sexta-feira

Durão Barroso recebe a chave da cidade de Lisboa das mãos de António Costa sob o olhar atento de Sócrates

Durão Barroso lá foi receber a Chave de Honra da Cidade - que é um galardão municipal destinado a distinguir personalidades, instituições ou organizações nacionais ou estrangeiras que, pelo seu prestígio, cargo, acção ou relacionamento com Lisboa, sejam considerados dignos dessa distinção. E assim Durão aparece ao lado de Carlos Lopes e José Zaramago - como a troika de personalidades que já receberam tão honroso galardão municipal.
Não vamos aqui discutir se:
- Durão é ou não um razoável presidente da Comissão Europeia, é simplesmente o titular do cargo em exercício de funções e diz que quer continuar porque se sente consolidado. Resta saber porquê e por quem (!?);
- Não vamos aqui discutir se Durão foi ou não um razoável PM, foi - simplesmente (Manuela Ferreira leite quando, na véspera, soube da partida de Durão para Bruxelas deixou de lhe falar), hoje tenta reunir os cacos que aquela ajudou a escavacar;
- Não vamos aqui discutir se Durão - antes de desertar para Bruxelas - pensou mais em Portugal ou nele próprio, é claro que pensou (só) nele próprio;
- Não vamos aqui lembrar se a nódoa política da Cimeira dos Açores que abriu caminho a uma guerra sangrenta que ainda hoje perdura no Iraque - foi apenas uma nódoa ou uma mancha no CV de Durão Barroso, violando o Direito Internacional da ONU e colocando Portugal - e a Europa - numa posição de subserviência perante os EUA - em fúria que tudo misturou - na sequência da nuvem trágica do 11 de Setembro. E assim confundiu Saddam com Bin ladden, e o problema interno do regime político iraquiano e das armas químicas e bactereológicas com o terrorismo em rede da Al Qaeda. Ao não se comprovarem tais conexões, verificadas e validadas pela Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) da ONU, cairam pela base as motivações e as justificações amalgadas para fazer a guerra por parte dos quatros desamparados do mundo: G.W.Bush, Aznar, Durão e Tony Blair, o quarteto da desgraça.
- O que interessa, neste momento em que a cidade de Lisboa está numa encruzilhada de projectos de desenvolvimento e de modernização da sua rede ferro-rodoviária e aeroportuária e de infra-estruturas sociais e de equipamentos culturais, é que Portugal tem um português na Comissão Europeia, o PSD está esfrangalhado e não restam rumores de que nos próximos 5 anos recupere do processo de autoimplosão a que se (a)cometeu na sequência da fuga de Durão para a eurocracia bruxelense.
No fundo, Durão até foi amigo de Portugal, pois ao reconhecer que não tinha projecto político para o País resolveu desertar para Bruxelas, e sem essa "fuga maoista" Sócrates jamais teria a possibilidade de arrancar uma maioria absoluta aos portugueses. Consequentemente, a entrega daquela chave de honra da cidade de Lisboa a Durão por António Costa - sob a sombra tutelar de Sócrates - também teve essa ranhura com peso simbólico a florear a homenagem.
Portugal, a cidade de Lisboa em concreto, ganham algo com isso?! Do ponto de vista simbólico diria que sim, pois a política é, à semelhança da religião, um ritual de representações, de símbolos em que cada um representa um papel específico para que o conjunto tenha um sentido. Seja na realidade concreta seja no imaginário de cada um de nós.
E se a realidade concreta não permite supor que com Durão em Bruxelas quer Lisboa quer o Governo português - recebem mais apoios ou são objecto de um tratamento preferenciado no quadro da política global da União Europeia, já no domínio simbólico - desse capital do invisível - potenciamos a coesão interna e criamos condições psicológicas para eliminar algum nevoeiro político decorrente da indeterminação, indecibilidade e ausência global de saídas para este modelo quase-terminal de capitalaismo musculado em todos caímos.
Nesta perspectiva do simbólico, do imaginário - ainda que Durão diga que não percebe por que razão tem direito para receber a chave da cidade quando pensa logo nos milhares de portugueses da diáspora que estão em todos os cantos do mundo, creio ter sido particularmente feliz a ideia do Edil da capital - António Costa - em condecorar Durão Barroso com a chave de honra da cidade.
Isso permite-nos interiorizar o exterior, eliminar factores de indeterminação e potenciar o imaginário com o simbólico para que amanhã as condições de vida da cidade de Lisboa e dos seus munícipes sejam melhores do que são hoje.
Com ou sem chave, momentos há na vida das cidades e da comunidade humana em que o recurso aos símbolos e aos rituais é, não apenas o único instrumento que temos de equacionar a política na polis, como também o veículo mais económico e mais ambiental que encontramos para nos adaptar à mudança das globalizações competitivas imposta do exterior..., e sem licença prévia.
Tudo visto e somado é Lisboa que sai prestigiada deste ritual de interiorização do exterior. O resto são salamaleques que amanhã já ninguém se lembra.