quinta-feira

Crónica política nacional

Pedro Passos Coelho fez o que as circunstâncias lhe pediam ante o vazio e falta de vocação para a política por parte de Ferreira Leite: ir a Castelo de Vide debitar um conjunto de banalidades sobre teoria política acerca do Estado e da sociedade civil para, concluir, que, afinal, o Estado é pesado e perdulário sempre que é governado pelo PS e a tal autonomia da dita "sociedade civil" (não confundir com construção civil.., pois essa é mais tributária da Somague para patrocinar as campanhas do PSD!!!). Passos Coelho falou, falou, falou e não disse nada, mas o que interessava era estar presente e debitar alguns soundbites. Foi o que fez, pois sabe que leite é um elemnto etéreo da vida do psd, Santana é como um leão velho e estafado que já não assegura o patrulhamento do território. De modo que Passos Coelho foi ao Alentejo para ganhar o partido e, a médio prazo, perfilar-se ao lugar de PM. À falta de melhor o psd terá de contar com ele, e o eloquente Ângelo voltará a apoiá-lo. É a vida.
António Vitorino gosta de estar entre os jovens. Digamos que é um jovem entre jovens. Já há muito que percebeu que as tonalidades políticas não passam de sistemas intelectuais de justificação, o que importa são as lideranças e os projectos políticos que se concretizam numa dada conjuntura. E mais valor têm quanto mais complexa e turbulenta é essa conjuntura. Quem o convidou pensou espetar uma lança no PS, mas o tiro saíu pela culatra a este PSD: é António Vitorino que "coloniza" o espaço sociológico e até o capital de simpatia e afectividade dos jovens sociais-democratas.
Amanhã se, porventura, quiser perfilar-se a Belém - António Vitorino já poderá dizer a si próprio que começou a fazer o trabalho de casa e a ser um "todo-o-terreno" da política nacional, apresentando-se ao eleitorado com um perfil mais supra-partidário. Muito embora creia que o seu gesto foi mais tributário da caridade política.
E até há já quem diga que assim que Marcelo soube da presença de Vitorino em Castelo de Vide - fez birra - e não foi. E depopis mandou dizer ao Carlos Coelho que se tratava de falta de agenda... É o costume. Razão tem o Eclesiastes quando diz que tudo é vaidade e vento que passa.
E marcelo - como toda a gente sabe - deveria ser mais humilde politicamente, porque nessa área ele só tem perdido todas as eleições a que se tem candidatado.
Confesso, contudo, que me surpreendeu o psd não convidar Durão Barroso a fazer uma palestra aos jovens, pois a avaliar pelo registo de fraquezas, dependências e falta de visão estratégica que a Europa tem manifestado nos últimos 3 anos - tal era motivo suficiente para o enunciado da intervenção.
Até no diálogo com a Rússia a Europa se comporta como salmão a ser agarrado pelo Urso no rio frio que sangra na Europa, tamanha é a sua falta de visão e sentido estratégico no mundo. Digamos que o estatuto da Europa no mundo sob a gestão de barroso é semelhante ao da Geórgia relativamente à Rússia.
Angola continua igual a si própria: uma práxis e um discurso. Há uma catrafada de anos que não existem eleições livres e independentes no país. Há uns meses a Sic convidou Bob Geldoff para falar de África - o artista alargou-se e disse que Angola era governada por corruptos. Balsemão mandou pedir desculpa, mas de pouco adiantou. Ficou o ressentimento e a represália está aí. No fundo, disse em alta-voz aquilo que o mundo já sabe. O aparelho angolano não gostou e agora - sorri com represálias - não concedendo o visto aos jornalistas do grupo Sic e RR e também ao pasquim do Belmiro. É a vida, como diria Guterres. Todavia, é um mau prenúncio para um País que pretende instaurar a democracia pluralista no país.

Desta feita "concordamos" com o director do pasquim da sonae, quando critica um país que se diz democrático e depois impede a entrada de jornalistas para assegurar a devida cobertura do acto eleitoral que decorrerá na próxima 6ªfeira em Angola. Até parece que o governo de Eduardo dos santos teme algo... Deverá ter alguma pedra preciosa atravessada na garganta, ou então no sapato.

Nuns casos o sr. Fernandes do Público pugna por liberdade de informação num regime que ainda censura jornalistas; noutros casos é o próprio jornalista do grupo sonae que - a coberto dos interesses económicos que representa - procura queimar ministros do Governo socialista com manchetes manipuladas e, assim, atingir o próprio PM em funções em Portugal. É um universo de contradições este sr. Fernandes.

Em relação a Angola o sr. Fernandes proclama liberdades, em Portugal usa e abusa delas sem nenhum critério jornalístico, ou seja, com rigor, objectividade, isenção e imparcialidade - regras do bom jornalismo que desconhece.

Não sei bem o que é pior: se criticar um pequeno ditador africano por este impedir que jornalistas portugueses possam cobrir as eleições em Angola; ou utilizar abusivamente das liberdades de expressão de que se dispõem na direcção de um jornal - manipulando a informação em manchetes e em editoriais - para queimar um Primeiro-Ministro que inviabilizou uma OPA à Pt por parte do grupo empresarial que paga o salário ao jornalisto.

A insustentável leveza do ser deste jornalismo etéreo e idiota há muito que não convence os portugueses com dois palminhos de testa.

É por causa destas e doutras que Belmiro de Azevedo está cada vez mais pobre.

Um dia acorda e descobre que terá de fazer uma remodelação na gestão do grupo. Espero, então, quando isso ocorrer que ele não se lembre de pôr um caixa do hiper-continente na direcção do Público que, de resto, tem excelentes jornalistas, colunistas e gráficos.