sexta-feira

Obama e Hilária... Uma vitória e uma derrota anunciadas.

Jorge Pinto
À primeira vista poderá não ser fácil entender que Barack Obama e Hillary Clinton estejam a representar as mesmas cores partidárias. Os debates entre ambos são tensos e as divergências sobre temas fundamentais são muitas e indisfarçáveis. No último encontro televisivo dos dois pré-candidatos democratas à Casa Branca, a uma semana das decisivas primárias em Ohio e Texas, os senadores trocaram acusações e discordaram em matéria de saúde e guerra do Iraque.
Com Obama à frente da corrida - as sondagens voltam a dar-lhe favoritismo nas primárias da próxima terça-feira -, pertenceram a Hillary as principais investidas, durante o 20.º debate televisivo entre ambos, desta feita em Cleveland. "O senador Obama tem vindo insistentemente a afirmar que irei forçar as pessoas a ter seguro de saúde quer o possam pagar ou não", disse a senadora por Nova Iorque, garantindo que tal não é verdade.
Em resposta, o senador por Illinois assegurou não ter fundamento a alegação de Hillary de que ele deixaria de fora 15 milhões de pessoas do sistema de saúde.
No que toca à política externa, a conversa prosseguiu mais ou menos no mesmo tom ríspido. "No Verão passado, Obama ameaçou bombardear o Paquistão e não acredito que isso seja um boa decisão", disparou a antiga primeira-dama, que sofreu 11 derrotas consecutivas - desde a superterça-feira - e precisa, portanto, de vencer em Ohio e no Texas.
Obama recorreu ao Iraque para contra-atacar, sublinhando que sempre disse que os Estados Unidos da América não se deviam ter comprometido com a guerra. "Hillary Clinton afirma que estará preparada desde o primeiro dia [caso seja eleita], mas os factos demonstram que ela estava pronta para ceder a George W. Bush num tema crítico desde o primeiro dia", acusou o senador, numa alusão ao voto, em 2002, de Hillary a favor da invasão do Iraque pelos EUA.
Os pontos de vista dos dois democratas só se cruzaram quando abordaram o Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) e concordaram na necessidade de pressionar o México e o Canadá para renegociar o documento.
"Direi que deixaremos a Nafta se não renegociarmos o acordo. E vamos renegociá-lo em termos que sejam favoráveis para os Estados Unidos", frisou Hillary Clinton.
O acordo de livre comércio entre EUA, Canadá e México, assinado em 2004 durante a Administração de Bill Clinton, é muito criticado e considerado o responsável pela perda massiva de emprego no sector industrial.
Obama alinhou "Garantirei que renegociaremos o acordo da mesma maneira que a senadora Clinton disse."
Mc Cain à frente
O debate ocorreu num momento favorável para Obama, que, para além de ir à frente no número de delegados, recebeu mais um apoio importante do influente senador por Connecticut Chis Dodd, presidente da poderosa comissão bancária do Senado, e que foi um dos pré-candidatos democratas (abandonou a disputa depois das primárias de Janeiro em Iowa).
Além disso, uma sondagem publicada ontem pelo "Los Angeles Times" reforça o que outras já apontavam Omaba é o democrata mais bem posicionado para se bater com o republicano John McCain, praticamente garantido como o candidato do seu partido às eleições presidenciais de Novembro.
Segundo a sondagem, em confronto com Hillary, McCain obteria 46% e a antiga primeira-dama 40%. Se a disputa for com Obama, o resultado seria 42% para o democrata e 44% para o republicano. Já que há uma margem de erro de 3%, a segunda hipótese traduz um empate técnico.
Obs: É minha convicção que Obama só aguarda calendário, sendo certo que a América-profunda (já) é dele. Além de ter carisma, representa uma nova geração que incarna melhor a filosofia da mudança proclamada. Hilária lembra-me sempre a tia que já não vejo há anos, e que há anos dispensava ver... Depois, caso Hilária ganhasse (o que espero não suceda) como é que os americanos e o mundo em geral distinguiriam as medidas governamentais que a senhora tomaria de forma autónoma das do seu marido no aconchego do lar e no leito maternal?! Qual das pernas seria a dela e a de Bill Clinton que, sem dúvida, deve ter sido um dos melhores presidentes democratas do post-guerra. Mas ela é ela, sabe umas coisas de saúde, ele será sempre Bill Clinton. Um grande presidente que hoje se esforça por injectar a mulher na Sala Oval - mas, na realidade, irá asssistir à sua derrota.