domingo

Uma Farsa - por Vasco Pulido Valente -

UMA FARSA «A esquerda e a direita andam por aí muito excitadas por causa de Hugo Chávez, que o rei de Espanha mandou calar na XVII Cimeira Ibero--Americana. No primeiro dia, em que, muito à Fidel, arengou mais 20 minutos do que devia, Chávez resolveu chamar "fascista de todo o tamanho a José Maria Aznar", "magnata do petróleo" a Lula da Silva e "fascismo dos fascismos" à democracia americana. No dia seguinte, enquanto falava Daniel Ortega, da Nicarágua, Chávez recomeçou a insultar Aznar, fora de ordem e com o microfone desligado. Já farto do espectáculo, o rei de Espanha perguntou: "Por que não te calas?". Pergunta razoável, tanto mais que o homem insistia em ignorar as regras da reunião. Mas dizem que a cimeira ficou "gelada" e a "Europa" inteira discute agora a intervenção do rei. Hugo Chávez é um fenómeno político curioso. A velha esquerda ocidental, incluindo o dr. Mário Soares, fez dele um grande herói. Por antiamericanismo, evidentemente. E, como de costume, não quer ver ou perceber o que se passa na Venezuela (como antes não quis ver ou perceber o que se passava em Cuba). Parece que Fidel ressuscitou, para humilhação do "monstro" e deleite da já falecida "inteligência" progressista. Mas ninguém dá pela farsa em que se meteu. Com uma economia dependente do petróleo, Hugo Chávez não pesa. As palhaçadas revolucionárias com que se tem universalmente distinguido são a prova e o sinal da sua impotência. Está, de facto, reduzido a ameaçar, a berrar, a injuriar. O Brasil, a Argentina e o Chile olham para ele com embaraço e desprezo. Só em Cuba, claro, o admiram. Fidel foi importante por causa da guerra fria. Era uma base inimiga a uns quilómetros da América. Sozinho, Chávez não existe. Nem ele, nem Ortega, nem Morales, nem o mais que vier. A América pode, sem incómodo, deixar toda essa gente criar na sua terra uma boa miséria "bolivariana" e "socialista", como deixou o "marxismo" arruinar tranquilamente a África. E também não há qualquer razão para Portugal e Espanha participarem em aberrações como a Cimeira Ibero-Americana. A influência da Ibéria na América Latina é quase nula e a "Europa" (que Portugal e a Espanha tentam impressionar) sabe isso perfeitamente. De resto, a "iniciativa privada" que se arranje por si, como lhe compete, e a diplomacia profissional que ature Chávez, com paciência.» [Público assinantes, via Jumento] Obs: Um bom artigo de VPV, que visa tanto Hugo como Mário..., apesar do "caminho se fazer caminhando".