terça-feira

Crimes hediondos: uma hipótese sinistra

Por vezes a realidade trai-nos. Portugal e o mundo vivem um drama sem fim: a pedofilia. Por ele sequestra-se, vilipendia-se o mais sagrado da condição humana, mata-se. Tudo serve para satisfazer uma perversão da personalidade e do carácter de gente perigosa e doente que deveria estar internada e em tratamento intensivo - antes de ser devolvida à sociedade - a quem fazem perigar.

A noção de crime também é conhecida: um subconjunto de desviâncias, de infracções. Nuns casos tais crimes são praticados com astúcia, perversão e muito, muito sangue frio. Agora, por referência ao caso Madelaine, as autoridades estão a alinhar baterias para uma linha de investigação diferente, assente na morte por acidente ou mesmo no homicídio daquela criança que já desapareceu há meses.

Estas linhas não se reportam a esse caso concreto, mas inscrevem-se num quadro mais alargado que aqui simulamos para efeitos meramente especulativos e operacionais, como se mais um exercício da razão se tratasse.

Dito isto, e porque o crime sempre preferiu a sombra à luz, facto que forçou os criminólogos a privilegiarem a descrição, imaginemos agora a seguinte moldura de relações humanas que se encontra de férias em busca de prazer.

Vejamos este cenário sinistro (mas plausível): três casais, todos adeptos e praticantes de swinger (intimidades sexuais entre casais diferentes que trocam de parceiros em tempo real) resolvem iniciar essa prática num espaço comum. Entre eles há já animosidades anteriores, mitigadas com sentimentos complexos de ódio e prazer. Poderá, nesse grupo, haver acertos de contas antigos por fazer, recriminações, ressentimentos, ódios e rancores. Coisas do passado que só eles sabem..

Em rigor, essa prática sexual-grupal, pode representar uma terapia para acalmar esses ressentimentos, mas também pode servir para atear esse fogo e essas pulsões sexuais que existem entre os elementos desses casais, já velhos conhecidos doutros carnavais.

Imaginemos agora uma pequena surpresa: um dos filhos desses casais, acordado pelos barulhos provocados pela prática sexual-grupal, acorda e dirige-se para a sala onde essa actividade tem lugar, surpreendendo tudo e todos. Vamos também admitir que essa menina não é filha legítima de um dos casais, mas filha de outro pai - que no momento também se encontra alí, em plena carburação sexual - para desequilíbrio e desgoverno de todos.

Num ápice, aquilo que supostamente deveria ser um momento de puro gozo sexual, uma órgia romana com uvas e tudo, transforma-se num inferno, num desgoverno de emoções plurilocalizadas, sem que ninguém ao certo consiga raciocinar. Homens e mulheres em transe são piores do que adolescentes alcoolizados conduzindo o carro dos pais.

Um desses elementos masculinos, e porque o crime é sempre uma paixão levada ao extremo, deita as mãos a essa miúda (que interrompeu o seu momento de prazer supremo, registe-se que algumas dessas pessoas têm também disfunções sexuais, o que os torna mais agressivos e violentos) e joga-a frenéticamente conta a parede, batendo com a nuca essa criança acaba por morrer, diante daquela órgia desgovernada e com as pulsões ao rubro.

Repito que esta descrição não se reporta ao caso que está a chocar o mundo há meses a esta parte, mas poderá já ter acontecido mais vezes noutros casos sem que as autoridades disso tenham dado conta.

O que pretendo significar é o seguinte: o homem cede sempre à tentação da violência movido por ímpetos passionais, e todos os seus crimes têm origem na concupiscência e na cólera. E é daí que depois nascem as injúrias, as agressões, a violência, os homicídios, os envenenamentos, as calúnias, as conspirações, os subornos, o adultério, a sedução, o furto e toda uma miríade de factores que pode ajudar o que, em cada momento e em cada caso, se poderá prefigurar como sendo a interpretação (do crime) mais realista.

Casos de pedofilia ou outros que inundam este mundo feio, mau e perverso que hoje temos derivam essencialmente do facto de nós não termos sabido cultivar a virtude que as paixões como a cólera, o ódio, a inveja, a cupidez e as compulsões sexuais (na origem de muitos crimes) levando a melhor sobre o bom senso e a razão humanas.

O crime nunca compensa, pois mesmo quando eles ficam impunes os seus verdadeiros autores (materiais e morais) sabem sempre quem são e o que fizeram (porque têm memória), e isso não tem perdão neles nem na sociedade que cegamente os acolhe e não conseguiu descobrir e/ou reconstituir as fases que os obrigaria a pagar pelo que fizeram privando-os da liberdade.

E quando o homem não consegue fazer Justiça, convoca-se Deus, mas quando Este também é surdo e nada faz, o que nos cabe fazer?!
PS: Por vezes, pela pátria e pelos altos valores de Humanidade e de Justiça em que (ainda) acreditamos, teremos de dar uma "mãosinha" à PJ que parece anda perdida na selva que ela própria criou. Está na hora de limpar a lente, polir a razão e deixar de ser lerdinho das ideias. A investigação sempre foi para gente inteligente e perspicaz e não para mangas-de-alpaca, esses já colonizaram os partidos.