segunda-feira

Breves sobre as Notas Soltas de António Vitorino -

Uma crença profunda na democracia e no estado de direito, levou hoje António Vitorino (AV) a desdramatizar alguns casos mais preocupantes que parecem emperrar o funcionamento normal das instituições e, por extensão, do País - que já se sente cercado pelas disfunções dos caprichos do sistema financeiro e da estabilidade dos mercados, de que depende a funcionalização de toda a economia.
Das diferentes versões entre Dias Loureiro e A.Marta do BdP a contradita será, doravante, esclarecida em sede de Comissão de Inquérito na AR, iniciativa desencadeada pelo cds a que se associou o psd e, agora, também o ps - que já o devia ter feito.
Embora, o nó górgio, como sublinhou AV, reside no tal banco insular e no banco virtual - que exigiam uma contabilidade criativa completamente paralela à praticada pelo BPN, razão por que a supervisão do BdP e os auditores - nada detectaram, nem poderiam. Daqui resulta, para desconforto de Paulo Portas, que reclamou a cabeça de Constâncio numa bandeja na AR, um reforço da posição do Governador do BdP, Vitor Constâncio que, de resto, até se compreende. O polícia jamais poderá ver todos os furtos ocorridos na quinta.
O resto será com os tribunais, embora a componente política deste processo seja densa e espessa, por razões óbvias que se prendem à identidade dos fundadores e administradores do bpn.
Mas a previsão de António Vitorino, ainda que contra a posição oficial do grupo parlamentar do PS, a semana passada, foi a de que Dias Loureiro deveria ser ouvido na AR. O PS, então, opôs-se, entretanto DL foi à RTP e deu a cara. No fundo, funcionou a democracia dos media - que agora é continuada pela democracia formal na AR.
Não sei se foi a isto de Roger-Gerard Schwartzenberg designou no seu livro - Sociedade do Espéctaculo, o que importa é que se apure a verdade e o povo não sinta que lhe estejam a soprar areia para os olhos. Nesse sentido, foi até útil DL ter-se exposto diante do país através da caixa negra, e, agora, até já o PS o reclama no Parlamento. Portanto, a realidade é dinâmica - e António Vitorino tem "hélices na cabeça", porque antecipou com precisão o que iria ser o futuro quando analisou a questão a semana passada.
Vitorino - compreendeu ainda a posição (delicada) de Cavaco, que ao tomar uma atitude pública sobre DL estaria, automáticamente, a fazer um juízo de valor e, também lançou créditos na função do PGR, Pinto Monteiro - jurista da escola clássica capaz de ter o quantum necessário para a tarefa que o caso exige. Um caso que navegará entre peritagens complexas a fim de perceber que mecanismos estiveram envolvidos nas acções fraudulentas e quem foram os seus beneficiários. Ou seja, para onde e como voaram os milhões que hoje deveriam estar no BPN ao serviço da economia real e dos seus clientes. E eu até conheço alguns...
Quanto ao PSD - está em guerra civil permanente. É, digamos, um continente perdido. Meneses, Passos Coelho e marcelo são os "snipers" de serviço (digo eu), fazendo com que a srª Ferreira leite esteja entalada entre eléctricos que já a começaram a pressionar, situação que se agrava com a sua congénita falta de prudência.
Mas o mais relevante para o país é a economia - que está dependente do tal Plano de Relançamento da economia europeia para inverter o sentido da recessão que já grassa em alguns países da UE. E é aqui que urge actuar para incentivar os fundos europeus e estimular a boa aplicação dos fundos nacionais, de preferência em projectos infra-estruturantes que mexam com a economia real rompendo, desse modo, o ciclo de estagnação em que a Europa se encontra.
E aqui, como referiu AV, até valerá a pena saber se vale (ou não) a pena violar o tecto dos 3% do Pacto de Estabilidade em prol da política económica anticiclica que hoje todos precisamos.
Nesta ordem, a magna quaestio dos investimentos públicos não deve só fazer-se à srª Ferreira leite, mas também a Marcelo, a Meneses e a Passos Coelho, pois de entre eles nunca se sabe quem, de facto, é que terá de responder pelo PSD em matéria de concordância (ou não) com a política de investimentos públicos em Portugal. Da srª leite já sabemos qual seria a receita: suspensão da democracia por um semestre...
E é isto que pode também fazer a grande diferença entre perpetuar a estagnação e a recessão económica e a escapatória para sair dela e fazer o take-of da economia europeia no seu conjunto.
Questões a que nem Dias Loureiro nem A. Marta, nem sequer Constâncio sabem (ou podem) responder...
Em rigor, acho que nem Deus sabe, a avaliar pela sua constante ausência em todo este debate.
Mas talvez não fosse má ideia supôr que Deus, neste particular, fosse português.
Devolva-se a questão a António Vitorino.