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Os galões de Sócrates - por Teresa de Sousa -

Os galões europeus de José Sócrates 19.10.2007, Teresa de Sousa Se hoje José Sócrates estiver em condições de anunciar um acordo sobre o futuro Tratado de Lisboa, a presidência portuguesa estará ganha. Ficará definitivamente associada a um marco fundamental da história da UE. É, pois, aqui que o primeiro-ministro português joga os seus galões europeus. Se ganhar, como provavelmente acontecerá, não se pode negar que fez por isso.
Não tem a experiência internacional e a vocação natural de alguns dos seus antecessores, a começar por António Guterres. Não se sente, provavelmente, tentado a embrenhar-se numa longa discussão sobre os destinos possíveis do projecto europeu. Possui, todavia, a teimosia, o pragmatismo e a tenacidade suficientes para a missão que tinha de cumprir desta vez: manter os seus pares sob absoluta pressão.
Poder-se-á dizer que boa parte do mérito da conclusão deste processo cabe à sua predecessora na presidência do Conselho Europeu. Sem a determinação de Angela Merkel de pôr cobro a um patético "período de reflexão" com que a Europa quis encobrir a sua crise política e negociar as bases de um novo tratado, a presidência portuguesa provavelmente pouco poderia ter feito. Se ontem, em Lisboa, já só faltava desatar os últimos nós, foi porque, há quatro meses, em Bruxelas, Merkel arrancou aos seus pares um mandato claro, preciso e exaustivo sobre o conteúdo do Tratado Reformador.
Mas houve um mérito inegável do primeiro-ministro português: ter decidido fazer da conclusão do Tratado a prioridade das prioridades da sua presidência. Com os riscos inerentes. Sabendo que não se trataria de uma tarefa fácil. Que exigiria persistência, habilidade e concentração e que, em caso de fracasso, arrastaria a presidência para uma triste irrelevância.