segunda-feira

O problema da Europa e o homem-macaco do futuro

Comemora-se o cinquentenério da Europa, e sabemos que sem ela a paz, a liberdade, a democracia, o rule of law, a prosperidade e o bem-estar (relativos) seriam ainda valores mais precários entre nós, no Velho Continente. Aliás, já em 1991 Robert Reich, secretário de Estado do Trabalho da administração Bill Clinton, explicava no seu livro The Work of Nations que a mundialização económica prometia com tanto sucesso, pelas instituições de Bretton Woods, levar as classes mais ricas a separar o seu interesse do interesse nacional e, ao mesmo tempo, a não se sentir obrigada a ter qualquer tipo de preocupações para com os seus vizinhos mais desfavorecidos.
Nesse contexto, a minoria dos super-ricos formava uma uma aliança quase apátrida em virtude da qual o interesse geral se confunde com os seus interesses financeiros particulares.
Esta confusão, para agravo de todos nós, instalou-se no mundo inteiro, tal a amplitude do processo, de modo que a clássica separação entre rios e pobres feito com base no Norte e no Sul já não faz mais sentido ou assume significado nos nossos dias. A divisão emergente não é mais entre Norte e Sul, mas entre classes e expande-se dentro do mesmo espaço nacional, no seio da mesma sociedade onde todos, para miséria geral, coabitam vendo essas desgraças na vitrine da globalização predatória.
Qualquer que sejam as intenções das políticas públicas vindas do sistema económico e financeiro internacional - parece que o resultado é sempre o mesmo: habilitar inexoravelmente os mais ricos - (que vez cada podem e conseguem reclamar mais riqueza) do mundo - às custas daquela outra parte que já se arrasta e nem com as pernas pode.
Talvez por este estado geral a que nós chegámos seja razoável referir, na linha do poeta brasileiro Mário Quintana, que o que nos impressiona, à luz de um macaco, não é que ele tenha sido o nosso passado, mas o pressentimento de que ele venha a ser o nosso futuro..