segunda-feira

A nossa energia alternativa - por Francisco Sarsfield Cabral -

A nossa energia alternativa
(in Público, 6 de Agosto/07)
Na semana passada o barril de petróleo aproximou-se dos 80 dólares. Em preços reais (descontando a inflação) nos últimos 130 anos o petróleo só esteve mais caro em 1979-80, quando da revolução iraniana e da guerra Irão-Iraque. É mau para Portugal, o país europeu mais dependente do petróleo como fonte de energia, ao lado da Finlândia.
A OPEP (responsável por 42 % da produção mundial) resiste a colocar mais petróleo no mercado, para manter os preços altos. E no passado recente faltou investimento na extracção petrolífera da Arábia Saudita, impedindo-a de exercer o seu tradicional papel de swing producer e aumentar a oferta em fases de escassez no mercado.
A produção petrolífera está em declínio em várias regiões (Mar do Norte, Irão, Venezuela, México, etc.). Ora, do lado da procura, o consumo mundial aumentou 15 % nos últimos vinte anos. Na China quase duplicou.
Vem aí, então, uma catástrofe energética, tendo em conta que o preço do gás natural acompanha o do petróleo? Nem tanto. As reservas petrolíferas mundiais conhecidas são hoje quase 40 % superiores às apuradas há vinte anos – não obstante o petróleo que entretanto se consumiu e os repetidos alertas de que as reservas iriam acabar. A tecnologia evolui, permitindo extrair crude onde ele parecia quase esgotado.
O verdadeiro problema das reservas de petróleo está na sua concentração geográfica: quase dois terços delas situam-se no Médio Oriente. E a Rússia detém mais de um quarto das reservas mundiais de gás natural, fonte energética cada vez mais utilizada. Ou seja, a grande ameaça é política.
É verdade que houve progressos do lado do consumo. Como as novas tecnologias não gastam muita energia, as economias desenvolvidas estão agora menos dependentes dos combustíveis. E sobretudo aumentou a eficácia na utilização de energia.
Até nos EUA, onde o preço da gasolina e do gasóleo é mais baixo do que na Europa ou no Japão (porque sujeito a menos impostos) e por isso os automóveis gastam muito, o consumo de petróleo diminuiu nos últimos vinte anos, apesar de a economia americana ter entretanto crescido a bom ritmo. Na própria China, a taxa de crescimento do consumo petrolífero está agora abaixo da taxa de crescimento do PIB (12 % no segundo trimestre deste ano).
Na eficácia energética a situação portuguesa é dramática. Nós precisamos de muito mais energia do que os nossos parceiros europeus para produzir uma unidade de PIB. E essa diferença tem-se acentuado. Entre 2000 e 2006, um período de fraco crescimento económico e durante o qual Portugal recorreu mais ao gás natural, ainda assim o nosso consumo de petróleo aumentou vinte e tal por cento.
Combater este escandaloso desperdício de energia deveria ser a nossa prioridade – mas pouco se fala disso e menos ainda se faz. Entretanto, estão na moda, e ainda bem, as energias alternativas. Mas elas não trazem uma solução milagrosa. Algumas são caras (como as eólicas), outras têm efeitos indirectos negativos (como os biocombustíveis, que encarecem os bens alimentares ao aumentarem a procura mundial de cereais).
Por isso não se pode excluir, à partida, o nuclear. Mas, a nível mundial, o futuro está provavelmente no carvão, a fonte de energia cujo consumo mais subiu nos últimos anos (31 % desde 1996). Este velho combustível, que associamos à revolução industrial de há duzentos anos (a Inglaterra tinha carvão...), abastece hoje perto de um terço das necessidades energéticas mundiais. A China constrói, em média, uma central termoeléctrica a carvão por semana! Para a economia chinesa, o carvão é quatro vezes mais importante, como fonte de energia, do que o petróleo e o gás natural somados.
As reservas mundiais de carvão são imensas e estão melhor distribuídas geograficamente do que as reservas de petróleo e de gás. Mas o carvão é altamente poluente. A solução estará, então, em tecnologias “limpas” para queimar carvão. Algo em que acredita Peter Davies, o economista responsável pela BP Statistical Review of World Energy, que esteve recentemente em Lisboa a apresentar a edição de 2007 desta excelente fonte de informação (aqui utilizada).
Mas em Portugal quase não há carvão. Por isso, temos mesmo de nos empenhar na nossa melhor alternativa ao petróleo: a poupança, através de mais eficiência na utilização da energia.
Francisco Sarsfield Cabral
Jornalista
Obs: O Francisco dispõe aqui de muita informação privilegiada na qual valerá a pena meditar. Pois da sua "manipulação" resultará não só a saúde da economia internacional como também a nossa própria qualidade de vida. Mas, de facto, Deus foi muito injusto ao concentrar esses recursos energéticos em grande parte na região do Médio Oriente, fonte de intensa conflitualidade. E aqueles empresários que apostariam no nuclear em Portugal também não foram devidamente acarinhados pelo governo português... Veremos os desenvolvimentos dessas perspectivas dentro de 5/10 anos. Porventura, já andaremos de carros a alcool, a água ou até a vinho. Nestas duas últimas opções - a energia é comum à que nós próprios consumimos.