domingo

Os "carrinhos" do professor Aníbal e a morte da cegonha...

Ontem Cavaco foi ao Distrito da Guarda contar anedotas acerca do nosso próprio subdesenvolvimento - social e humano - e nem sequer se apercebeu disso. De caminho deu de si uma imagem pacóvia, datada no tempo senão mesmo primária e basista de matriz terceiro-mundista.
Disse, na circunstância, que temos "falta de gente", e interrogou-se veementemente acerca dessa razão. Então o homem desconhece as razões (endógenas e exógenas) pelas quais os portugueses não nascem e não se fixam nas localidades, mormente das do interior do País!?
É óbvio que sabe, e deveria tê-las explicitado e, para elas, ter apresentado um conjunto de sugestões (em coordenação com o governo e quiça a API - liderada por um tal Basílio Hortas que se desconhece o que anda a fazer há anos...), pois é para isso que serve esse palavrão designado "cooperação estratégica".
Mas em vez disso o que é que Cavaco fez?!: contou anedotas acerca dos carrinhos..., pelos vistos muito apreciada entre os circunstantes, que também consomem aquele tipo de humor "altamente refinado" com óleo de bacalhau depois de ter saído do carter dum Mercedes da década de 70 após ter feito meio milhão de quilómetros sem ter aberto o motor.
Meu Deus!!!, perguntei-me para que servem o assessores e conselheiros que Cavaco tem estacionado em Belém!!! Penso que não havia "nexexidade"... deste tipo de anedotas, sobretudo naquele contexto de desertificação do país que tem "matado" o desenvolvimento do interior de Portugal.
A dado passo daquela elaboração anedotal - dos "carrinhos" - ainda pensei que, para justificar tanta "falta de gente", como asseverava Cavaco, o locatário de Belém explicasse esse défice com base na morte da cegonha - que vinha de França e transportava os bebés pelo bico.
Aposto que se contasse mais esta anedota da década de 70 muitos dos pacóvios circunstantes, designadamente o autarca local, também daria uma gargalhada ante a consternação geral do País que não deve ter achado piada nenhuma aquele humor "cavaquiano" agora a espirrar a partir de Belém.
Cavaco, e a sua equipa, deveriam perceber uma coisinha simples: na Europa o conjunto de sociedades que foram vitoriosas da globalização, expansão, industrialização e da evolução tecno-científica que também marcaram a cultura e a agenda política que durante muito tempo foram dominantes não só na Europa mas também no mundo, não encontra hoje correspondência nos indicadores de desenvolvimento social e humano nessa mesma Europa. Uma Europa que hoje (está velha, falida, doente e sem esperança) e busca refúgio nos valores da experiência do passado a fim de recuperar o tempo perdido e relançar a pujança de outros tempos.
Mas não é certamente a confundir as miniaturas com os carrinhos que Cavaco chega lá, nem era esse, segundo creio, a filosofia da tão badalada cooperação estratégica com o governo que Cavaco definiu em contexto eleitoral antes de chegar a Belém...
Quando se espera que Cavaco fale na revisão do modelo social, em políticas sociais activas, em atracção de investimento, em incentivos à fixação de "gente" no interior do País - ele dá-nos os "carrinhos" - que até me faz lembrar os carrinhos de choque das feiras que, por sua vez, me traz à memória o algodão doce da Feira Popular (e também das festarolas de província), os tirinhos das barracas das ditas - em que as pressões d'ar falhavam sempre o alvo porque a mira estava propositadamente desalinhada e, assim, o feirante não era obrigado a conceder o prémio.
Esta é também uma ideia do Portugal de Cavaco com o qual, decididamente, não me identifico. Nem com os "carrinhos" nem, já agora, com a morte da cegonha..., que gera essa "falta de gente" que o PR fala.
PS: Oferta de Natal antecipada a Cavaco deste - Classic Minis screensaver - para ele colocar no seu visor de PC. São os "carrinhos"..., da Matchbook. Perdão, miniaturas... Ahahahahahahahah)))) Agora palmas!!!
Sugira-se, de passagem, a Cavaco um novo catálogo de anedotas mais ajustadas ao tempo por forma a que o seu humor não seja tão datado obrigando-nos a recuar cerca de 30 anos no tempo, ao pré-25 de Abril - em que também não havia estradas para andar com aqueles carrinhos...
Os seus assessores e conselheiros - já que não conseguem sistematizar um conjunto de políticas públicas e de iniciativas que visem erradicar este fatalismo demográfico e económico em Portugal, serão, porventura, capazes de encontrar um filão de novas anedotas. Na net há muitas e boas...
O problema de Cavaco é que por vezes vê a realidade com óculos tão virtuais quanto misteriosos, e quando assim é apresenta-nos um País dual, feito a duas velocidades: o que se desenvolveu e povoou, e aquele outro que ficou atarracado e desertificou. Por falta de carrinhos, certamente!!!