quinta-feira

Mensagem do sr. PR. Um bom discurso para cerrar fileiras e escavacar a crise. Mas soube a pouco...

Confesso que apreciei a mensagem do sr. PR, apelando aos valores essenciais de entreajuda dos portugueses para debelar a crise e aumentar a confiança nos agentes sociais e económicos para por a economia a funcionar.
Uma atenção aos portugueses que auferem fracos rendimentos, aos jovens licenciados que não encontram um mercado de trabalho que os integre, aos pequenos comerciantes, aos agricultores que têm mais dificuldade na aquisição dos factores de produção e, assim, entram em desvantagem competitiva relativamente aos seus congéneres europeus. Cavaco tentou falar verdade dizendo aquilo que nós já sabemos, mas que não se altera com discursos, mas com mexida na legislação, na formação e qualificação dos portugueses e nos comportamentos sectoriais.
O nosso endividamento internacional não deixa grande espaço de manobra à economia nacional, após 8 anos de divergência com a pole position da Europa, e isto é preocupante, e só lá vai com mais educação, mais tecnologia e mais e melhores investimentos de qualidade. Aqui Cavaco poderia dar uma ajuda que não passasse apenas pela locução de discursos.
A escapatória para a crise só existe com mais trabalho, reforçando a capacidade competitiva das nossas empresas, valorizando as nossas exportações para fazer crescer os salários e o bem-estar das populações. Nada de novo.
Reduzir a dependência energética, utilizar com mais rigor os dinheiros públicos são as medidas de Cavaco para ajudar a debelar a crise.
Nesta conformidade foi um discurso previsível, normal, com realismo e bom senso. Mas sem garra nem visão. Cavaco chegou mesmo a dizer que não é com conflitos desnecessários que se resolvem os conflitos entre as pessoas, e aqui ainda pensei que fizesse um mea culpa por ter desencadeado o seu psicodrama a 31 de Julho de 2008 a propósito do Estatuto dos Açores indo para a TV fazer espectáculo de novela sul-americano, mas não foi necessário esse reconhecimento porque os portugueses mais atentos fizeram-no por ele.
Em suma: Cavaco está de parabéns pela sua mensagem de Ano Novo aos portugueses, não se deixou resignar e apelou à resistência, ao trabalho, à coesão e à entreajuda dos portugueses. Era o esperado em momentos de crise.
Cavaco já discursou, disse também que tem andado pelo País a ouvir as pessoas, doravante, diria, que falta ao Governo e aos portugueses começarem a trabalhar para eliminar as nossas debilidades estruturais num ano que será seguramente difícil.
Por último, diria que apesar de reconhecer o realismo da mensagem do sr. PR é também em tempos de excepção que são necessárias fórmulas, ideias e propostas concretas que era suposto o PR ter arriscado ao país, até para dar o exemplo aos agentes económicos que carecem de uma motivação empreendedora. Mas Cavaco, por mais que se esforce, não consegue sair do seu registo de normalidade, de previsibilidade - que em momentos de excepção pouco dizem às populações e nada dizem às elites.
Ora, é esta crónica normalidade de Belém que me preocupa. Em momentos de crise as palavras normais são como pranchas de surf num mar sem ondas. Fica-nos sempre a sensação que algo ficou por pensar, dizer e fazer.
Fazer a ronda pelo País, ouvir as reclamações do povo e fazer turismo no exterior pode ser interessante para passear a comitiva e levar os assessores ao estrangeiro, mas não resolve os bloqueios que o país enfrenta.
Mais uma vez Cavaco foi igual a Cavaco na rotina dos discursos que pautam sistemáticamente a sua normalidade.
Ou seja, do sr. PR não se deve esperar nunca aquilo que ele não pode dar: um traço de genialidade com visão, liderança e projecto que aponte um caminho para desafogar o País e que desperte uma onda de esperança nos portugueses.
Assim sendo, Sócrates (e os portugueses) terão um trabalho redobrado em 2009.
Hino Nacional Português

Sergio Godinho - Com Um Brilhozinho Nos Olhos ("soube-me a pouco")