sábado

O peso da memória. Cavaco é "escravo" das pulsões...

Consabidamente a Europa atingiu a meia idade, por isso é natural comemorar esse feito de integração europeia que reconstruiu a Europa do post-II-Guerra Mundial. Nesse contexto todos os países preparam o folcore politico-diplomático visando esses festejos dentro de portas e no contexto europeu.
Foi nesse quadro que perguntaram a Cavaco porque razão não convidou o ex-PR, Mário Soares, a estar presente nesse festejo. Cavaco respondeu que a questão não merecia especulações, pois ele até se digna ouvir todos os ministros dos negócios estrangeiros, secretários de Estado, Directores-gerais, altos quadros do Estado (desconhecemos se também audita os estafetas e as mulheres da limpeza) mas não se dignou convidar Mário Soares que, como é sabido, desempenhou um papel preponderante em todo esse processo e até assinou o processo de adesão em 1986 nos Jerónimos. Pelo que não o convidar não é "só" um esquecimento ou uma omissão bem lembrada, é antes o reflexo de um traço de personalidade intrínseco a Cavaco que ainda não consegui esquecer as "farpas" que Soares espetou a Cavaco em contexto eleitoral na corrida para Belém. Isto significa que Cavaco nem esquece nem perdoa, tem uma memória altamente selectiva.
Todavia, para além destas razões psico-políticas que consubstanciam um seu traço de personalidade, existem outras razões que remetem aquelas pulsões para um patamar mais estrutural acerca do que é a política e das condutas e comportamento que ocorrem dentro dela..
E o que é a Política? - Exclusiva dos Bons sentimentos?
- não é, certamente.
Onde existe a Habilidade e a Astúcia?
- por pouco tempo...
O domínio da Força?
- certamente.
O do Direito?
- às vezes, segundo as doutas palavras de um politólogo de referência, Julien Freund.
Foi exactamente isto que ocorreu na cabecinha de Cavaco ao não convidar Mário Soares para as comemorações portuguesas do cinquentenário da UE. Cavaco, no fundo, sabe que a política é tudo e não é nada. Cavaco não esquece, nem perdoa as tiradas de Soares na campanha eleitoral.
Contudo, Cavaco esquece-se que hoje é PR de todos os portugueses, e não só daqueles que detestam Mário Soares, razão por que o deveria ter convidado. Se o fizesse revelaria magnanimidade e bons sentimentos. Não o fazer só serviu para denunciar os seus maus fìgados.
Para quem tivesse dúvidas tem aqui a prova provada. Tudo em política tem um preço, tudo...
  • PS: Sugerimos a Soares que não fique triste por o convite não ter aparecido, Cavaco também não me convidou a mim nem a muitos milhões de portugueses. Soares que se "vingue" e faça meia dúzia de artigos na Visão e noutros meios que lhe possam conceder tempo de antena, sem nunca mencionar o nome de Cavaco... Nem que seja para dizer aquilo que todos nós já sabemos, ou seja, que também o tratava muito mal a partir de Belém - no tempo em que voavam cinzeiros pelas janelas em direcção a S. Bento.. Isto era na época em que Cavaco utilizava duas expressões que informaram a gramática política de então: "deixem-me trabalhar" e "forças do bloqueio"... Ninguém esquece nada, Nada...