quarta-feira

A chantagem dos especuladores de petróleo e a ditadura dos piquetes de camionistas

A conclusão prévia a que chego após visionar as imagens do Portugal profundo é reconhecer que ainda bem que o nosso país não tem petróleo, senão cortavam-nos a cabeça todos os dias, incendiavam-nos o carro a toda a hora e os 10 milhões de tugas viviam permanentemente em ambiente de guerra civil a toque dos calhaus cobardes dos camionistas que recorrem a esses métodos para ajoelhar a ANTRAM e, por extensão, chantagear o Governo a negociar as contrapartidas que essa classe do asfalto pretende.
Imagine-se que amanhã os médicos - sob pretexto que quererem melhores condições salariais - deixam de fazer as operações aos pacientes que se encontram agendadas violando, assim, quer o juramento de Hipócrates cuja consequência, em inúmeros casos, se traduziria na encomenda de mais um caixão. Portanto, a chantagem inadmissível das pequenas empresas de camionagem encarregue de fazer esses piquetes deveria ser criminalizada e os seus fautores (morais e os operacionais) responsabilizados. E o Governo já deveria ter enviado as forças de segurança para a rua, isto revela que Sócrates, afinal, não é o "durão" que dele se diz.
Por outro lado, salvo a Noruega, todos os outros países produtores de petróleo são ditaduras, e são elas (juntamente com os especuladores de serviço) que estão a causar esta paralisia às economias e sociedades europeias. Mas para o zé povinho, para alguns media e blogers de serviço vêem aqui uma oportunidade de ouro para se vingarem de Sócrates e para mais uns quantos alienados - a culpa é exclusivamente do PM. Pelas mesmas razões, a circunstância de os portugueses fazerem poucos meninos é também dele. Para essa massa informe de seres pensantes, muitos deles copiam as ideias de outros que vão adaptando com um toque banal de originalidade nas respectivas tascas, a alta do petróleo internacional não conta, o que importa é bater no governo e obrigá-lo a ceder aos piquetes do asfalto que estão a transformar a democracia pluralista e o estado de direito numa ditadura do piquete.
E o resultado está à vista: filas de carros para abastecer, paralisação da economia, desorganização da vida das empresas, das famílias e das pessoas. No Sul já não há carburante, o que afecta de igual modo turistas e indígenas. Muitos condutores são mesmo obrigado a deixar o carro na valeta, e isso implica - como bons índios que (ainda) somos - que no day after só lá está a carcaça da viatura, o resto evaporou-se na solidão misteriosa da noite. E aquilo que era inicialmente uma preocupação ligeira converteu-se numa obsessão geradora de um pânico que em nada favorece um clima de paz social. Mas a culpa de tudo isto é do Sócrates, eis o pensamento dos oportunistas de serviço, os mesmos que também são afectados por esta crise.
Quanto à oposição nem uma palavra: Ferreira leite, pura e simplesmente, não tem ideias e o que sabe de economia enjoa qualquer aluno do 1º ano de faculdade. Ainda anda Às voltas com santana por causa da substituição do líder para-lamentar; Louçã é um demagogo utópico meio anarca que qualquer dia promete que a nova fonte de energia alternativa ao petróelo é o "amor", e então os carros, transportes públicos - tudo o mais que mexa - passará a rolar a amor. Jerónimo ainda não percebeu que é incapaz de domesticar os novos boys do asfalto, pois nem a ANTRAM consegue ter mão neles; e o Paulinho das bombas, o demagogo e populista-mor da República - já está a pensar fazer um tour de bicicleta por Madrid e Barcelona - só para anunciar que o Sócrates é um malandro pelo facto de não conseguir dar dois berros aos tipos da OPEP e aos especuladores e demais traders que enchem os bolsos à conta do zé povinho europeu. Para agravar a situação, o sr. "Zé das farturas", cognominado o "cherne" - embora seja também conhecido pelo ex-maoista e o transmontano de Bruxelas - e actual Presidente da Comissão Europeia - ainda não teve nenhum rasgo sob aquela testa e formar um grupo de trabalho de urgência que funcione em ligação com os senhores do petróleo a fim de estudar um conjunto de medidas urgentes para enfrentar as necessidades mais prementes.
Tudo visto e somado, só podemos concluir que o ouro negro é, hoje, o principal entrave ao capitalismo e ao desenvolvimento económico e social das nações. Essa pasta viscosa e mal-cheirosa tudo penaliza: a sociedade civil e a democracia. Na verdade, esta crise gerada eminentemente por causa da alta artificial e especulativa do petróleo - a que os portugueses em geral e o respectivo Governo em particular - são alheios (embora comam por tabela!!!) só vem retardar o processo de retoma da economia que começara a dar sinais positivos, e que agora ficou comprometida.
Por contraponto, os países detentores de petróleo têm-no em abundância, são os chamados trust fund states mas, na prática, e porque o dinheiro entra com tamanha facilidade, são incapazes de se democratizarem e de produzirem o mais simples dos alfinetes, o que os obriga a importar tudo e a adiar a modernização das suas sociedades.
Numa palavra: há muito que o Governo deveria ter enviado as forças de segurança para a rua, porque como cidadão preferia que alguns camionistas de piquete, os tais cobardes que jogam pedras aos camionistas que não páram, cortam os cabos das baterias e dos travões e incendeiam camiões que custam o valor de apartamentos em Lisboa, fossem detidos temporáriamente do que a cadeia de abastecimento de que depende o funcionamento da economia nacional - ficasse por abastecer - prejudicando assim centenas de milhar de pessoas.
Ou seja, o interesse geral jamais deverá ficar refém do interesse sectorial de um grupo de camionistas - e alguns malfeitores - que viram nesse expediente o meio legítimo para fazerem prevalecer os seus direitos. Ora, nem os seus métodos são legítimos (nem legais) nem a sua motivação é de boa fé, negociar com estas condições é, por analogia, ir jantar com uns terroristas alí à Bica do Sapato.
Hoje negoceia-se à tarde com essa gente, mas de madrugada estão de novo a sabutar as vias públicas e a incendiar camiões que se recusam a aderir à ditadura do piquete deste Portugal frágil e tremendamente dependente dos derivados do petróleo.
Chegou o tempo das bicicletas. A ser assim, muitos portugueses deixariam de ser tão obesos e de ter tantos problemas cardiacos. O futuro é azul, por isso temos de conseguir mandar o petróleo às malvas. E aqueles que o exportam - depois - passam a comê-lo - com uma saladinha de tomate com salsa e óregãos..