terça-feira

Ferreira Leite critica Durão Barroso no XXXI Congresso do PSD em Guimarães

Temos aqui defendido que o problema de Portugal decorre da falta de produtividade comparativamente aos demais países da Europa onde estamos integrados. Ou seja, por hora cada trabalhador português produz menos do que cada trabalhador noutro país europeu, salvo algumas excepções situadas na cauda da Europa - onde ainda também nos posicionamos em inúmeros indicadores de desenvolvimento. É certo que temos os factores de produção mais caros, o que dificulta a produtividade e a rentabilização de muitos projectos que assim deixam de ser atractivos para muitos empreendedores.
Neste contexto de pobreza do País, que é estrutural, apesar de já existirem empresas e sectores de ponta a "dar cartas" nos mercados internacionais, é que Ferreira leite deveria ter colocado o seu ponto vista macroeconomia no Congresso de Guimarães de outro modo, ou seja, não deveria ter colocado a questão em termos bismarckianos: ou há canhões ou há manteiga. Sabemos que temos de ter ambos ao mesmo tempo para sermos competitivos no sistema internacional e no mercado global emergente, e não apostar só numa das vertentes. Assim, ficaríamos coxos e marrecos no nosso desenvolvimento estratégico e adiar ainda mais o País. E não é isso certamente que Ferreira leite desejará para Portugal. Ela poderá ser pouco entendida em questões de desenvolvimento estratégico, mas é patriota.
De resto, Ferreira Leite foi defensora de todos os grandes projectos de obras públicas que o governo Sócrates hoje tem a coragem de estar a implementar. A OTA, o TGV são apenas dois desses projectos que Durão Barroso não teve a coragem política de tirar da gaveta - porque ou não tinha modelo de financiamento que o viabilizasse ou, numa fase ulterior, já estava com a cabecinha virada para Bruxelas - como veio a acontecer - deixando o país entregue à bicharada de Santana Lopes.
Leite sabe que se não se investir em mais uma ponte, uma estrada esse dinheiro não é automáticamente convertível em projectos e programas de apoio social de fomento ao emprego ou aplicados no combate à pobreza. De resto, o cuidado que Leite teve em enunciar o problema mas não dar um único exemplo desse desperdício, revela bem a indecisão - para não dizer ignorância ou demagogia e populismo - daquele seu enunciado. Ontem quando se perguntou ao seu Secretário-Geral, Marques Guedes que investimentos superflúos eram esses este escondeu-se numa fórmula genérica de "deputês": temos primeiro de "arrumar a casa". Este psd começa bem... E depois, o referido songa-monga (Marques guedes - que se reporta a Ferreira leite como se fosse uma veneranda deusa na antecâmara do Nirvana) ainda teve a lata de referir aquele velho adágio popular que diz que aquilo que nasce torto tarde ou nuna se endireita.
É evidente que hoje não há alternativa nem em termos ideológicos, programáticos nem no plano do modelo de desenvolvimento estratégico que está a ser seguido pelo Governo de Sócrates. Nesse sentido, Leite tende a esforçar-se por encontrar alguma questão - de micro ou de macroeconomia - que possa fazer a diferença entre PS e PSD, mas não está a conseguir porque não há margem de diferenciação entre ambos. Essa diferença faz-se apenas ao nível da liderança e da capacidade que os líderes têm (ou não) de implementar reformas e de modernizar a sociedade e a economia, que é o que Sócrates - com alguns erros - é certo - tem procurado fazer.
Mas não seria bom equacionar o que seria Portugal hoje entregue a Ferreira leite, ou à sua sombra - dado que quando fala nunca sabemos se o faz na condição de ex-ministra das Finanças de Durão ou se na condição de populista em emergência e líder do actual psd.
De resto, o papel que leu no Congresso do psd em Guimarães faz lembrar aquelas narrativas desenvolvimentistas - de tipo sul-americano - que hoje não fazem grande sentido. Ou fazem se dessa discussão se fizer melhor luz sobre as prioridades dos projectos de desenvolvimento em Portugal. Mas o que Ferreira leite não disse e deveria ter dito, até porque é economista, é que Portugal tem um problema sério: baixa de produtividade, absentismo e ainda, em inúmeros casos, uma gestão estúpida - com muitos patrões e ainda poucos gestores ou empresários a sério - que não estejam sempre de mão estendida para o subsídio do Estado que foi engrossado no tempo em que a srª Leite integrou os governos do psd. Isto apesar de actualmente, segundo dados do ministério da Economia, o empreendedorismo estar a crescer em Portugal.
Mas com tanta indecisão, ambiguidade e zonas cinzentas na narrativa de leite em Guimarães - só faltou a sr.ª dizer que o investimento público passa a ser crime, a culpa de tudo isto é dos japoneses e dos árabes (petróleo) e das elevadas taxas de juro europeias. Já agora, poderia recuar um pouco mais no tempo, e defender, ao [seu] estilo do passado que representa, que a culpa é dos Negros, dos Judeus, dos Amarelos, dos Trabalhadores migratórios, dos Capitalistas enfunados e até, pasme-se(!!!) dos marxistas. Estes porque insistem que a crise emana do capitalismo...
Voilá, o psd ao estilo de Ferreira Leite.
Ela mais a sua circunstância. Ou seja, ela e a sua sombra. Uma sombra que decorre do seu passado recente que a atravessa e esmaga.
Tudo porque os intervalos de tempo entre os ciclos políticos [Durão vs Sócrates - santana não conta] são curtos e a memória dos tugas é ainda fresca...