sábado

Um Balanço - por Vasco Pulido Valente -

UM BALANÇO
«O congresso do PSD em Torres Vedras, o trigésimo terceiro, foi um congresso triste: a sala sempre vazia, poucas palmas, desinteresse geral. Verdade que já estava tudo resolvido e que a oposição não se apresentou. Mesmo assim, nem sequer a gente de Menezes pareceu muito entusiasta. Até o episódio do convite a Manuela Ferreira Leite ficou longe do melodrama habitual. Só o "tabu" do inevitável Santana excitou os jornalistas e fez com que o homem, sem dizer palavra e meio escondido, se tornasse o homem do dia. De resto, a televisão e a imprensa praticamente ignoraram a coisa. Menezes não saiu triunfante de Torres Vedras, como em princípio seria de esperar. Pelo contrário, saiu com arzinho de solidão e fraqueza, que alegrou o PS e consolou a oposição no exílio. É difícil saber o que isso irá pesar no futuro. Grande parte do que se passou no congresso não tem na prática qualquer importância. A comissão política, por exemplo, uma colecção estrambólica de antiguidades de museu e de parentes do militante anónimo, não vai com certeza garantir a unidade do partido. Mas não vai incomodar ou limitar Menezes, nem impedir que ele faça o que bem entender. O discurso "programático" do encerramento não rimava a bota com a perdigota e não convenceu ninguém com a mais leve necessidade de realismo e lógica. Mas falou convincentemente à execração que o país começa a ter pelo primeiro-ministro. A promessa de poder, em si própria, não vale nada. Mas serve para alimentar a vontade de desforra. Há ainda o caso de Santana na presidência do grupo parlamentar e a presumível ameaça de uma direcção "bicéfala". Suponho que Menezes preferia, de facto, outra pessoa. Só que é não compreender a natureza do animal, julgar que ele se preocupa muito com o espectáculo de Santana em S. Bento. Precisamente, o que ele quer é espectáculo. Quer um grupo parlamentar que "ataque", que berre, que se veja. A "credibilidade" à Marques Mendes não o interessa. Sócrates nunca perderá a maioria absoluta por causa da "credibilidade" do PSD. Como a maioria de Cavaco não caiu por causa da "credibilidade" de Guterres; caiu porque o país, do Bloco ao CDS, se "levantou" contra ela. Menezes percebeu isto. E pensa em repetir a façanha. Com uma ajudinha da crise mundial.» [
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