Dias Loureiro só deve demitir-se do Conselho de Estado se for arguido, defende Marcelo
Marcelo Rebelo de Sousa defendeu, este domingo, que Dias Loureiro só deverá demitir-se do Conselho de Estado se for constituído arguido no caso BPN. O ex-líder do PSD disse ainda que a polémica em torno do banco pode estar a incomodar o Presidente da República, mas não politicamente.
in TSF:
Obs: Quando a 31 de Julho os portugueses estavam a partir para férias o sr. PR convocou uma comunicação ao país para falar do Estatuto dos Açores, surpreendendo tudo e todos (na forma e na substância). O que se impunha, então, seria enviar o doc. ao TC a fim de que este mandasse o PS-açoriano expurgar as medidas insconstitucionais de que o diploma enfermava.
Ontem, e aparte a imagem impoluta que Cavaco Silva sempre deu ao país, esse mesmo país-real esperava que o PR se pronunciasse politicamente sobre o caso BPN e, dentro deste, a posição relativa a Dias Loureiro - que até teve a coragem (e o privilégio) de ir à RTP (paga com os nossos impostos) dizer de sua justiça e, de alguma forma, demarcar-se dos actos de gestão danosa que a administração presidida pelo então presidente, Oliveira e Costa - foi autora.
Vamos por partes: creio que Marcelo tem razão quando defende que Dias Loureiro na questão do BPN, tanto mais que não é arguido, e não é só pelo facto de ser amigo pessoal de Oliveira e Costa que deve ser preso, exonerado do Conselho de Estado ou até passar à sua condição de pobrezinho, ao tempo em que veio de Coimbra (onde era advogado, e poeta..) para integrar o 1º Governo do prof. Cavaco Silva.
Se todos os amigos de pessoas acusadas de ilícitos e detidas em regime de prisão preventiva fossem também acusados ou destituídos das funções que exercem - como parece defender o Torquemata - Louçã do BE (um partido anti-sistema) - Portugal inteiro seria deposto num ápice, porque directa ou indirectamente todos e cada um de nós conhecemos um pequeno caso com algum amigo nosso. Nem que seja, sob acusação de esbulhar uma pastilha elástica no supermercado do engº Belmiro ou uma compota de maçã numa farmácia de província - que era mais a especialidade da turma do tempo de liceu dos idos 70. E, segundo recordo, éramos todos mais felizes à época... Mas uma coisa são as pastilhas e as compotas da adolescência - outra bem diferente é brincar aos bancos - com os depósitos dos clientes - hoje garantidos pelos fundos soberanos - na sequência, e bem, da nacionalização do BPN pelo Estado.
Por outro, Cavaco Silva não pode a "alhos responder com bugalhos". Explicito: estava em causa o seu apoio e confiança política em Dias Loureiro - por força das suas declarações a António Marta, então supervisor bancário do BdP. Ficaria bem a Cavaco fazer duas cosinhas: segurar o seu Conselheiro de Estado - mostrando públicamente confiança nele, que era até uma forma de potenciar a transparência de procedimentos no futuro inquérito que irá decorrer em sede de AR - desencadeado pelo CDS - a que o PSD - se associou. E, num segundo momento, dizer o que pensa do BPN - enquanto instituição financeira, nem que fosse para elogiar a nacionalização pelo Estado, o que só aumenta o garantismo nos clientes do banco e tranquiliza o mercado.
Ora, face a isto, o que fez Cavaco?!
Foi falar do seu regime de poupanças. Disse que nada deve à banca, que trabalha com 4 bancos, etc, etc.. Ficámos todos a saber que cavaco é um cliente zeloso, e nada deve aos bancos. Ainda pensei que também dissesse quantos cartões de crédito tem e se acha o seu cartão-multibanco carote... Já agora, será que Cavaco paga comissões nas transferências interbancárias, ou goza de algum privilégio por ser um cliente sem empréstimos contraídos...
Ou seja, os portugueses esperavam de Sua Exª o PR uma declaração política sobre a idoneidade de um seu Conselheiro de Estado, que foi seu ministro e amigo pessoal de há décadas, e aquilo que veio dizer ao país - foi alinhar umas notas sobre o seu plano de poupanças e reformas. "Brilhante".
Cavaco - a alhos respondeu com bugalhos, além de que - por omissão - também desampara o seu amigo e conselheiro Dias Loureiro - que, naturalmente, se deve também ter sentido desprotegido e desconfortável nas declarações administrativas de Belém face a tão delicada matéria. Mas Cavaco é assim: pode apoiar em privado, mas públicamente descarta-se sempre. Era também este o seu procedimento político quando desempenhou as funções de PM. Quando as coisas aqueciam, mandava-se sempre um ministro de serviço para salvar a situação e apagar o fogo.
Amanhã esperemos que Cavaco ao receber um qualquer Chefe de Estado ou outro alto representante de uma potência estrangeira no âmbito da representação política do Estado - não adopte igual critério de "a alhos responder com bugalhos", sob pena do embaraço ainda ser maior.
Aqui há uns anos, um alto titular do poder em Portugal diante da rainha do Reino Unido - enganou-se e em vez de dizer God save the Queen, disse - God shave the Queen.
Ontem, Cavaco veio a terreiro para falar do seu plano de poupanças e reforma.
Não deixa de ser quase uma anedota política, atentas as circunstâncias em que o caso BPN a todos suscita.
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