quinta-feira

Da criação de valor na rede das redes: à boa blogosfera

Nota prévia: Esta pequena reflexão não visa o pretexto mas o texto, não busca o acessório mas o essencial, i.é, a "verdade" das coisas - seja lá o que ela for em cada momento, em cada conjuntura. Por isso, não irei olhar para a esquina da rua, tentarei vislumbrar o horizonte e o zenite. E o cidadão conectado representa um elo na rede global da discussão das informações e notícias que carecem de leituras e interpretações com base nas próprias sensibilidades, formações e interesses de cada um. Além do vazio e da "má moeda" de alguma blogosfera - esta reflexão é, essencialmente, dirigida à boa moeda da blogosfera, a que me interesa alimentar e, se possível, ajudar a dinamizar. É dela que reza a história, é com ela que os media tradicionais e a sociedade no seu conjunto podem participar e organizar melhor o processo global de produção de informação, montando esse puzzle que representa (a avaliação e desconstrução) de cada problema que se nos depara - doméstico ou transnacional - gerindo melhor o diálogo com os outros indivíduos no risoma.
Para além da narrativa da vida animal, que me parece datada no tempo e no espaço, escolhi algo mais humano, criativo, fundacional, divino. Algo que - como as árvores - possam crescer e dar frutos.
Por um prego, perdeu-se a ferradura;
Por uma ferradura, perdeu-se o cavalo;
Por um cavalo, perdeu-se o cavaleiro;
Por um cavaleiro, perdeu-se a batalha;
Por uma batalha, perdeu-se o reino!
Recordo-me de ter recentemente feito uma pequena reflexão sobre a blogosfera. Foi até na sequência de ter recebido um dardo do blogue Absorto. E apesar de a considerar ainda um "lugar-do-vazio" (a "alguma" dela, naturalmente - não vamos generalizar nem quantificar, como o gurú Pacheco!!!), em que a desonestidade intelectual e a conflitualidade estéril prolifera, também a vejo como uma ferramenta madura, rápida na promoção e divulgação de conteúdos e interacção entre cibernautas e entre estes e sociedade em geral, obrigando até a rever a relação clássica e os velhos fundamentos entre a famosa mediacracia e a mediasfera emergente. Ou seja, o jornalismo clássico, e os jornalistas - deixaram de poder ignorar este novo pólo dinamizador de teorias, análises configurando-se como um produtor de conhecimento partilhado na rede em tempo real. E isto é mais um activo do que um passivo na vida colectiva.

É óbvio que para mim o saldo entre a "má moeda e a boa moeda" no ciber-espaço se salda com vantagem desta, todos fazemos essa triagem automáticamente. E em inúmeros casos é a própria blogosfera que constroi ou desencadeia discussões e pontos focais que depois são retomados pelos media. Nuns casos em interacção, noutros em contraposição, noutros ainda em cooperação estratégica, para retomar a terminologia do Palácio Rosa. Depende da boa vontade de les uns et les autres, como em tudo na vida. E, acima de tudo, do tempo disponível para o efeito. Até para aumentar a taxa de natalidade é preciso tempo. Por isso, é até muito saudável que bons jornalistas sejam também autores de bons blogues, e aqui todos ganhamos, naturalmente. O todo é superior à soma das partes.

Recordo-me também de ter criticado algum jornalismo e algumas manchetes (na companhia doutros blogers, creio), não apreciei, - como cidadão - uma expressão infeliz proferida pelo Edil da capital, - reportando-se a um blog que após ter cometido um erro de avaliação acerca de uns azuleijos do metro - pediu desculpas formais à sua autora, mas essa é uma das desvantagens dos directos e das generalizações apressadas. Talvez hoje não o diria.

Quando se generaliza e mete tudo no mesmo saco radicaliza-se o discurso, limita-se o espaço de acção. Mas cada um de nós tem, deve ter, uma noção do seu valor relativo na sociedade que integra. É assim nas artes, no pensamento, na economia, na política, na astronomia e noutras ciências ocultas. Portanto, não é por entrar num café de gangsters que também passo a sacar da pistola e me aproprio de um código de valores e comportamentos que não é o meu; não é por apertar a mão a um advogado (cuja classe é, por regra, mal conotada) - que passo a ser cunhado como "vigarista-encartado". Cada homem é uma ilha, e só se vitimiza ou dramatiza essa vitimização quem, por razões intelectuais, ideológicas ou outras procura esse sistema intelectual de justificação, porque é ele que, em rigor, dá cobertura (com o altruismo e a utopia típico duma geração) a um argumento (ou argumentário). Sem ele, tudo se esvai e esboroa como um castelo de cartas. Portanto, temos de nos agarrar a esse pretexto, sem ele caimos. Ora, é aqui que o pretexto-passa-a-texto, o que é um erro.

Portanto, aqui a dramatização é um ingrediente essencial da argumentação. Mas além deste excesso de dramatização, que creio existir, há uma outra coisa que deveríamos dispensar: o complexo de inferioridade (agregado aquela dramatização) que, manifestamente, existe em alguns de nós (blogers), e não é por alguém tocar numa campainha que vamos logo chamar os bombeiros. Falta, portanto, a meu ver, um senso de proporcionalidade na relação com a sociedade. E a blogosfera em Portugal, talvez tocada ainda pela má moeda, ainda é vista como algo obscuro, tenebroso, local de ajuste de contas primário - algo que suscita alguma desconfiança. Tenho verificado isso, confesso. Isso é visível em inúmeras caixas de comentários, que denunciam arrotos e indigestões e também nos links numa certa república de citações feita por alguma blogosfera. E porquê...

Porque o tempo de reflexão que deveria preceder um comentário não é feito, e, como tal, sai asneira. Uma asneira que pode ofender, melindrar, inibir curto-cicuitando algo que pode estar em curso e é, abruptamente, interrompido.

Até já fui abalrroado dum blogue conhecido - que ajudei a teorizar - sendo até o 1º a reconhecer nele um serviço público em Portugal - só porque tivémos, a dado momento, leituras diferentes relativamente a certos factos, pessoas, ideias. É óbvio que não vou citar essa pessoa poupando-o da vergonha do seu gesto mesquinho que teria de passar. Aqui impõe-se alguma ética, como na vida privada e nos negócios - que a todos deve reger.

Depois vem a putativa "Regulação" - que para mim não é sinónimo de intervenção estatal ou para-estatal, muito menos "controleirismo" ou qualquer outra forma directa ou súbtil de manipular aquilo que jamais poderá sê-lo, pela natureza das coisas na rede das redes. Era só o que faltava. No dia em que isso acontecesse - fecharia o estaminé, ou então seria o Macro o primeiro a arrasá-lo pela força dos argumentos, nunca pelos argumentos de força.

O risoma é completamente indisciplinado, d´accord. Mas também aqui os políticos, os empresários (já) aprenderam uma lição, posto que algum do seu prestígio e autoridade deixou de emanar das hierarquias tradicionais e/ou centralizadas de tipo top-down - para se passar a alimentar não do "submundo" mas de um "sobre-mundo": o tal que é decente, cita a fonte donde bebeu, não injuria nem calunia, não esconde nem oculta ou dissimula, não plagia, consegue valorizar (ainda que criticamente uma ideia ou ponto de vista) enfim, trás valor-acrescentado para a rede das redes. E até ajuda os próprios políticos a ganhar eleições, ou a perdê-las, consoante a perspectiva política donde analisemos os players.

Portanto, sublinho aqui uma nota que acho oportuna: os politicos não podem (não devem) só achar graça ou reconhecer interesse à blogosfera em véspera de eleições. Veja-se o que se passa nos EUA e a influência que a blogosfera tem tido na discussão política, até o próprio Paul Krugman, actual Nóbel da economia, alimenta um blog. Mas não nos podemos esquecer que o blog - é apenas e tão só a plataforma de comunicação, no resto somos homens livres, com ideias diferentes, comuns, iguais, consensuais, controversas...

Portanto, quero crer que a realidade que hoje liga sociedade de carne e osso e ciber-espaço é mais complexa do que vê-la black & white, num joguinho simplificado de soma-zero, de bem e mal, de pólo positivo e negativo, desculpas e absolvições, crimes e castigos. Esse mundinho previsível terminou com a Guerra Fria - visto à lupa por Raymond Aron - no Paz e guerra..., que foi o cronista da conjuntura. O mundo é actualmente mais complexo e, por isso, matizado, não encontra respostas nessas simples dicotomias. Do tipo: ai chamaste "sub-mundo" à blogosfera - então terás d´ir pedir desculpas, e em horário nobre prime/time para todos verem e ouvirem; se isto fosse assim, os coretos das praças de Portugal estariam repletos de bloggers a penitenciarem-se de joelhos pelas suas narrativas, fotomontagens e mais uma catadupa de maldades que já todos nós, por certo, cometemos relativamente à classe do poder (e até mesmo entre nós). À presente, à pretérita e à que virá. É da ordem das coisas. Quem nunca a tirou uma pedra... Coitada de srª Ferreira Leite, só nos últimas dias já foi saco de boxe para tanta gente.

Qual de nós não tem dentro de si um José Vilhena?! - que atire a 1ª pedra... Infelizmente, nem todos com o seu talento.

Além de que a expressão "submundo" (infeliz, como referi no meu texto inicial) remonta mais à época-industrial, pouco relevante para enquadrar o potencial explicativo e as mudanças sociais e tecnológicas operadas nas sociedades ditas post-materialistas do nosso tempo. Consequentemente, a expressão submundo (vou mesmo mais longe..) até foi duplamente infeliz - porque generalizou (metendo todos no mesmo saco), logo não tem o ADN deste tempo emergente, assente no capital-conhecimento-intensivo, como diria o nosso amigo Peter Drucker - que aos 90 e tal anos ainda comia Pizza com gosto. Um tempo, como diria alguém, que é hoje de emergências descontinuadas.

Mas.., há sempre um but... eu não me senti visado por aquela cobertura, foi um "chapéu" que não enfiei. Nem o próprio Vasco Santana o enfiaria, creio. A não ser que estivesse a rodar uma peça na Lisboa antiga. Pois a representação exige sempre dramatização. É o que fazemos na própria vida, que é um imenso palco. Ele saberia logo dizer: chapéus hà muitos ó...

E porquê? É simples: eu não saco da pistola dentro do tal bar de gangsters. Mas sou capaz de beber uma cerveja. Ou seja, tenho o meu próprio código de comportamento, como qualquer um de nós. É óbvio que não devemos ser ingénuos. Max Weber, por exemplo, ensinou-nos que mais importante do que identificar os rastos neo-informáticos (como se aqui alguém andasse fugido à Interpol), sabe que a neutralidade pura é uma miragem, a objectividade perfeita uma ilusão, o rigor absoluto uma mentira.

Portanto, todos nós, mais ou menos, directa ou indirectamente, tomamos partido na polis, gostamos mais de um político em detrimento doutro, apoiamos mais uma policie em desfavor doutra, and so on. É a vida. Uns gostam mais de morenas, outros de loiras, outros ainda de loiras e morenas, e se forem talentosas e inteligentes melhor ainda. E eu, como qualquer mortal - não escapo a essa lei inexorável do tempo que um dia nos haverá de matar.

Foi o edil a proferir a expressão (infeliz, repito pela cagagésima vez), se fosse o Zé Maria Quinquinhas Fonseca Benevites - ninguém lhe prestaria atenção, nem um post it amarelo lhe seria dedicado, o que configuraria uma grande injustiça para o Quinquinhas Fonseca Benevites - que estaria, ainda hoje - À espera de Godot...

Regulação.., isso come-se ou é mais um cabo de fibra-óptica!!! A ideia não é própriamente empossar o Manel Maria Carrilho, por exemplo, a presidir a uma nova Entidade Reguladora da Blogosfera Lusa (ERBL) e a Bárbara como sua assessora para os casos mais delicados. Seria bonito!!! Creio que ele hoje quer mais Paris, a cidade das luzes...

Então, no que consiste (a meu ver) essa tal Regulação (liberal, mas com responsabilidades sociais)?! - para responder a LNT - autor do blogue a Barbearia do Senhor Luís - que teve a amabilidade de aqui pensar em conjunto com a "boa moeda da blogosfera", e em prol dum ciber-espaço mais decente, mais exigente, enfim, melhor - do qual também faz parte.

Para mim o conceito não poderia ser mais simples: alcança-se mediante o exercício recorrente à dialéctica socrática (a grega A.C...), como presumo estarmos aqui a fazer, como homens decentes, trocando pontos de vista, esgrimindo saudavelmente opiniões, de molde a que essa "Regulação" - não seja imposta de fora para dentro, top-down (seria, aliás, completamente impossível, quer em termos políticos, administrativos e operacionais e até moralmente censurável) - mas (kantianamente) auto-imposta corporizando, assim, a filosofia que subjaz à tal formulação de K. Popper - quando dizia que a liberdade do punho de A termina onde começa o nariz de B.

Se isto se fizer, se maturar na cabeça de cada um de nós este desiderato, duas tendências, a prazo, poderão (creio) sedimentar-se: 1) os políticos aumentarão a sua cultura na esfera daquilo que poderemos designar por Sociologia da blogosfera (até defendi que se deveria integrar nos curricula dos cursos universitários, sobretudo na área da Comunicação - esta disciplina) - para retomar uma expressão que utilizei algures em 2006 e, desse modo, utilizarem uma gramática mais adequada aos novos tempos; 2) e, por extensão, a tal "má moeda" da blogosfera (que hoje sabemos ainda existir, v.q., a triamos diáriamente na nossa rede) - por efeito de denúncia inter-pares - diminuiria substancialmente a sua poluição na rede, o que conferirá a cada um de nós um motivo de satisfação suplementar por saber(mos) integrar uma comunidade de actores que, antes de serem blogers (que é apenas a plataforma e o suporte de comunicação) - são homens livres que pensam e sabem escrever e desenvolver skills e uma matriz crítica do mundo em que vivemos.

Sem isto, caímos na inércia, no (a)criticismo, no balofismo social, na decadência social e moral que, noutro tempo e noutro contexto, Antero denunciava, e com tremendos custos, como se sabe. Nada pior em conjuntura de crise.

Numa palavra: a Regulação é, aqui, sinónimo de decência e reflexividade - dinamizada por uma incessante busca da verdade. Ainda que ela esteja oculta e não se revela a todos. Sendo certo que tudo é vaidade e vento que passa..., e a própria verdade ser, também, uma convenção alimentada duma construção sociológica sempre com validade provisória. É como os paradigmas, valem até que consigam explicar os factos que tutelam. Quando os factos começam a surpreender o paradigma, escapando-lhe na previsibilidade, mata-se o paradigma e arranja-se outro. É um pouco como os casamentos em que o homem tem de arranjar uma nova mulher, e ela faz o mesmo - se conseguir.

Por outro lado, não devemos omitir que a blogosfera - ao invés da sociedade de carne e osso - é povoada por uma população de indivíduos e não por organizações. Daí a necessidade suplementar na auto-moderação, na intensificação da reflexão antes de escrever, porque também aqui não existem barreiras à decência senão as que decorrem da auto-moderação (quer dos dislates dos políticos, quer dos erros dos blogers) - sendo que ambos - hoje - consubstanciam a esfera do espaço público (de Habermas) - que não fazia a mínima ideia do seria a blogosfera.

E aqui sou mesmo forçado a dar razão ao gurú Pacheco Pereira - quando ele diz o que diz acerca de (algumas) caixas de comentários, razão por que tenho a minha fechada. A rapidez com que as pessoas escrevem baboseiras está na razão directa daquela ausência de reflexão, e isso é pernicioso, inibe até muita gente boa de interagir - porque lida mal com esse tipo de ataques (mais pessoais) do que verdadeiro debate de ideias. Outras ainda vêem num confronto de ideias um ataque pessoal, de modo que a confusão ainda é grande, as arestas por limar são muitas.

Na blogosfera, e é aqui que talvez exista alguma dissonância na análise, o resto são floreados e picardias que eu chamo de peanuts e mero xari-vari, primeiro publica-se, depois os leitores lêem, corrigem e ampliam essas mensagens. Talvez, e eu próprio sinto essa necessidade, seja mais avisado reflectir mais e escrever menos. Mas se assim fosse, deixaríamos de ter o tal sangue a fluir pelas veias, a imaginação, o improviso e a criatividade (por vezes com excessos) também seriam tolhidos e passaríamos todos a ser um "bando de lé-lés da cuca", atrofiadinhos sem nenhuma espontaneidade, grau de improviso, criticismo e gosto pelo risco. Desse modo, o que de melhor fazemos, se é que fazemos (tenho pata mim que sim), ficaria assim irremediavelmente comprometido.

Se pensarmos mais um pouco - fácilmente concluímos que muito boa gente que aqui hoje navega intensificou a sua ligação à escrita através deste suporte rápido e gratuito - hoje ao alcance de todos. Estou mesmo convencido que se a Net e a blogosfera não fossem uma realidade a iliteracia seria hoje maior no mundo inteiro.

Portanto, apesar dos erros e dos excessos - de que eu também faço parte - a blogosfera contribuíu para culturalizar as relações sociais, e isto é tanto mais assim que hoje a respeitabilidade - (afastando da equação a "má-moeda-da-blogosfera") - de uma informação, análise ou notícia aumenta se ela tiver a seu lado links que remetam para materiais sociais originais em que todos nos possamos inspirar. É como se o "macaco-menor" trepasse pelo "macaco-maior" para ultrapassar o "touro" (que seguindo a cultura oriental representa um princípio do obstáculo - em termos filosóficos) que temos sempre pela frente.

Mas há ainda uma noção que deveríamos ter presente quando pensamos ou escrevemos. É, aliás, o que procuro fazer para evitar multiplicar os meus próprios erros e incorrer em banalidades. As mesmas que vejo nas "tais" caixas de comentários. Noutras também se identificam reacções interessantes, em que os seus autores (alguns) operam como se fossem assembleias de heterónimos pessoanas - comentando-se a si próprio sob outras identidades. O que não deixa de ser giro. Há de tudo nesta cornucópia virtual.

Mas, dizia, o nosso mundo é hoje demasiado grande, demasiado complexo para que dele possamos ter consciência directa. Por isso, tenho noção que não estamos preparadaos para controlar tantas variáveis e termos de nos virar para um modelo de explicação simples do tipo crime e castigo, cenoura e chicote. Por isso, acho que a posição do LNT do Barbearia - é tão redutora quanto simplista, assenta numa dicotomia que não explora a complexidade da realidade e, por extensão, fica coxa no seu campo de análise que assim também deixa de ter potencial de explicativo para o futuro.

Quando se pessoaliza um argumento, mesmo tratando-se duma personalidade política, rouba-se conteúdo intelectual e técnico ao que está em causa. E, se calhar, o que está em causa é, verdadeiramente, a própria classe política dever ser ajudada - por homens como nós (que aqui trazemos valor acrescentado à rede sem receber um chavo, apenas por carolice) - a saber fazer um blog, a saber interagir no espaço virtual. Pelo caminho, como em tudo na vida, há erros e excessos. O desenvolvimento nunca foi perfeito. Se isto ocorrer a gramática também mudará, necessáriamente.

Um exemplo que ratifica esta asserção: imaginemos que Paul Krugman é o César das Neves, que tem (ou tinha) pavor aos blogues. Portanto, Krugman passaria a ser um tuga, e pelo facto de se ter nobilizado as pessoas passariam a associar à sua pessoa o seu blog, traço integrante do seu ADN. O que aconteceria em Portugal neste domínio?! Creio que muitos académicos, para quem a blogosfera é (ainda) hoje um antro de podridão - passaria a ser uma vitrine de marfim na qual desejariam passear-se e ver-se reflectidos. Creio, pois, que a classe política, empresarial - precisa deste solavanco para perceber mais e melhor o que está em causa.

Apegarmo-nos ao "diz-que-disse" é continuarmos como os escravos de que falava Platão, vemos apenas as sombras projectadas na parede da caverna. E não conseguimos aproximar-nos da saída para respirar e ver o sol.

Concluo como comecei.. Por um prego, perdeu-se a ferradura, por uma ferradura, perdeu-se o cavalo... Ou seja, na ciência tal como na vida - e a blogos hoje ocupa boa parte de nossas vidas - importa a sequência dos acontecimentos, são eles que marcam os pontos críticos no rumo da própria história. O micro interfere com o macro. E o "Macro" às vezes, tantas vezes, fala no vazio... Mas também é, por paradoxal que pareça, nesse vazio (rico e por explorar) que teremos de encontrar a verdade, um caminho que pode e deve ser trilhado.

Mas também aqui os textos são sempre mais importantes do que os pretextos. Aqueles servem para pensar, reflectir e, quiça actuar; o pretexto é meramente reactivo, etéreo, belicoso esfumando-se com o tempo que passa. Ainda que todos tenhamos um fundo de razão por não nos revermos na tal expressão que deu origem a esta saudável discussão. Uma discussão que, afinal, servirá (também) para nos conhecermos melhor, até porque aqui ninguém anda escondido - e mesmo que andasse de nada serviria.

E não é por virarmos a cara ao macaco, i.é, ao "touro" (que na filosofia oriental representa o princípio da dificuldade) que ele deixará de lá estar...

Obs: Reflexão dedicada à boa-moeda da blogosfera que diáriamente produz informação & análise. A mesma que ajudará os agentes políticos e o empresariado a mudar de gramática. E, se possível, a aderir também a esta boa moeda - para engrossar o fluxo de informação na cadeia e geração de valor. Porque da informação nasce, ou pode nascer - riqueza, e desta resulta o bem-estar nas boas sociedades que todos nós buscamos.