas são emanações dum sonho. Sócrates tem até ao Verão para mostrar, de novo, que sabe sonhar (alto).Este Congresso será para aquecer os motores e configurar o sonho...
Já se percebeu que Sócrates é determinado e não desiste perante as dificuldades que hoje se colocam à economia e sociedade nacionais e que se agravaram significativamente com a recessão na economia mundial. Neste colete-de-forças Sócrates tem dois caminhos: ou é modesto e pede uma maioria simples; ou é ambicioso e reclama uma 2ª maioria absoluta a fim de dispôr de condições de governabilidade sólidas para aprovar medidas no Parlamento e fazer reformas na economia e na sociedade. Sócrates optou por pedir a maioria absoluta. Fez bem e até reflecte o esforço e o impulso reformista que imprimiu ao Governo nos primeiros anos do mandato que está em balanço.
Veremos como os indicadores socioeconómicos evoluem e o desemprego se comporta até ao Verão, embora aqui os vaticínios não sejam os melhores. Infelizmente, é assim em toda a Europa e nos EUA. A desgraça é global, a volatilidade das empresas e a forma como despedem e encerram a sua actividade é hoje o prato-do-dia. Este dado complica a governação e interfere com inúmeros problemas sociais com que é problemático lidar, simplesmente porque não existem nem respostas definitivas nem imediatas para tais problemas sociais e económicos. Hoje, além de complexos, os problemas arrastam-se no tempo, como se gozassem duma viscosidade nova.
Nesta óptica o peso da responsabilidade de que Sócrates fala poderá ser pesado, na medida em que os tais 150 mil postos de trabalho prometidos ficarão mais distantes por força da imposição da crise global que torna tudo mais difícil. Sem confiança não há investimentos nem geração de riqueza, e isto condiciona todos os indicadores económicos, especialmente os relacionados com o emprego e o consumo. Mas também aqui Sócrates andou bem - ao afirmar que não teme o julgamento democrático e que é o povo quem mais ordena, um slogan do pós-25 de Abril. Por momentos, foi o velho PS que deu um ar da sua graça ao PS da modernidade do séc. XXI. Sócrates recuperou (o capital simbólico) de Mário Soares e explicitou que o velho e o novo podem coabitar, até em matéria de velhos slogans de campanha e de mensagens políticas.
Neste quadro, hoje o PS é, seguramente, o único partido político que oferece um potencial elevado de credibilidade e de governação, seja pelos quadros que dispõe, pelo líder que conhece os dossiers seja ainda, quando se olha em redor para a fauna política da oposição, porque o PSD é hoje uma sombra do que foi; o cds é sempre aquele grupúsculo que funciona politicamente a "recibos-verdes" desejoso de integrar qualquer Governo (seja do PSD ou do PS, como históricamente sabemos); e depois temos dois partidos-radicais, anti-sistema: o PCP e o BE. Aquele demasiado centrado no operariado, o BE mais urbano e jovem pretende apelar e seduzir prometendo tudo a todos porque nunca terão o peso da responsabilização, além de que vive duma figura profundamente mediática, como é Louçã. No dia em que o BE mudar de líder o seu score eleitoral descerá para menos de metade da sede de apoio eleitoral de que hoje goza nas intenções de voto.
Esta perspectiva global mostra quão importante é hoje Sócrates em Portugal. Ele não é apenas o melhor líder para o PS, mas também o político no activo no País que melhor poderá oferecer uma proposta de governo para os próximos 4 anos. Sem radicalismos e sem as demagogias do BE, o oportunismo do PSD ou o sectarismo do PCP. No cds algo se poderá aproveitar...
Relativamente ao Freeport nem valerá a pena perder muito tempo com uma jogada que combina campanha negra da mediacracia (irredenta, sobretudo o Público após o chumbo da OPA à sonae), interesses neo-corporativos (da alta magistratura, vide fugas de informação e violação ao segredo de justiça), de alguns interesses obscuros de players isolados ou enquadrados partidáriamente.
E se tais condicionamentos fizeram estragos na pessoa do PM, o facto de Sócrates ter desmontado e reagido rapidamente tais motivações e o curso da investigação ter constituído dois arguídos - leva-nos a supôr que aquele homem acossado - que foi alvo de disparos cerrados que o tentaram eliminar políticamente - pode reverter a seu favor e, portanto, alguma vitimização não só é esperada como também politicamente racionalizada. No fundo, ele faz exactamente aquilo que cada um de nós faria em situações análogas: aquilo que não mata, só fortalece. Sócrates sabe-o, é natural que explore isso discursivamente. É o prémio e a compensação por ter estado duas ou três semanas sob intenso fogo cruzado que só visava uma coisa: assassiná-lo politicamente. Quando a política assume a lógica da calúnia é esperável alguma vitimização. É a subida aos extremos.
Agora o nó górdio da governação está preso ao facto de saber se o Investimento Público (IP) em grandes obras é aquele que mais e melhor tirará Portugal da crise em que mergulhou. I.é, saber se é esse IP que irá atenuar os problemas do desemprego e da falta de crescimento no País, que hoje nos prende à pobreza, à desigualdade afastando-nos dos indicadores de desenvolvimento social e humano dos países do pelotão da frente que integram a UE. Há hoje uma forte convicção, já que aqui nenhum economista de nomeada tem certezas, que o "complexo desenvolvimentista" constante das barragens, das escolas, das estradas e das energias alternativas integram um "pacote" de grandes investimentos que podem coadjuvar o take-of económico de que Portugal hoje precisa para o impulso de crescimento desejado.
Aliado a isto vem a prioridade do apoio às famílias e ao reforço da protecção social, o que pressupõe também um sistema tributário mais justo, de resto uma das ideias da moção de António Costa.
Eis algumas das ideias que retive do discurso lógico, racional e combativo de Sócrates, bem ao seu estilo, que irão criar o caldo de cultura para gerar um novo programa de governo a apresentar a eleições para os próximos 4 anos.
O que justifica, pela natureza das coisas, pelos resultados da governação deste 1º mandato e perspectivas que abre, e também (por contraste) pela pobreza política de toda a oposição, mormente para o PSd de Ferreira leite (uma verdadeira lástima) - que Sócrates tenha reclamado uma 2ª maioria absoluta para dar cabo da crise e pôr, de novo, Portugal na rota do crescimento, da modernidade e do desenvolvimento.
Três requisitos essenciais e viáveis se a 2ª maioria absoluta acontecer.
PS: Notei que Sócrates engordou, o que prova uma coisa e suscita outra: a crise e a tentativa de eliminação política não lhe tiraram o apetite, mas, por certo, roubaram-lhe tempo para regressar à prática do jogging.
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Vangelis - conquest of paradise

Adenda:

  • António Costa fez uma declaração em Espinho tão interessante quanto cirúrgica aproveitando a sua própria experiência política em Lisboa. Defendeu que o BE é um "partido-parasita" (não é novidade) cuja única finalidade é dividir o PS nunca aceitando as responsabilidades decorrentes da governação. Ou seja, à esquerda do PS não hà ninguém responsável, "com a direita nunca".

  • Assim, António Costa geometrizou a correlação de forças no espectro político-partidário no País - reclamando - em convergência com Sócrates - por uma 2ª maioria absoluta nas próximas eleições legislativas. Foi racional e lógico. De resto, em Lisboa o BE fez a sua purga quando o Vereador Sá Fernandes resolveu pensar pela sua própria cabeça no âmbito das políticas públicas municipais na capital. Imagine-se o que seria um BE com responsabilidades num qualquer Governo (de coligação) nacional. Seria de fugir...
  • No fundo, sob a capa de democrático o BE (juntamente com o PCP - dois partidos anti-sistema) ainda é um partido estalinista - que resolve com purgas aquilo que são divergências internas naturais.
    Partindo a espinha dorsal ao emergente BE - António Costa limita o crescimento do partido estalinista de Louçã, ajuda a estancar a sangria sociológica do PCP e, a breve prazo, cria o clima psicológico para estruturar uma aliança com o partido da Soeiro Pereira Gomes em Lisboa - no quadro das autárquicas.
    Se Jerónimo de Sousa - e o PCP - for minimamente inteligente é isso que pensará, é isso que fará... Foi também para eles que Costa falou.

Quanto a Manuel Alegre, essa prima-dona do PS, procura fazer-se notar pela ausência. Faz do bluff um método político e, se não for a Espinho, todos poderão afirmar que o poeta-deputado escolhe sempre as reuniões com o BE e a última fileira das cadeiras da AR onde tem assento para conspirar contra o seu próprio partido sem adiantar uma estratégia política credível que não seja fracturante para o PS. Em rigor, Alegre ao saber que "pode" fazer depender de si a diferença da maioria absoluta - chantageia permanentemente o seu próprio partido para obter dividendos políticos pessoais. Além de ser éticamente reprovável - a posição de Alegre é politicamente insustentável. Não deixa também de ser uma posição-política "parasita"..., embora tolerada democráticamente no PS.

Apareça ou não em Espinho, Alegre, ao invés do que defendem alguns analistas, nunca será a mola propulsora para determinar a conquista (ou perda) da maioiria absoluta do PS. Isso dependerá de como decorrerão os próximos meses até às legislativas e a forma como os indicadores socioeconómicos dos portugueses reagirem às políticas económicas e sociais do Governo (leia-se, desemprego e protecção social), e nunca da chantagem do poeta que lá por obter 1 milhão de votos nas últimas eleições presidenciais pensa (ingénuamente) que poderá linkar essa extrapolação no quadro das eleições legislativas. Tamanho erro...

Alegre quando não está a fazer poesia ou a caçar tordos, perdizes ou coelhos - anda sempre equivocado. Ele ainda não percebeu que apenas goza dum papel simbólico no PS, nada mais...

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  • PS Lumiar - Quem é quem no PS
  • Câmara Corporativa - Há dinheiro, prontos
  • Ferreira Leite pensa que a ausência de Sócrates na Cimeira Europeia, onde se vai discutir a crise mundial, para estar numa festa do Partido Socialista - é censurável...

    Provavelmente, se Sócrates fosse à Cimeira - criticá-lo-ía por desamparar o partido num Congresso tão importante - que visa preparar as eleições legislativas e mobilizar os eleitorados (no PS e na sociedade civil).

    Pensar hoje que tudo se decide na Europa é tão paroquial como pensar que tudo se decide domésticamente, embora haja que preparar o caminho interno para melhor saber o que pedir à Europa - designadamente em matéria de apoios ao combate à crise económica e social. É por estas debilidades de Ferreira Leite que aqui temos cunhado a senhora - não como líder dum partido de poder, mas como a "Chefe do economato" do partido da Lapa.

    Melhor fora que ela seguisse o exemplo de Sócrates e tentasse (ensaiar) uma mobilização semelhante à que o actual PM procurar fazer num momento de recessão económica que tem provocado inúmeros dramas sociais, com empresas a encerrar actividade diáriamente. Leite para esta "guerra" nenhum contributo tem dado, a não ser fazer os road-shows mesquinhos e oportunistas nas portarias dessas empresas e fazer discursos miserabilistas, pensando assim que arrebanha uns votinhos sabujos para a sua pobre causa.

    Está enganada, Roma não pagava a traidores e esse discurso e essa estratégia não paga a oportunistas nem a discursos miserabilistas.

António Vitorino foi igual a si próprio: assertivo, estruturado, abrangente, reflexivo e inteligente. Referiu que o PS não se deixa "escovar" pelo BE - que parece querer liderar a orientação global da esquerda em Portugal com aquela verborreia de Louçã, um trotskista que vestiu a pele de democrata, e assim engana meio mundo.

Por outro lado, António Vitorino fez bem em sublinhar uma outra verdade: este PS já fez mais pelo impulso às políticas da educação, da investigação e desenvolvimento - promovendo a coesão económica e social nos últimos 4 anos do que os demais partidos na última década.

No fundo, António Vitorino mostrou as defesas do "castelo", revelando que a iniciativa das Novas Fronteiras - é e pode continuar a ser - um pólo gerador de novas políticas públicas que fazem falta em Portugal.

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