domingo

A grandeza de Francis Obikwelu

Como a vida desportiva hoje é complexa e até contraditória: Portugal não iria tão longe nesta modalidade sem a rapidez deste luso-nigeriano; Obikwelu só foi tão longe com a adopção portuguesa, o apoio financeiro e logístico a este atleta de elevada qualidade que assim foi subtraído à construção civil onde trabalhava antes. Já não vai à prova dos 200m e pôs fim à sua carreira de velocista, o que revela dignidade e grandeza quando, seguramente, ainda teria muitíssimo para dar este atleta actualmente detentor do recorde europeu dos 100metros com o tempo 9,86 s.
O que é estranho em tudo isto?! Decorre do facto de a nacionalidade de origem do atleta ser africana, o que prova que hoje já não há fronteiras na representação da bandeira nacional, um reflexo da globalização que há muito chegou ao desporto e que hoje confunde muita gente. Sobretudo aqueles que olham para os planteis dos clubes de futebol e constatam que 50% dele é estrangeiro.
Confesso que esta miscigenação, sem qualquer juízo de valor agregado, subtrai identidade e autenticidade aos países, aos clubes - baralhando cada vez mais o sentido da lealdade dos próprios adeptos, mormente do Futebol - onde essa transnacionalaização mais se evidencia.
Ora isto coloca um desafio sério à própria representação nacional dos países que se apresentam em provas de alta competição. Sob pena de amanhã as crianças começarem a aprender na escola que a Nigéria, de par com Angola, Moçambique, Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe e Guiné foi mais uma colónia portuguesa que esteve escondida durante algum tempo, passe a ironia dos novos mapas retro-colonizadores do continente africano e da então corrida para África do séc. XIX.
O que é estranho, pois Francis fala bem melhor o inglês do que o português. Seja como for, foi um atleta que honrou Portugal e os portugueses, e à velocidade a que corre e tem cortado as metas por onde tem passado é e será sempre um Campeão (universal).