quarta-feira

Ferreira leite é um caso de clínica-política

Freud e Jacques Lacan. Revendo o legado de ambos percebe-se que a linguagem utilizada por Ferreira leite e o seu subconsciente são aspectos íntimos do mesmo deserto de ideias. As variáveis que interessam decorrem do modo como a sociedade produz o seu Real, o seu Simbólico e o seu Imaginário (RSI) - e de como se referenciam perante a história e perante o futuro, como estabelece a sua identidade e, por outro lado, o modo como a sociedade organiza o quadro de valores e o sistema de instituições responsáveis pela concretização desses valores - que sedimentam o seu nível simbólico. Ora tudo isto se resolve, e de forma pioneira como ontem ficámos a saber, com um semestre de congelamento da democracia. Mande-se vir a Ditadura - "para pôr tudo na ordem..." Até dá vontade de dizer:
CHAMEM A POLÍCIA..., QUE EU NÃO PAGO...
Todos nós já dissémos coisas de que nos arrependemos, seja na esfera privada seja na esfera pública. Errar é humano, cometer dislates graves sempre que se fala já começa a ser sobre-humano. Ferreira Leite é hoje uma espécie de Super-Mulher do disparate. O que talvez justifique o silêncio pretérito de Ferreira leite - a fim, precisamente, de prevenir o erro e esconder alguma ignorância consentida típica de um período de graça. E aqui nada de pessoal nos move contra a srª Leite que, em rigor, e de forma manifesta não tem a mínima vocação para a política. Aquela sua formulação, ainda que se deva contextualizar, não deixa de ser grave. Tentaremos aqui ver porquê.
Dos vários dislates da srª Leite (contra o salário mínimo, contra as medidas de emprego porque apenas beneficiam o emprego desqualificado de cabo-verdeanos e de ucranianos, omissa na questão da greve dos camionistas, alinhamento oportunista com os sindicalistas na "cegada" da educação, pedir a cabeça de Rui Pereira aquando da onda de violência que varreu o País no Verão passado, etc) aquilo que mais aflorou foi a instância do seu EU, ou seja, um EU que destilava desconhecimento, ilusão, alienação, oportunismo.
À medida que o tempo foi passando os portugueses foram-se dando conta que aquele seu silêncio nada tinha de tático nem de estratégico, mas servia para ocultar um total desconhecimento da gestão da coisa pública, dissimular a sua insegurança na articulação das matérias, e aquilo que hoje se confirma é que Ferreira leite o fazia com pleno narcisismo. E, já agora, má fé revelando uma visão e uma dimensão mesquinha da política. Qual seria a pessoa que, no pleno exercício das suas capacidades mentais, e liderando o maior partido da oposição em Portugal, diria que tendo boas ideias e projectos políticos para Portugal - não os partilharia porque o partido do governo se poderia apoderar deles?! Ninguém, a não ser que a pessoa seja destituída políticamente.
Se Leite tiver uma boa ideia e a torne pública e a mesma for adoptada ou integrada numa política sectorial do Governo socialista em funções - aos olhos do povo aquela ideia será sempre uma emanação do autor da ideia e não de quem a executou. Seria um crédito dela e não do governo. Mas a limitação intelectual da srª Ferreira leite é tanta e tamanha que não consegue compreender esta coisa comesinha. É grave e lamentável.
O que nos leva a supôr que Leite entrou, certamente pela tal falta de vocação para a política e pela ignorância temática que cobre cada uma das áreas da governação, num registo Imaginário delirante - que aparece nas suas intervenções públicas mitigado com sentimentos de agressividade, ódio, impotência, confusionismo e mistificação com simbolos e identificações duais que agravam ainda mais a sua forma mentis. Cada conferência de Ferreira Leite é uma fuga para a frente, cada cavadela uma minhoca.
E assim a srª Leite vai fazendo política - envergonhando-se a si, embaraçando Belém (e Cavaco em particular) e frustrando todas as residuais expectativas que as bases do psd ainda tinham na senhora.
Traduzindo: quer e não o investimento público, quer e não quer aumento do salário mínimo, quer e não quer imigração, e, agora, como se vê - de forma lamentavemente original - quer e não quer a democracia - que julga melhor servida se a dita for congelada por 6 meses - que é o tempo que leite acha adequado para meter "tudo na ordem". Só faltou dizer: regressa Salazar, estás perdoado...
Isto revela os sentimentos duais de Ferreira leite, denuncia a sua duplicidade política em relação aos projectos para Portugal, é como se a sua personalidade sofresse uma divisão constante que a empurrasse simultaneamente para a planície e para o abismo. Em rigor, estamos diante uma mulher prisioneira de si.
Depois, se notarmos atentamente na sua face quando repetiu a expressão supra (inclusa na imagem), verificamos que uma boa parte do "EU" de Ferreira leite acredita piamente que o País só teria a ganhar se, por momentos, fosse possível governar Portugal com uma ditadura, seguindo o método que enunciou: quero, posso e mando.
Ora, todo este quadro clínico do dislate configura, naturalmente, um estudo de psicanálise. De resto, creio, será esse o seu contributo para a vida pública nacional: constituir-se em objecto de estudo para que psicanalistas do poder possam observar, estudar, investigar condutas atípicas do mundo da política, e aqui - também cairá essa outra personalidade perturbante - a que os experts designam por personalidade border-line - como é Alberto João Jardim da Madeira.
Porquê? A acção (leia-se, a estrutura da linguagem que Lacan diz estar intimamente ligada ao subconsciente, e nem poderia ser doutro modo!!!) - completamente disfuncionada de Ferreira leite - inscreve-se, desde logo, na sua fala, onde o inconsciente se manifesta de forma estrondosa, mediante actos falhados - que ela depois procura corrigir conforme pode e sabe. Só que hoje a sua fala foi grave de mais. De tal modo que no fim da conferência percebeu que se justificasse aquelas declarações ainda agravaria mais o ambiente político gerado, razão por que deixou essa tarefa ao "songa-monga" de serviço.
Portanto, temos em Ferreira Leite um conjunto de actos falhados, esquecimentos, imprecisões, dislates aliado a um relato de outras disfunções que Lacan designa de formações do inconsciente - o qual é definido pela linguagem utilizada.
Entre o Real, o Simbólico e o Imaginário (RSI) Ferreira leite quer sempre ir nas três direcções e na sua antítese, ora isto em política é tão impossível quanto fatal. É assim a Manuela entrou em espiral consigo própria, querendo uma coisa e o seu contrário, e, hoje, de forma pioneira em Portugal, desejou democracia e ditadura de forma mitigada e ambivalente - para resolver problemas políticos concretos do País. Uma vez mais a estrutura do seu raciocínio e da sua (modesta) linguagem - traíu-a de forma estrondosa.
Caso o País tivesse esta senhora no Poder - a tomar decisões - haveria, automáticamente, um conjunto múltiplo de efeitos desastrosos em cadeia no próprio sistema de poder: crise estratégica, crise de orientação, crise de representatividade, crise de endividamento, enfim, haveria uma regressão competitiva em todos os sectores da economia e da sociedade que comprometia a viabilidade de tudo o que mexesse. Até as folhas das árvores deixariam de ser animadas pelo vento, que também congelava - tal como a democracia...
A dimensão do Real para lFerreira Leite redunda no improdutivo, na estagnação, na inércia: não fazer investimentos públicos, esperar que a crise passe, não tomar medidas de estímulo ao emprego porque não há dinheiro e porque esse emprego só beneficia os cabo-verdeanos e os ucranianos, não nacionalizar o BPN, etc, etc, etc.. Este é o modelo político paralítico de Ferreira leite para Portugal: wait & see - esperar que a crise passe, com sorte não entramos em recessão, e assim lá nos salvamos daquilo que hoje cilindra económica e socialmente toda a Europa.
Temos aqui defendido que o discurso da srª Ferreira leite não goza de qualquer credibilidade e sustentabilidade política, ele é hoje tema de gozo e anedota, e é preciso reconhecer isto e saber sair a tempo da arena política e dar o lugar a outras pessoas mais jovens e mais qualificadas, sob pena de uma srª já de idade considerável passar por vergonhas completamente despropositadas.
Hoje foi sintomático uma pessoa do PSD me referir que as duas piores coisas que lhe aconteceram na vida foi um acidente e esta liderança no partido. Confesso que este testemunho me intrigou - ainda mais do que os habituais dislates da srª Ferreira leite a que Portugal se habituou e, por isso, já não estranha.
Se o Real em Ferreira leite representa uma insustentável leveza do ser, é melhor não procurarmos antever no que consiste a sua dimensão Simbólica e Imaginária - cuja estrutura da linguagem utilizada já nos permite, in advance, perceber as constelações que vão naquela cabeça. Uma cabeça cuja estrutura mental é povoada de ups & downs, de vontades e desejos contraditórios - que seriam fatais para uma sociedade caso esta srª um dia fosse governante em Portugal.
Numa palavra: estudar o comportamento político de Ferreira Leite no decurso destes breves meses em que se encontra à frente do PSD - não é tanto uma tarefa para politólogos, sociólogos, historiadores ou juristas, mas mais uma retorno aos inúmeros actos falhados explicados há um século por Sigmund Freud - depois retomados por Jacques Lacan e por todo um conjunto de confusões, desordens, perturbações, transtornos e distúrbios que denunciam mais o sintoma duma doença de todo um corpo político (o PSD), do que própriamente a doença de uma pessoa isolada que, em rigor, nenhuma relação tem com o mundo politico.
Afinal, quem viabilizou a eleição (sofrível) da srª Ferreira Leite no Congresso de Guimarães?!
O PSD, evidentemente!!!
E quando ontem Ferreira Leite se referia à "hipotética e desejável" suspensão da democracia por 6 meses - pergunto-me se seria esse o tempo de que ela necessitaria para arrumar a casa, constituir uma equipa de governo-sombra para governar em 2020 e, de caminho, tratar de despachar Santana Lopes no quadro das eleições autárquicas de 2008 - que tanta contradição e paralisia lhe têm gerado.
Entre Setúbal e a Figueira-da-Foz - há sempre a possibilidade de Freixo de Espada à Cinta no Distrito de Bragança...
PS: Reflexão dedicada ao fecundo tributo de Freud e aos ensinamentos de Jacques Lacan.