O BPN, Cavaco e a regressão. O majestoso "exemplo" de João Rendeiro
Quase todos os dias da semana que finda altos responsáveis do BPN fizeram revelações acerca dos métodos e procedimentos fraudulentos que rotinavam a vida da instituição e que originou o buraco financeiro que conhecemos. Consabidamente, muitos desses responsáveis foram figuras de proa do cavaquismo, como Dias Loureiro e Oliveira e Costa, este já em prisão preventiva. E nenhuma relação tendo Cavaco com essas práticas fraudulentas - acaba, hoje, por se ver simbólicamente envolvido nessas teias, na medida em que foram os seus principais colaboradores que hoje estão nas bocas do mundo e a quem se imputa a responsabilidade por aquelas alegadas práticas fraudulentas - que obrigou o Estado à nacionalização, e bem, sob pena de se gerar o pânico em Portugal com todos os aforradores a levantarem as suas poupanças com receio de elas desaparacerem, como se verifica hoje com outro banco conduzido por João Rendeiro, o BPP. O mesmo que lançou um livro procurando demonstrar ou narrar a história de como venceu nos mercados, quando se soube, irónicamente, das alegadas práticas ilícitas cometidas com os contratos bancários dos seus clientes - que depositaram confiança na instituição. Ora, não tendo Cavaco nenhuma ligação formal ao escândalo do BPN - acaba simbólicamente por nele ser envolvido, e é essa relação psicológica - que deverá levar o PR a pensar na regressão, nem que seja para ajudar a explicar as neuroses e as psicoses e outras experiências dolorosas que ele deverá estar hoje a sentir. Na sua intimidade, Cavaco já deve ter pensado que mal fez a Deus para ser perseguido pela história desta maneira, i.é, pela porta baixa da política - cujo trilho manifestamente lhe enfraquece a capacidade crítica, a autoridade e o empurra sistemáticamente para um passado que, porventura, nem sequer desejará recordar. Ou seja, Cavaco - volvido o trauma do Estatuto dos Açores - deveria ter disponibilidade para se concentrar no futuro e ajudar o Governo a pensar em algumas medidas para combater a recessão. Mas quando isso começa a acontecer - a semana é farta em testemunhos rocambulescos do BPN que trazem à superfície as contabilidades criativas que encheram os bolsos a uma dúzia de homens ávaros que hoje impedem que Cavaco - na sua cadeirinha de Belém - se concentre verdadeiramente no futuro. Mesmo que Cavaco deseje projectar e planificar algum futuro, Dias Loureiro, Oliveira e Costa e tutti quanti irão sempre lembrar-lhe que não haverá futuro sem passado, e quem era o Chefe desse passado, pelos vistos constituído por "bons rapazes", é hoje o locatário do Palácio Rosa. Eis uma situação (política) regressiva, que em tempos Freud introduziu para explicar as neuroses e outras patologias, e que hoje ameaçam pairar constantemente sobre Belém, ainda que Belém se queira libertar desse passado. Nestas idades criar uma nova família, arranjar novos amigos - é algo problemático, além de que por mais que se faça futuro o sacana do passado é o que sempre foi: uma rocha inamovível e de contornos inalteráveis. PS: Ainda gostaria de ter oportunidade de conhecer pessoalmente João Rendeiro para o felicitar pelo seu imenso sentido de oportunidade...
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