quinta-feira

Lobistas ou mais do mesmo? Valerá a pena equacionar a questão...

Lobbyistas invadem corredores do Parlamento Francisco Almeida Leite Depois da agência de comunicação LPM, agora foi a vez de o Grupo YoungNetwork pedir a Jaime Gama a acreditação permanente na Assembleia da República. Na carta para o presidente do Parlamento aquela empresa sustenta que "a AR, pela sua actividade, gera informação, decisões e práticas que devem estar ao alcance de todos os agentes de comunicação".
João Duarte, líder do Grupo YoungNetwork - que reclama ser uma das dez maiores no sector em Portugal, apesar de apenas ter seis anos -, garante a Jaime Gama que "todos têm a ganhar com esta modernização progressiva". E explica: "A força institucional da AR será maior, o trabalho dos grupos parlamentares e deputados mais reconhecido, os jornalistas e agentes de comunicação terão mais e melhor informação e os cidadãos uma perspectiva muito mais positiva do que é feito no Parlamento".
Esta carta surge numa altura em que o Parlamento, por decisão de Gama, ainda está a fazer um estudo sobre o que se passa lá fora em matéria de presença de agências de comunicação nos órgãos de poder. Contactado pelo DN, o gabinete de Gama assegura que "ainda não foi tomada nenhuma decisão" em relação à primeira carta, a de Luís Paixão Martins, que lidera a LPM, agência responsável pelas campanhas eleitorais de José Sócrates e de Cavaco Silva.
Paixão Martins diz não ter pressa, mas admite que continua" à espera que a AR delibere". Embora a LPM ainda não esteja acreditada em termos oficiais, os consultores de marketing institucional da empresa têm sido vistos recorrentemente nos corredores parlamentares, mas com cartões de visitantes, como foi o caso de uma iniciativa recente que teve como cliente a Associação dos Industriais do Tomate. "Isso sempre se fez", garante Paixão Martins.
Obs: É costume dizer-se que só os burros é que não mudam de ideias. Confesso aqui já ter colocado sérias resistências à possibilidade de introdução desta agências de comunicação na esfera do espaço público, mormente na casa da democracia: o Parlamento. O risco da penetração destas agências na produção de informação é o da empresarialização da política, tornando-a refém de interesses (neo)corporativos contribuindo, assim, para agravar as condições de vida democrática e de acesso à informação que o cidadão comum hoje dispõe. Mas há quem não esteja satisfeito com o trabalho que o jornalismo clássico hoje faz, pelo que mais concorrência era capaz de agitar as águas, aumentar a qualidade e o caudal da informação, e desde que essa actividade fosse cirurgicamente regulamentada a ponto de prever a forma como se poderiam dirimir potenciais conflitos de intereses entre a actividade de informar e a representação de interesses económicos (que teriam de ser previamente declarados) - não vejo como não aceitar essa experiência informativa em Portugal. Por regra, o que mais interessa aos políticos são os movimentos intermédios e superficiais da opinião, que se reflectem no dia-adia da administração e do governo. A questão aqui a saber é se se poderá fazer algo do lado do consumidor final da informação - que somos todos nós - desde que não seja à custa duma diminuição da qualidade ética e social da democracia em Portugal. Resumindo: eu, se fosse o filósofo Jaime Gama, que é um homem avisado e prudente, equacionaria esta possibilidade, porque dela até podem resultar benefícios para todos nós. Afinal, vivemos num mundo em que o conhecimento é poder, e se for a informação que gera ambos teremos de a tratar convenientemente.