quarta-feira

António Vitorino representa o Estado na Fundação Arpad Szenes

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Proença de Carvalho pediu afastamento António Vitorino é o novo representante do Estado na Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva
30.10.2007 - 19h16 António Vitorino é o novo representante do Estado na Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva, sucedendo no cargo a Proença de Carvalho, que pediu dispensa das suas funções há dois meses, avançou hoje o Ministério da Cultura.
António Vitorino, ex-ministro da Defesa do primeiro Governo de António Guterres (1995-99) e ex-comissário europeu para a Justiça e Assuntos Internos, será o novo administrador não-remunerado da fundação, depois de Proença de Carvalho ter pedido dispensa de funções.
O novo responsável assumirá funções numa assembleia-geral do Conselho de Administração da fundação, a realizar em breve, disse à Lusa Nelson Lopes, assessor de imprensa do Ministério da Cultura.
Em 2008, ano do centenário do nascimento da pintora Maria Helena Vieira da Silva, o orçamento do Ministério da Cultura, recentemente apresentado, destina uma verba de 500 mil euros à fundação, no âmbito do apoio à criação artística e à difusão cultural. Este ano, a verba recebida pela fundação foi de 418 mil euros.
A Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva tem um Museu e um Centro de Documentação e Investigação dedicados aos dois artistas plásticos, cujo objectivo é divulgar e estudar a sua obra, que se encontra em exposição permanente. Em Novembro de 1994, foi inaugurado o Museu, instalado na antiga Real Fábrica dos Tecidos de Seda de Lisboa, um edifício datado do século XVIII, situado junto do jardim das Amoreiras, em Lisboa.

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Obs:
Já me estava a preparar para saber quanto é que o António Vitorino iria ganhar para despachar o relatório de contas para o jornalista de serviço do Público cujo nome me escapa - que se ocupa dessas matérias, mas parece que o exercício do cargo não é remunerado. Que chatice... Já não há matéria.
O essencial, contudo, é fazer uma boa gestão cultural duma Fundação que, apesar de tudo, tem tido escassa penetração junto da sociedade. É sabido que o Estado português, por tradição, exiguidade de recursos e alguma inércia decorrente duma mentalidade tacanha não tem apostado - como devia - no apoio aos novos criadores de arte & cultura (pois o Estado também não é nenhum mecenas...) mas com esta nova gestão e alguns meios suplementares (e outros que possam angaraiar-se junto do meio empresarial) - talvez AV faça a diferença.
E a diferença neste caso será, porventura, fazer pensar aos criadores de arte que eles não são meros espectadores passivos dos acontecimentos, mas sim reconhecer um novo papel ao artista (que quando não é considerado um louco é um marginal) que faça renascer novas utopias (que serão as realidades de amanhã).
Quer dizer, por regra a "reforma do mundo" encontra sempre fundamento na obra e visão de cientistas, políticos, empreendedores mas nunca em criadores (puros e aplicados) de arte, talvez porque esta, entre nós, ainda é vista como um assunto para elites e críticos especializados que glozam as obras que vão a aparecendo - ante o divórcio do povo que, por definição, é insensível à arte (lato senso) - e quando vai à Gulbenkian olha para as paredes onde estão pendurados os quadros como fazia o Samora Machel: em passada de ganso e a bater palmas - como se duma palmaria paralamentar se tratasse. Ora isto não pode ser.
Daqui decorre o seguinte: uma Fundação como esta (Arpad Szenes/ Vieira da Silva) deve democratizar o seu espólio, estimular novos artistas, incentivar este eventual novo laboratório artístico a assumir novas perspectivas culturais com base no rico legado do casal que deu nome à Fundação e agigantou o nome de Portugal no mundo - de forma a que o mundo se possa recriar através duma matriz artística, por definição, criadora.
No fundo, qual será o papel de um Administrador duma Instituição cultural desta natureza senão o de - ele próprio - também se afirmar através duma gestão original capaz de estimular o criador de cultura a libertar-se de coisas tão incómodas como a doença, a velhice, a finitude da vida, enfim, a libertar-se da própria ideia de morte - reconhecendo na gestão da cultura uma função igualmente libertadora que aponte novos caminhos para jovens criadores que estão a despontar e que, a prazo, irão romper com os limites vigentes do mundo que temos.
Um mundo já não tão ligado ou dependente da tecnologia, da máquina e da Natureza - mas rejuvenescido através dessas ferramentas a que o homem de cultura - o (tal) Criador - saberá - com base no intenso legado de Arpad e Vieira da Silva - dar novo vigor e refrescamento. Era Agostinho da Silva que dizia que o homem não nasceu para trabalhar, mas sim para CRIAR...
Julgo também ser esse o papel do gestor cultural do séc. XXI. Por isso, desejamos aqui boa sorte ao António Vitorino na afirmação desses valores das artes e da cultura - e duma nova visão do mundo que deles possam renascer e afirmar-se.
Ao fim e ao cabo, por muito racional que seja o homem (através dos instrumentos fornecidos pela ciência) ele nunca surpreende a realidade, por vezes é até surpreendido por ela. Então, se assim é caberá aos novos intérpretes do mundo - os criadores - tornar esse mundo menos imprevisível, menos mau e inumano.
Neste segmento da produção de futuros (tão possíveis quanto prováveis na organização das sociedades) - sempre confiei mais nos artistas e nos homens de cultura do que nos cientistas (stricto sensu). Por regra, aqueles são sempre melhores profetas do que estes... E quando erram as consequências também provocam menos "baixas".