terça-feira

Crónica duma morte anunciada: o falhanço de Ferreira leite

Os portugueses começam já a não nos ouvir", considerou a candidata, que refere ter sido movida por "um sentido de responsabilidade"[Link]
Vejo esta imagem de campanha, leio estas linhas também de campanha e sou forçado a concluir que Ferreira Leite acerta no diagnóstico, os problemas começam quando a senhora apresenta a sua receita, ou melhor - não-receita populista. Explicitaremos aqui por que razão este seu breve consulado será um falhanço, talvez mais arrastado do que o de Luís Filipe Meneses.
Sabe-se que o teste para uma inteligência de 1ª água decorre da sua aptidão para manter duas ideias opostas no espírito ao mesmo tempo, e ainda conservar a aptidão de funcionar.
Ora, Ferreira Leite demonstrou em Guimarães não perceber que o País tem de avançar em múltiplas frentes ao mesmo tempo, e não numa só vertente. Leite, ao defender o que defendeu em matéria de investimentos públicos - disse ao País que não se pode fazer muita coisa bem ao mesmo tempo e, portanto, agora é o momento de o País congelar todos os investimentos em infra-estruturas e investir em programas de apoio aos desempregados e no combate à pobreza. Mal comparado, isto mais parece uma tirada à Woody Allen... Em que a parceira que com ele contracena espera alguma coisa..., e ele põe-se a filosofar sobre as causas da ejaculação precoce.
Traduzindo para miúdos, aquilo que Ferreira leite disse em Guimarães pode significar o seguinte:
- Em cada auto-estrada a senhora vê um antro de sinistralidade;
- Em cada ponte uma tragédia que faz lembrar a ponte Entre-os-Rios, com o devido respeito aos que faleceram e aos seus familiares;
- Em cada aeroporto uma espécie de 11 de Setembro aéreo que importa evitar.
Mais idiota do que isto só os editoriais do Público do sr. José Fernandes, que é a única coisa pouco interessante que aquele diário tem.
Ferreira leite além de não ter memória, ou tê-la selectivamente, revela ainda uma tremenda ingratidão política. Desde logo para com Cavaco, de quem ela se diz amiga e foi o principal mentor e executor dessa política de obras públicas em Portugal no post-25 de Abril: que deu novas redes viárias ao País, reduziu distâncias, tempos, permitiu a emergência duma classe média - que aumentou o consumo e dinamizou todas as actividades económicas em Portugal.
Leite ao dizer o que diz - em micro ou em macroeconomia - revela que até na sua própria área se revela uma pessoa sem estrutura intelectual capaz de perceber as tendências do tempo novo, fazendo, com isso, com que o País regresse à politica unidimensional que lhe permite só fazer uma coisa bem de cada vez.
Mas se Leite revelou não ter aprendido a lição desenvolvimentista de Cavaco - também revela um compromisso gritante com aquilo que foi o consuldo Durão barroso, em que a filosofia desenvolvimentista era mais ou menos igual à de Cavaco, embora com mais constrangimentos financeiros temperada por um falso discurso humanista e solidarista, que redundou em projectos de gaveta (que nunca saíram de lá) - seja porque Durão não encontrava modelo de financiamento económico para o viabilizar, seja porque Barroso ficou com a cabeça virada para Bruxelas e para a Comissão Europeia - cujo cargo depois veio a ocupar e com os resultados que se conhecem em termos de União Europeia. Hoje completamente dependente e ajoelhada perante as petromonarquias e aos traders especulativos que fazem fortunas nos mercados de futuros comprando e vendendo crude a preços do outro mundo e jogando com prazos que também não são deste mundo.
Leite, em tese, deveria ser o duplo receptáculo do legado cavaquista (desenvolvimentista) e barrosista (pseudo-desenvolvimentista) mas, conforme constatámos no XXXI Congresso do PSD em Guimarães - a sua narrativa não passa de uma preocupação de mercearia que nem para gerir o bairro de Campolide serve.
E quando lhe perguntam que investimentos públicos devem ser eliminados da agenda de política económica do Governo Sócrates - ela, cirúrgicamente, nada diz; quando os jornalistas fazem a mesma pergunta ao "songa-monga" do Secretário-Geral do partido da Lapa, Marques Guedes (que se refere a leite sempre cheio de salamaleques) - este responde que é preciso "arrumar a casa". Pelos vistos, mesmo após o congresso, a bagunça de ideias continua...
É óbvio que nem um nem outro sabem do que falam, mas não resistiram a atirar o barro à parede para inundar os media com uma suposta ideia emergente - que sirva de factor diferenciador à praxis política de Sócrates. Agora a discussão está instalada no País, e não tardará que a dona Fátima Campos Ferreira - faça mais uma mestela no Prós & Contras espelhando a grande valia do tema.
A esta hora, o António Borges deve estar fechado no seu gabinete a fazer contas com uma Texas Instruments para apresentar a Ferreira leite um Relatório circunstanciado justificando as baboseiras que a madrinha do António Preto disse no Congresso de Guimarães.
Políticas de emprego, de atracção de investimento, de renovação e de reestruturação da economia, de resposta à tripla crise que tolhe a Europa (financeira, alimentar e energética), sobre a sociedade do conhecimento nem uma só palavra. Ou seja, a sr.ª Ferreira Leite desconhece o mundo em que vive e os custos dos seus meros enunciados seriam mais caros do que todas as reformas de Sócrates. Tudo isto nos leva a concluir que Ferreira em S. Bento seria uma galáxia de nostálgia e uma grande perda de tempo. Seria como convidar Santana Lopes para ministro das Finanças. Além de que até lhe falta o encanto das boas intenções...
Mas o que mais aborrece é que tudo isto tem lugar na terra da fundação da nacionalidade, Guimarães, aqui tão mal-tratado.
Para esse funeral político a termo poderiam, ao menos, ter escolhido a Lapa!!! Assim, ficaria tudo em casa...