quarta-feira

Luiz Pacheco é uma lição de vida que...** Fica.

O Macro deixa aqui o seu Bem haja ao legado literário e cultural de Luiz Pacheco que sempre teve a coragem, a lucidez e a arte de dar o grito quando todos viviam acabrunhados. E por vezes esse grito até era auto-destrutivo. O que deveria redobrar a atenção neste escritor, desta feita sem qualquer "paneleirice" que, infelizmente, acaba por estragar tudo nessa imperiosa avaliação. Caberá ao ministério da Cultura (e à sociedade civil, que não deve ser confundida com construção civil) fazer algo digno de registo. Talvez um pretexto para Isabel Pires de Lima fazer uma reforma - à boleia do Pacheco - que a salvará desta remodelação.
**... Viveu como verdadeiramente pensou sem curar de pensar como vivia: lema de tantos, praxis de poucos. No lado do activo tinha uma cabeça que o ajudava a pensar bem e a escrever melhor; no lado do passivo tinha uma condição socio-económica verdadeiramente miserável, infra-humana, para não dizer abjecta nessa descida aos infernos em que podemos cair.
Mas regresso a Pacheco pelo facto de me ter dado uma grande lição. Dizia ele que tinha amigos de 20 paus, de 50 paus, de 100 paus e por aí fora. Materialisticamente, Luiz Pacheco, esse escritor maldito, bissexual assumido e que dizia algumas asneiras no meio dos seus textos, sabia do que falava. E com aquela simplicidade catalogava na sua prateleira mental o armazém dos amigos que ia fazendo, por entre jardins, cafés e sítios outros pouco recomendados.
O curioso da estória é que à medida que o tempo passa também descobrimos que temos amigos de 5 paus, de 7, de 8, 9 e 10 paus. Gente oportunista, matreira, invejosa, pérfida e irada. Alguns doentes polares que não o sabem que são. Há-os em todo o lado, em campo aberto e nas arcadas, na província e na cidade - para onde migraram como as aves de rapina. O Pacheco, infelizmente, tinha razão.
E por ser como foi, um marginal que vivia no canto dos infernos, só alguns se lhe referiram devidamente. Mas tudo é vento que passa..., como diria o Eclesiastes, mas Luiz Pacheco fica.