A dualidade da blogosfera e a elite tocquevilliana
É sabido que no mundo velho do jornalismo mangas-de-alpaca, i.é, em tudo aquilo que o funcionário do engº Belmiro representa no Público (que felizmente tem bons jornalistas, muitos dos quais não temem o chefinho que aos cinquentas ainda não conseguiu concluir uma simples licenciatura), não definhou e, ao mesmo tempo, a blogosgera também não subiu a montanha como inicialmente se previra. Entre a desgraça de um e a emergência de outro houve um meio caminho de desilusões e de frustrações no sopé da montanha - cujo passivo ambos os lados aceitam realísticamente. O canto de finados sobre a mediacracia não ocorreu e a afirmação esmagadora da blogosfera também não marcou encontro súbito com a realidade. Mas a relação entre ambos modificaram os dados da equação tradicional e os media já não estão mais sózinhos. Mas, por contraponto, os blogs, mesmo os melhores, também não substituíram os jornais de papel, apesar da forte queda de vendas que sentiram nos últimos anos. Nem substituíram as revistas - que lá trazem Cds, preservativos a cores e com sabor a morango e uma parafernália de promessas na expectativa de venderem as croniquetas do Pacheco, do Rogeiro, do Araújo, do Boaventura, do vasco, do vasquinho, do Adriano salazarengo, do Mega e tutti quantti que cobram 300 a 500 euros por rascunho (muitos deles nem em nota de roda-pé do Macro teriam lugar). Perceberiam isso se lessem alguns blogs, facto que os envergonharia com a performance do seu esquema mental e da lentidão com que são capazes de produzir pensamento e reflexão banais sobre a realidade do nosso mundo. De modo que os blogs, alguns deles, tornaram-se asssim numa espécie de guias de qualidade, de desmancha-prazeres que desactualizam em duas penadas os doutores vascos do regime da análise política e social no burgo. Basta lê-los e comparar, sem modéstias nem empolgansos. Mas esta é a verdade. Uma verdade que deveria fazer corar pessoas que respeito numa das facetas da vida mas que envergonham na outra, como Miguel Sousa tavares, cujo mal está em generalizar tudo aquilo que lhe vem à cabeça - agravado pelo facto de ser um ignorante digital, ou melhor um inadaptado virtual que só consegue ver o mundo black & white e dizer que os seus romances são uma maravilha. Mesmo que o fossem, jamais deveria dizê-lo. Mas esta reflexão, miserável por sinal, tem outro propósito, não se confina a reduzir a importância reflexiva de um maoista ou de negligenciar a importância e inteligência de tavares, quando este se aventura por territórios do saber que não domina, naturalmente. O nosso propósito aqui é, tão só, reconhecer o papel mediador de alguma blogosfera do espaço público mais informado, muito embora essa boa ciber-gente também não se arvore em democratas radicais. Esta crise do petróleo e a consequente chantagem da ditadura do piquete improvisada por alguns mafiosos da camionagem, os tais boys mais duros do asfalto - revela, afinal, que essa tal blogosfera não passa de meninos do couro. Uns queques que aproveitam esta boleia da alta do ouro negro para descascar no Sócrates - num ataque tão soez quanto cobarde, apesar de haver algumas razões para se criticar o homem. São os mesmos que amanhã são bem capazes de, à boca das eleições e ante um novo cenário de vitória, pensarem e escreverem o oposto que escrevinharam na véspera. São e não são no velho estilo black & withe. Numa palavra: muita gente dos blogues, e lamento dizê-lo, mas tem de ser, ou são egocêntricos, ou plagiadores ou vêem aqui um espaço para ajustar contas denunciando que, na prática, se movem com impulsos de pequeno porte, animados de más motivações, numa espécie emergente de hipócritas virtuais que ao misturarem alhos com bugalhos e ao mistificarem a carestia de vida com a tremenda especulação do petróleo - só contribuem para desregular ainda mais a anarquia das pessoas que navegam no espaço virtual. E o mais grave é que muitos deles não o sabem, ou seja, desconhecem os efeitos das suas próprias acções. Eis a novel elite toquevillianiana que pulula na blogosfera. Os tais que batem no engenheiro com nome de filósofo, mas são incapazes de chamar mafioso aos petromonarcas e à camada de traders e de especuladores invisíveis que operam no mercado dos refinados de que depende a economia e a sociedade europeias e são, verdadeiramente, os causadores deste pânico emergente.
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