Sócrates, o multilateralista em contexto de globalização competitiva
Sócrates apresenta-se hoje no palácio de vidro da ONU para definir uma política assente no multilateralismo, sinal dos tempos após a América de Bush ter imposto ao mundo a hegemonia da República Imperial sem qualquer efeito positivo (ainda por cima assente num unilateralismo frustrado). Seja na economia, na política e no plano da segurança & defesa. Todos estes indicadores estratégicos pioraram - não apenas por causa do terrorismo em rede e desterritorializado que ganhou terreno, mas também porque a gestão política que g.w. Bush fez dos instrumentos de poder ao seu dispôr foram catastófricos, mormente o desastre que foi - e está sendo - a guerra do Iraque - em que o actual mordomo da Europa, zé Durão barroso também foi cooresponsável.
Mas fará sentido esta proposta multilateralista de Sócrates, presidente em exercício da UE? Creio que a resposta é afirmativa. Hoje nenhum país, por mais poderoso que seja, consegue resolver um conflito ou diferendo internacional, seja no domínio económico, ambiental, militar ou outro. O mundo descompartimentou-se e, como tal, exige soluções interdisciplinares, internacionais, estudadas e analisadas conjuntamente, e é este cross-over effect que podemos denominar de novo multilateralismo - em que o equilíbrio da decisão decorre sempre da conjugação dos interesses e dos valores sopesados a cada momento na conjuntura. Sejam eles o combate à pobreza, à Sida, à Malária, ao desemprego ou as próprias condições climáticas - que poucos respeitaram aquando da assinatura do Protocolo de Quioto, que hoje exige revisão.
Nesta conformidade, o que dirá Socas na ONU, em N.Y.? Falará, certamente, dos principais conflitos internacionais que exigem pacificação. E aqui inscrevem-se a situação do Kosovo e da estabilidade nos Balcãs, região por natureza instável e amplificadora de duas guerras europeias nas causas mas mundiais nos efeitos. Pelo que se prevê que Socas apele aos bons ofícios das partes interessadas na formulação de um estatuto razoável para a região.
Depois teremos outro berbicaxo: black & white, ou seja, gerir as relações Europa/África quando este Continente adiado é mais um depósito de corruptos e ditadores que exploram o povo, o território e engordam as suas contas privadas que colocam em bancos no estrangeiro. Aqui uma palavra de reforço aos direitos humanos, democracia pluralista, accountability por parte dos centros de decisão desses países deve impôr-se. O problema é que a base de raciocínio dirigida ao ditador Robert Mugabe também se coloca a Eduardo dos Santos que, lamentavelmente, ainda não conhece o significado da palavra Democracia no seu pobre vocabulário e praxis política. Mas alguma solução se encontrará, afinal Portugal já foi um grande império, razão de sobra que nos equipa a lidar com gente dessa estirpe.
Em suma: diria que Sócrates está no bom caminho como novel teorizador das relações internacionais em contexto de globalização competitiva. Vai a N.Y., para reafirmar uma doutrina política conhecida, fundada no multilateralismo e a partir da qual os processos e as instituições, públicas e privadas, deverão ser chamadas a participar na formação das principais decisões de âmbito global. O que exige permanentes consultas, trade-of de informação e negociação como método.
Enfim, Sócrates leva o guia europeu à América de Bush na esperança que este aprenda algo para não cometer erros no futuro.
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