O paradoxo democrático nestas eleições intercalares em Lisboa
Consabidamente, de 4 em 4 anos há eleições, mas como Portugal é um país (a)normalmente original abriu vários precedentes: Guterres, depois Barroso e, agora, por incompetência e falta de liderança política - a CML foi obrigada a ir a eleições após se ter instalado um ambiente de podridão e de corrupção na CML, agravada com um défice financeiro tremendo que impede a autarquia de solver as suas despesas correntes de funcionamento. Isto é conhecido de todos, de modo que hoje os lisboetas estão confrontados com a busca de alternativas políticas, de modo a que a cidade possa alterar a composição do poder político sem ter de recorrer a métodos violentos.
Sucede que em geral essa alteração da composição do poder faz-se por efeito de desilusão ou de saturação da composição do poder existente, ou seja, o PsD que manietou Carmona Rodrigues, hoje novamente candidato, o que também é uma originalidade, mas é para vingar o pai-psicológico. Tudo isto é freudiano.
Todavia, esta passagem do positivo ao negativo pode dar-se apenas ao nível dos agentes políticos, quando estes perdem a sua função de protagonistas para ficarem limitados aos papéis formalistas de meros personagens, quando não de simples figurantes. Neste caso, a alteração da composição do poder pode ser feita pela substituição das personalidades, mantendo-se a linha de orientação programática, a dominação do sistema político pelo mesmo partido ou mesma coligação de partidos.
Ora, no caso de Lisboa, e a ser verosímil que António Costa não alcança a maioria absoluta (9 mandatos), estamos perante uma outra novidade: dado que se desconhece quem é que fará alianças ou acordos pontuais com o PS a fim de assegurar a governabilidade na CML, sob pena de estes dois anos serem mais do mesmo, num jogo de pura instabilidade e de chicana política.
É, com efeito, esta incerteza e risco que tornam a democracia perigosa e instável e até neocorporativa, servindo interesses particulares que nada têm a ver com o bem comum da polis que se pretende governar.
Tudo visto e somado, o melhor mesmo é apostar numa maioria absoluta - em nome da eficiência e da eficácia política de Lisboa e dos lisboetas.
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