domingo

O carrasco político da autarquia de Lisboa tem nome: António Preto

José Pacheco Pereira escreveu um artigo lúcido sobre as metástases deste PsD, e o António Preto é a metástase-mor dessa situação de podridão na autarquia lisboeta que inundou de gente completamente desqualificada e descalsificada que só dificultou a vida a Carmona, um ingénuo da política que resolveu vestis a pele do lobo..
«Por detrás de Carmona Rodrigues, ao lado, em cima, a aplaudir às claras, a conspirar às escuras, a conspirar às claras, a mover-se quer como um polvo, quer como aqueles pombos que vinham nos livros antigos de zoologia, um a que tinham tirado o cérebro e ficava firme e hirto, outro a quem tinham tirado o cerebelo e ficava ali pousado na sua própria gravidade, está uma entidade pouco visível em todo este processo. Na sua declaração, Carmona Rodrigues referiu-se-lhe de passagem sem a nomear. Esta terceira entidade na crise lisboeta, não sendo decisiva em nada de importante como seja ganhar eleições, é fundamental nas peripécias. Ora peripécias é o nome do processo de Lisboa a partir de agora. Esta entidade é o aparelho político do PSD em Lisboa, a distrital de Lisboa.
Duas prevenções são necessárias. Uma é que a distrital de que falo está muito para além da sua actual presidente, e pouco tem a ver com ela, já lá estava antes, estará lá depois. Os presidentes passam, mas os mesmos homens e mulheres lá ficam agarrados aos seus pequenos e pequeníssimos poderes, nas secções, uns na oposição, outros controlando secções onde funcionam como caciques há longos anos. Todos têm um longo historial de conflitos, agudíssimos pela proximidade, uns contra os outros, aliando-se e zangando-se conforme as conveniências, arregimentando-se atrás da "situação" (a distrital e o seu presidente, ou os autarcas em funções), ou combatendo-a sem descanso. São várias centenas de pessoas, do PSD, da JSD e dos TSD, que "militam" no preciso termo da palavra, mantêm as estruturas a funcionar, reúnem-se, discutem, organizam umas sessões, mas, acima de tudo, prosseguem uma actividade de marcação de território, de conquista ou minagem.
A segunda prevenção é que tudo o que eu digo sobre a distrital de Lisboa é aplicável ipsis verbis à estrutura idêntica do PS na capital. Os dois partidos funcionam da mesma maneira e têm um "pessoal" político que parece tirado a papel químico. E a questão está muito para além de ser do PSD ou do PS. Tem a ver com a degradação acentuada dos aparelhos partidários em Portugal. Revelam-se na sua actuação não só velhas tendências diagnosticadas há muito na "oligarquização" dos partidos, mas também as fragilidades do tecido político nacional e a crise dos partidos dentro da crise mais geral das mediações nas sociedades que caminham da democracia para a demagogia.
Eu conheço bem esta realidade porque fui presidente da distrital de Lisboa, onde ganhei duas eleições (uma das quais as primeiras directas no PSD) e perdi vergonhosamente uma. Foi a minha experiência política mais desastrosa, mais desgastante, menos rewarding, mas foi aquela em que aprendi mais e, num certo sentido, uma das mais interessantes para perceber muita coisa que se passa no PSD, e o próprio PSD e o PS. Prometo a mim próprio há muitos anos escrever uma memória destes tempos, mas talvez ainda seja cedo ou tarde de mais, até porque os nomes circulantes continuam por aí, e continuarão até morrer porque esse é o seu modo de vida. Já estiveram comigo, com os meus opositores, com os opositores dos meus opositores, com os amigos e com os inimigos, mas estão lá, que é o que interessa. Muitos deles são instrumentais na crise de Lisboa, uns a favor de Carmona, outros de Marques Mendes, outros virulentamente contra os dois, ou só contra um deles. Farão tudo para se defender e aos seus lugares, e farão tudo para varrer os outros dos lugares. É a lei da selva mais dura que para aí anda, com um grau de produção de "inimigos íntimos" sem dimensão fora da política, mas "eles" são a distrital de Lisboa e não há outra.
Tiro já da equação factores que têm hoje um pequeno papel em todo este processo. Um é a componente ideológica e partidária, a adesão a um corpo de ideias e políticas, uma obrigação de intervenção cívica, que nos primeiros anos do PSD era um motivador das suas "bases" e que agora é apenas uma sobrevivência inútil. As listas nas secções e na JSD não têm qualquer lastro ideológico e político e são quase inteiramente "posicionais": contra este ou aquele, de "oposição ao líder", ou ao seu serviço, a favor deste ou daquele grupo, deste ou daquele interesse. O essencial é constituir sindicatos de votos que ou são livres de se deslocarem ao serviço dos seus donos, ou são emanações de outros grupos e de outras pessoas, de cujo sucesso político ficam dependentes, como é o caso dos "santanistas". As velhas classificações, como a de "sá carneirista", são hoje meramente instrumentais e usam-se cada vez menos. Um dos grandes "sá carneiristas" que conheci numa secção dos subúrbios de Lisboa mal verificou que não seria recandidato a uma vereação, depois de fazer tudo, e foi mesmo tudo, para conseguir manter o lugar, acabou depois por procurar o PRD, o PSN e por fim o PDC, partidos que existiam apenas nominalmente, para conseguir candidatar-se contra o PSD. Existe ainda a "camisola", uma identidade laranja forte, principalmente nos mais velhos, mas é uma atitude póstuma nas cidades, embora ainda haja pelo país fora sobrevivências desta antiga cultura de partido, feita da resistência nos anos difíceis dos anos 70 e 80, ela está em extinção.
O segundo factor é a ilusão de que haja qualquer ética de serviço público, qualquer vontade cívica, qualquer projecto que não esteja ao serviço de objectivos que são para eles "profissionais" no sentido pleno, para si ou para os seus familiares e amigos. Ninguém quer verdadeiramente ganhar nada, mas querem manter o statu quo e esse statu quo é medido pelo número de lugares de que dispõe um grupo ou uma secção e a sua categoria (a resistência do aparelho do PS a eleições em Lisboa é da mesma natureza). Esses lugares são aqueles que aparecem nas estatísticas da oposição como as dezenas e centenas de militantes do PSD e da JSD (lembro, no PS é a mesma coisa) que entraram para este ou aquele departamento da Câmara de Lisboa, esta ou aquela empresa municipalizada, gabinete da vereação ou serviço municipal.
Há os fiéis de Santana que Carmona afastou e que são violentamente anti-Marques Mendes, há os fiéis de Paula Teixeira da Cruz herdados de António Preto, que são pró-Marques Mendes, há os opositores a Paula Teixeira da Cruz e ligados a Helena Lopes da Costa, secretária-geral proposta por Luís Filipe Menezes, há os que se colaram a Carmona e ao seu poder autárquico e que sabem que, se este cair, caem com ele para o ajuste de contas dos seus adversários, lugar a lugar, secção a secção, há os "companheiros" do vereador A ou B, o seu grupo de apoiantes a quem atribuiu lugares na estrutura da câmara e que sabem que tão cedo não voltam, há uma miríade de interesses instalados que resistirão manu militari. Não me admira pois que mandem o partido às malvas e queiram desesperadamente lá ficar, a não ser que percebam que a sua atitude é inútil.
Face a eles não adianta perguntar qual o poder de Carmona, Paula Teixeira da Cruz ou Marques Mendes, porque a resposta é quase nenhum. Terão, talvez, algum poder em 2008, mas todos os seus adversários trabalham afincadamente para que não estejam lá em 2008 a fazer as listas para 2009. Há uma frase atribuída a Jaime Gama sobre os jornalistas, que dizia que "ou se tinha poder para os despedir ou dinheiro para os comprar". Infelizmente para todos, a situação nos partidos não é muito diferente e ninguém tem nem uma coisa nem outra.» [Público assinantes Link]
Parecer:
JPP escreve um artigo em que denuncia os aparelhos partidários apontando o dedo ao responsável pela crise a que se assiste na CM de Lisboa.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se na totalidade e acrescente-se a fotografia do responsável pela crise na CML.»
O CASO CARMONA
«Marques Mendes sempre disse e repetiu que a confiança política do PSD não dependia das decisões do Ministério Público. Infelizmente para ele, o argumento é circular: o PSD não retira a confiança política a ninguém por ter sido arguido de um crime grave, mas se alguém for arguido de um crime grave deixa de merecer qualquer espécie de confiança política. O caso de Carmona exemplifica bem este embaraço. Em Janeiro, Marques Mendes não exigiu a demissão de Carmona, quando a ingovernabilidade da câmara já era manifesta. Mas não hesitou em a exigir agora, com a câmara tão ingovernável como em Janeiro. Onde está a diferença? A diferença está em que, entretanto, o Ministério Público resolveu arguir Carmona Rodrigues. Não vale a pena insistir que as coisas não se passaram assim. Factos são factos.
Anteontem, tudo parecia enganadoramente bem. Parecia que o eng. Carmona aceitava com resignação o seu destino e que Marques Mendes, segundo declarou em conferência de imprensa, ia sem dificuldade e sem escândalo levar o partido a eleições. Só que ontem, de repente, Carmona estragou este idílio. Afinal, não chegara a nenhum entendimento com Marques Mendes. Pelo contrário, de acordo com a nova versão da história, o PSD assistira, num "insuportável silêncio" e "passividade", à campanha para correr com ele. E ele não "abandonava o barco" ou "permitia que o atirassem pela borda fora". Um gesto fútil, claro, e que a maioria do país provavelmente reprova ou, pior ainda, acha patético. Os vereadores do PSD não vão, com certeza, seguir Carmona e ele acabará por sair, humilhado e à força.
Sucede que, para o indivíduo Carmona, esta resistência talvez faça sentido. Deixar mansamente que o pusessem na rua equivalia a uma confissão de culpa. Para ele próprio, que não protestara, e para o público, que o veria dali em diante como um corrupto. Não chega insistir, como insistiu Marques Mendes, que um arguido não é um condenado. O cidadão comum não se interessa por esse género de subtileza. Na cabeça vulgar, o PSD não despediu Carmona porque o achava honesto. Por outras palavras, houve, de facto, um julgamento sumário e uma pena efectiva. O putativo "réu" ficou com a reputação definitivamente arruinada. Não admira que, em desespero de causa, tentasse equilibrar a balança, mesmo sabendo que o exercício é inútil e até ambíguo. O episódio justifica uma certa inquietação. Dando por indiscutível a seriedade e o carácter de Marques Mendes, resta que não se deve confundir "credibilidade" e justiça e que, na prática, elas se confundiram.» [Público assinantes Link]
Parecer:
Vasco Pulido Valente tem destas coisas, de vez em quando é brilhante.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se na íntegra
As coisas que o Jumento descobre. O António Preto um dia ainda será devidamente historiografado. Um cacique da pior estirpe que inundou a câmara lisboeta da pior escumalha da secção do PSd de Benfica e conexos, ainda me lembro dele aqui há uns 15 anos quando - naquele seu estilo meio brujesso meio emproado, tocava às campainhas das portas incomodando as pessoas com uma lata de feirante terrível, e depois de lhes prometer empregos dentro do alguidar do PSD punha-os a colar cartazes com ele a servir capataz. Também bateu à minha porta, mas não entrou e regressou pelas escadas, sózinho.
Qualquer pessoa inteligente topava à légua a personalidade deste cacique e traficador de influências que foi talvez, e muitas pessoas desconhecem isto, o principal responsável pelo ambiente de completa podridão que hoje se vive na autarquia de Lisboa, com o ingénuo do Carmona totalmente refém deste tipo de oportunistas da política - que, em rigor, não sabem fazer mais nada. O Preto deste PsD - por analogia - funciona para a autarquia como aquele leão para o desgraçado que lhe serviu de presa. Só que aqui a presa são os lisboetas que não pagaram para assistir a este circo...
E Marques Mendes - o que fez com o Preto quando este fora acusado de corrupção no caso da falsificação das cartas de condução duma empresa do Norte? Manteve-o, sustentou-o, engordou-o e segurou-o como deputado na AR mandando às malvas a sua doutrina de moralidade de trazer por casa, de virtudes públicas, vícios privados. O Preto foi, de facto, o carrasco desta autarquia, e o Carmona foi a sua presa. Disso ninguém tenha dúvidas...
Caught On Tape: Lion Attacks Man In Cage