A alienação do futebol e o pior do capitalismo selvagem em pleno Campeonato Europeu
Estes três homens têm duas, ou melhor três coisas em comum: adoram dinheiro, vivem do futebol e, lamentavelmente, revelam muito pouco profissionalismo e pouca ética desportiva. De resto, nunca achei Scolari um grande profissional da bola, é um tipo com sorte, muita sorte, talvez não saiba metade daquilo que Carlos Queiróz sabe, mas a sorte nesta arte é uma dádiva, e o brasileiro tem sido portador dela. Além de que as suas gaffes, trejeitos e exaltações têm sido aproveiotadas pelos Gatos fedorento para produção de humor. Ronaldo é um talento, mas no relvado tem sido um pouco mimado e individualista, e nas declarações aos media, contraditóriamente, fala no interesse da equipa, o que não deixa de ser curioso. Quando Portugal ganhou aos checos - pelo facto de não ter brillhado - ficou com o trombil amarrado ao chão. Até os ceguinhos perceberam o valor facial daquela expressão. Ou seja, como o menino não foi a vedeta do jogo foi incapaz de partilhar a alegria do conjunto da equipa, de resto merecida. E Deco segura e distribui muito bem o jogo do meio campo para a avançada, é outro prodígio. Imprescindível, portanto. So far, so good. Onde reside, então, o motivo para a crítica?! No preciso momento em que essa gente, seleccionador e jogadores, precisam do ambiente psicológico mais concentrado e tranquilo a fim de potencializarem as suas prestações dentro das quatro linhas - é quando a dança das contratações obriga essas vedetas a andar por aí - saltitando de capital em capital como gafanhoto a lixar safra - de advogado na mão - a farejar os melhores contratos para rechear as respectivas contas bancárias. Se amanhã - na meia final ou até mesmo na final (pois temos equipa para tanto) - algo correr mal - as razões que o povão encontrará para essa eventualidade resultarão da circunstância de a lógica bilionária das contratações ter interferido na desejada rentabilidade desportiva, a mesma que exigiria tranquilidade e paz de espírito nosintervalos dos jogos - que os ditos ocupam a farejar os melhores contratos para as suas vidinhas. Não é ilícito que o façam, embora ache pouco legítimo e até digno que essa caça ao contrato ocorra no preciso momento que intervala os jogos do Europeu. Devia até ser proíbido que esse cio das contratações tenha lugar no decurso dos grandes campeonatos, porque instabilizam os actores desportivos pela ansiedade que geram, roubando-lhes concentração e paz de espírito, e isso pode-se reflectir, naturalmente, nas suas condições anímicas, psíquicas e físicas ao nível das prestações dos jogos que terão ainda de fazer. É como pedir a um jogador que faça um bom jogo dentro das quatro linhas e, ao mesmo tempo, resolva um problema de matemática nos balneários. Razão por que acho profundamente lamentável que um seleccionador arrogante como é scolari - e bafejafo pela sorte - e alguns jogadores nacionais andem por aí, como se fossem meretrizes de luxo - a oferecer os seus serviços aos magnates do petróleo que os compram, usam e deitam fora. É, pois, lamentável assistir em directo a esse espectáculo menor dentro do espectáculo maior que é, de facto, o Campeonato Europeu de Futebol. Isto revela bem a pior faceta da globalização do futebol - cuja face negra se intensificou com as migrações internacionais no sector, com o fluxo de capital global, com a natureza espectacular do futebol e das emoções que mobilizam as massas associativas, com a sua conexão ao mundo da política e, por fim, com toda a publicidade e cultura de modernidade ligada a essa arte bem como o poder que as TIC lhes proporcionam ao amplificar todo esse fenómeno e ao projectá-lo à escala planetária. Três homens exemplos de grande sucesso, mas que neste particular são apenas a face mais negra da gula e da ganância desportiva, ou melhor, espelham a forma como se deixam escravizar pela ditadura do dinheiro aquilatado pelo peso dos contratos. Não são os únicos. Mas deveria ser produzida legislação internacional específica para prevenir este tipo de prostituição desportiva no decurso de campeonatos. Findo os quais o sr. scolari poderia fazer as tais contratações para o Chelsea ou até para o Flamengo se, porventura, ainda o quisessem. O futebol, consabidamente, ocupa boa parte da vida colectiva, por vezes pelas piores razões. Quantos alienados atravessam a 2ª Circular arriscando ser atropelados na ânsia de aceder às instalações do Glorioso?! Quantos bárbaros se agridem nas bancadas em resultado da intolerância desportiva e do clima de raiva profissionalizada espevitada pelas diferentes claques de serviço? Quanta corrupção nidifica entre clubes e patos-bravos no quadro da política local e até nacional (gerando mais corrupção no Futebol, de que Valentin Loureiro, Pinto da Costa e conexos são maus exemplos em Portugal)? Evitando, assim, que pessoas decentes e civilizadas que amam o Futebol possam deslocar-se aos estádios de futebol. Os exemplos poderiam multiplicar-se. Mas esta troika lamentável de exemplos, neste peciso contexto do Campeonato Europeu, em que os ditos andam por aí a vender o corpinho ao manifesto para ver quem dá mais, como se de um leilão manhoso se tratasse, revela-nos também um outro pensamento e realidade da Globalização do futebol: - É bom saber que as mulheres também jogam futebol. Oxalá não se deixem prostituir tão cedo...
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