"Não poderás vencer a morte..." Evocação de Vergílio Ferreira

EVOCAÇÃO DE VERGÍLIO FERREIRA

Vergílio Ferreira foi, primeiramente, um pensador, só depois um escritor. Ainda lhe dei uns "bacalhaus" na Av. de Roma, apesar de ser homem de poucos amigos, ostentando sempre aquela cara de pau com a face cor de cera, como que antecipando o pior, que sobreveio em 1996.

Alguns nóbeis arrogantes, parvos e boçais que por aí vão passeando o seu tremendo ego de pavão - deambulando entre o burgo e Espanha, não conseguem ser nem uma coisa nem outra.

Ensinou no liceu Camões, ficou "apanhado" por Sartre (que ao pé de Raymond Aron sempre foi um anão a pensar Economia, Sociedade e Política - e falhou rotundamente nos diagnósticos que fazia do sistema comunista - validando as certezas estratégicas de Aron - o grande mestre da conjuntura post-45), vivia com a morte dentro do bolso, a Bertrand também nunca lhe pagava os direitos de autor a tempo e horas, o que poderá ter feito de VF um homem ainda mais seco, azedo e preso às coisas pequenas da vida, como a porcaria do dinheiro. Mas enfim...

Hoje recordamos VF porque ele queria saber o porquê e o para quê das coisas, e o sentido delas. Mas para entender o que isso vale, nenhum ser inteligente no mundo basta, pelo que ficaremos sempre com essa escuridão na cabeça, resta-nos especular e, dessa forma, espantar a morte - que um dia nos bate à porta de mansinho, mas também nos pode chegar pela Net, por SMS, pelo postigo ou soprada pelo portão de algum condomínio mais cercado de campos eléctricos.

Mas como dizia este maitre à penser:

Não poderás vencer a morte. Mas impõe-lhe a vida como um bandarilheiro e verás que muitas vezes ela marra no vazio.