sábado

A Sr.ª Dona Irlanda cospe no prato da sopa onde come

A Irlanda é o desmancha-prazeres da temporada no quadro da União Europeia a 27 que temos actualmente. Não apenas porque amputa grande parte do trabalho político de Sócrates - que lhe deu projecção internacional, e de forma merecida, mas, essencialmente, porque enfraquece a já mole Europa política, económica e social: com elevadas taxas de desemprego e baixos níveis de crescimento económico. Ou seja, os irlandeses que foram votar, e dada a abstenção, optaram pelo Não (53,4) contra os 46% dos votos expresso pelo "Sim".
Isto significa uma coisa muito primária: os irlandeses são burros. Andaram os últimos 15 anos a "mamar" dos Fundos Comunitários, e até tiveram a arte de fazer aquilo que os portugueses não conseguiram fazer (mesmo com a corrupção do Torres Couto e quejandos sindicalistas...): aplicar bem esses recursos financeiros na economia e nos sectores mais desfavorecidos da sociedade. Apostaram na Educação e venceram, modernizaram a economia. Com isso alanvancaram todos os indicadores de desenvolvimento humano e, agora, em vez de enfatizarem a votação por uma Europa mais coesa, mais forte, com um sistema de decisão mais racional e equilibrado - dão uma facada no baixo ventre da Europa que estava animada - e põem o bloco asiático e os norte-americanos a rir.
De facto, estes irlandeses são muito burros, nem para si próprios são bons quando a Europa a que pertencem está paralisada no seu sistema de tomada de decisão política. O que prova que para a aprovação dos tratados a regra da unanimidade pode redundar num rotundo falhanço, bloqueador de toda a Europa. Há que rever isto e flexibilizar esse processo de decisão pela regra da maioria, e quem quiser avançar avança, quem quiser ficar ensimesmado na soberaniasinha nacional segue a 2ª composição do comboio. Na prática, é sempre isso que sucede, mas não de forma jurídica, mas de modo político, económico e social. Portanto, há que por de lado as hipocrisias do costume. As coisas são como são.
Porque razão isto sucedeu? Além da estupidez natural dos irlandeses - que sofrem do síndrome da falta de sol, os agentes políticos também não tiveram a arte de lhes comunicar as vantagens de votar favoravelmente o Tratado de Lisboa - por comparação à manutenção da inércia que vigorava (vigora) no actual sistema de decisão política a 27.
Depois, devem querer copiar a excepção inglesa - de ser sempre uma vox à parte das questões europeias, não integrando - como fez o RU a moeda única - porque têm uma libra forte e, nesse particular, não querem confusões. Mas é óbvio que a Irlanda não é o RU. E os argumentos primatas do tipo que a deputa da do pcp usou em Bruxelas são - esses sim - de jogar para o "caixote do lixo da história" (onde, de resto, está sepultada toda a ideologia comunista do séc. XX - que a dona ilda figueiredo professa - e que só gerou milhões de mortos e de barbárie). Quanto a BE - e ao radicalismo de Miguel portas - a coisa é previsível, vivem da crise e para a crise.
Resta, doravante, aos irlandeses explicar o que aconteceu, corrigir a rota e, daqui por um ano, com o povo já esclarecido - fazer-se novo referendo. O mecanismo alternativo é de teor político, o que exige uma negociação de ajustamento de interesses que podem ou não ser bem sucedidos. Uma coisa é certa, este Não irlandês não devem paralisar o comboio da Europa que está em andamento, e só porque uma ovelha negra saíu da carruagem tal não significa que o comboio vá contra o muro ou páre em Dublin ou Belfast.
O tratado de Lisboa deve ser ratificado pelos demais Estados que ainda não o fizeram, segundo o processo jurídico-político próprio de cada Estado - não porque foi um PM português que o impulsionou e o mesmo foi assinado em Lisboa - mas porque a competitividade económica e social e até ambiental da Europa só pode aperfeiçoar-se se tiver dotada de um instrumento jurídico que permita a maquinaria política funcionar. Doutro modo, volta-se ao statu quo ante, com a areia na engrenagem e os outros blocos geopolíticos a crescerem mais e melhor enquanto a Europa mingua a olhos vistos.
Um encolhimento que nem os burros dos irlandeses - uma vez cabalmente esclarecidos - querem voltar a repetir. A bola agora está do seu lado, e na próxima cimeira de Chefes de Estados terão de explicar o que sucedeu e as propostas que tencionam colocar sobre a mesa.
Contudo, tenho para mim que o problema dos irlandeses é outro: falta de sol...
Simple Red Sunrise (Caro-Mex)