quinta-feira

Hoje foi mais um dia, mais um ano - do resto das nossas vidas, efémeras

Hoje o José Adelino foi para as Arcadas do Terreiro do Paço à procura do Fernando Pessoa e dos poemas dele e regressou de lá com uma (in)certeza: não sabe se quer ser independente. Talvez tenha razão. E a forma de hoje todos e cada um de nós sermos independentes é sermos cada vez mais dependentes.
A outra constatação desta passagem do tempo que passa é que hoje tudo é diferente, não apenas nas formas, mas na estrutura dura das sociedades, dos sistemas políticos, na forma de "fazer" a economia girar sobre as nossas cabeças. E a prova (come
zinha) de que tudo é verdadeiramente diferente está estampada nesta realidade: a velha cola do sapateiro... Já não se encontra, hoje só colas de bisnaga e de contacto com diluente à mistura...
Há dias pensei mandar meter umas meias solas num par de sapatos que estimo e que já me caminharam por muitas e longas vias e alguns becos de vida, mas quando percebi que o preço que tinha de pagar por elas era superior a um par de sapatos novo confirmei esta tese da velha cola do sapateiro: vivemos, de facto, num mundo diferente. Hoje tudo é possível, até transformar um homem numa mulher em minutos.
E os velhos sapateiros já são verdadeiras relíquias, por isso tão difíceis de encontrar como se vivêssemos animados do desejo de ir alí ao Martinho na esperança de encontrar o Pessoa. Em vez disso só vemos secretários de Estado e assessor-ze-cos da carris. Até nisto Portugal mudou: onde dantes se viam intelectuais, criadores, homens de cultura hoje encontramos líderes de facções, pequenos burocratas, alguma finança, directorias e parasitas de um Estado que, se calhar, já é mais espanhol do que português.
Mas temos de jogar o jogo, viver a vida, antes que a vida nos cilindre - como fazem certos bus da carris a traseuntes mais desatentos.
PS: Espero que o José Adelino nunca tenha motivos para abandonar a meio uma entrevista na Sic. Mas se tentar fazê-lo já sei o que é que ele pretende: ser PM, mas antes líder parlamentar...