sábado

Bertrand Russel e Agostinho da Silva "cruzados" por um tema comum: a Felicidade

Vejamos os conceitos de Felicidade em Bertrand Russel e em Agostinho da Silva para depois concluir por um tercium genius..
Russel examina detalhadamente todas as causas que contribuem para a infelicidade, como a competição, o tédio e a excitação, a fadiga, a inveja, o sentimento de culpa, a mania de perseguição e o medo da opinião pública e a maneira de reduzi-las ou até mesmo eliminá-las. Posteriormente, é feita uma análise dos elementos que podem definitivamente possibilitar - A Conquista da Felicidade, - como o entusiasmo, o afeto, a família, o trabalho, os interesses pessoais, o esforço e a resignação. Há, nesta obra pujante uma evidente prova da marcha humana em busca da felicidade terrestre e mundana.

Vejamos agora o conceito de Felicidade em Agostinho da Silva:

A primeira condição para libertar os outros é libertar-se a si próprio; (...) Hei-de vê-lo depois de despido de egoísmo, atente somente aos motivos gerais; o seu bem será sempre o bem alheio; terá como inferior o que se deleita na alegria pessoal e não põe sobre tudo o serviço dos outros; à sua felicidade nada falta senão a felicidade de todos; esquecido de si, batalhará, enquanto lhe restar um alento, para destruir a ignorância e a miséria que impedem os seus irmãos de percorrer a ampla estrada em que ele marcha.

Se fosse possível perguntar ao peixe o que era a felicidade no momento em que estava a ser pescado, ele saberia responder; mas com o homem a condição de ser Livre talvez não esgote a questão, e vá muito para além de não ser escravo.
O problema é que, mais ou menos, andamos todos perturbados, e quando nos perguntamos o que é a Felicidade - pura e dura - só me vem à cabeça uma resposta ciclotímica, resultante dum registo dos melhores momentos, logo secundados pelos menos bons.
E aqui depende da memória selectiva de cada um. Então, se andamos perturbados e nossa noção de felicidade só pode ser uma extensão natural dessa perturbação, qual espécie de estatística anormal sobre a Felicidade que, em certos casos, poderá redundar numa vã e vil tristeza, como diria o Luís Vaz que até inventou a ilha dos amores - metendo o homem no meio das mulheres - para aí deduzir também um precioso momento de felicidade..
Felicidade, serão as mulheres?! Decorre, pois, duma multidão de sintomas, não racionalizáveis, por vezes indicíveis. A felicidade são picos de luz nas nossas vidas. E só de pensarmos na noção de F. para encerrarmos algo de estático, quando o fenómeno é dinâmico, nem sequer nos apercebemos que a Felicidade remete-nos para outras escalas e grandezas patentes em conceitos como Destino, Verdade, Absoluto e o mais que nos pacifique interirormente. Mas tudo isto é relativo, pois basta uma simples dôr de dentes, como diria Vergílio Ferreira, para esquecermos aqueles conceitos.
Deste balanço, na linha de VF, diremos:
há o que somos para os outros e o que somos para nós. Ser feliz. Possivelmente o problema está num dente cariado.
Ser feliz é acordar e conseguir mexer os dedos dos pés...