Confronto entre Granadeiro e o Santander, a quem chamou "Traidor"
Confronto entre PT e Santander
PT e Santander em choque
As acusações de Granadeiro – ”o Santander é um banco traidor” – provocaram a reacção do lado espanhol, que contra -atacou. Os parceiros de negócio estão em guerra.(link)
Sílvia de Oliveira
A OPA que a Sonaecom lançou sobre a PT está morta há uma semana, mas os estilhaços da guerra que opôs as duas empresas ao longo do último ano começaram a causar ferimentos graves. Os derrotados não pouparam críticas, sobretudo, ao Governo e à estatal CGD, por causa do desfecho da oferta, mas, as acusações mais pesadas acabaram por ser protagonizadas por um dos claros vencedores.
Ontem, em entrevista à “Visão”, Henrique Granadeiro, presidente da PT, foi tudo menos brando e acusou o Santander de ser um “banco traidor” porque “tinha um grau de conhecimento da vida interna financeira da PT que torna discutível, para não dizer condenável, o facto de, com base em conhecimentos íntimos, ter financiado uma OPA” sobre a operadora.
O líder da maior empresa de telecomunicações portuguesa e o rosto da oposição à OPA não concretizou, nem fundamentou, as suas acusações, mas espalhou a suspeita. Ficou, no mínimo, implícita a ideia de que o Santander terá utilizado, em benefício do rival Sonaecom, informação sigilosa sobre a PT para estruturar o financiamento de toda a operação. Um ataque que põe em causa a independência e prestígio do maior banco ibérico que, para já, se limitou a emitir um comunicado lacónico, onde repudia as acusações “de despropositada gravidade” de que foi alvo e a garante que sempre pautou e pautará a sua actuação “com total respeito pelo sigilo e defesa da informação privilegiada”.
No último parágrafo, o banco espanhol conclui: “Finalmente, e atenta a despropositada gravidade das declarações do dr. Henrique Granadeiro, entende o banco repudiá-las, e informar que não têm qualquer fundamento, nem o desresponsabilizam pelo facto de terem sido proferidas no rescaldo de uma operação de elevado desgaste”. O Diário Económico tentou obter junto da PT e do Santander Totta mais informações que permitissem esclarecer o âmago do problema, mas os esforços foram infrutíferos. As duas empresas remeteram-se ao silêncio, tendo recusado prestar qualquer esclarecimento adicional. Não será, no entanto, de estranhar que este incidente, dada a sua gravidade, venha a ter novos desenvolvimentos, porventura, jurídicos. Ou que as relações bancárias ainda existentes entre o Santander e a PT acabem por desaparecer totalmente. A estas questões, a resposta da PT e do Santander foi um mero “não fazemos comentários”.
Não foi a primeira vez, durante esta OPA, que Henrique Granadeiro “incendiou” o terreno da OPA. Pouco antes do registo da oferta, a PT acusou, em declarações ao Diário Económico, o regulador do mercado de capitais de parcialidade na análise da oferta. Uma mensagem que mereceu uma resoluta reacção da CMVM, que, perante tal acusação, optou por avançar com uma queixa-crime, por ofensa agravada a pessoa colectiva, contra responsáveis da PT.
Henrique Granadeiro terá, seguramente, consciência de que as suas palavras não são meros desabafos de quem passou um ano sob forte ansiedade e esforço, nem tão pouco uma mera reacção de quem saiu em ombros da assembleia geral da PT onde a maioria dos accionistas ditaram a morte da OPA de Belmiro e Paulo de Azevedo.
É por isso que seria desejável que as cartas fossem todas postas em cima da mesa. Também ontem foi perguntado a Zeinal Bava, braço-direito de Henrique Granadeiro, se corroborava as acusações feitas pelo seu presidente e a resposta foi: “Como ex-banqueiro, não comento”.
O que este episódio pode revelar é que, afinal, o que mais se temia acabou por se concretizar. Na maior OPA de sempre, em jogo acabou por estar, afinal, mais do que o controlo de uma das maiores empresas portuguesas. Os interesses em confronto foram muitos e, inclusive, a demora e combatividade poderão ter propiciado também a existência de erros, a exaltação de egos e o aparecimento de ódios.
Umas das dúvidas que acompanhou a OPA desde o seu início foi o interesse do BES na oposição à oferta da Sonaecom, tendo-se chegado a admitir que uma das razões consistia no facto de este banco deter uma posição privilegiada na prestação de serviços financeiros à operadora. Tal acabou, no entanto, por ser negado, várias vezes, por Ricardo Salgado. O presidente executivo do BES sempre recusou o papel de principal banco da PT, o que Henrique Granadeiro acabou por confirmar na sua polémica entrevista à “Visão”. Este gestor atribuiu o primeiro lugar do pódio ao Santander que, por sua vez, também nega a categoria de banqueiro principal.
Os conflitos causados por esta OPA prometem, no entanto, não ficar por aqui. A ligação da Telefónica à operadora portuguesa, como principal accionista e parceira da brasileira Vivo, já foi questionada pela própria PT, pelo BES e até pelo Governo. Em entrevista ao Diário Económico, publicada na segunda-feira, Mário Lino, ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, dizia entender as reticências manifestadas depois dos espanhóis da Telefónica se terem colocado ao lado de Belmiro de Azevedo. “Como é que uma empresa pode defender e votar favoravelmente a desblindagem de estatutos da PT, se ela própria tem limitações ao exercício de voto dos seus accionistas?, questionou o ministro na primeira entrevista que deu após o desfecho da OPA.
A ofensiva da Sonaecom sobre a PT morreu e até pode ter sido enterrada, mas os despojos da guerra deverão demorar muito tempo até desaparecerem.
A resposta do Santander
“”O dr. Henrique Granadeiro, em entrevista dada à Visão intitulada “Não estamos paralisados”, proferiu com destaque declarações de descontentamento pelo facto do Grupo Santander ter aceite apoiar a Sonaecom, fundamentando aquele seu descontentamento no facto de a PT ser cliente do Banco Santander Totta.
“Face a estas declarações, entende o Banco ser seu dever esclarecer, em primeiro lugar, que está e estará sempre disponível para apoiar, sem exclusividades, os seus clientes (...) no rigoroso cumprimento das suas obrigações legais e de elevados padrões éticos, com total respeito pelo sigilo e pela defesa da informação reservada.
“Em segundo lugar, esclarece o Banco que só o facto das declarações do dr. Henrique Granadeiro terem sido proferidas em forma ofensiva do bom nome e prestígio do Santander, o levam a quebrar a sua habitual discrição de banqueiro. É neste contexto que o Banco desmente e lamenta profundamente as infelizes declarações do dr. Henrique Granadeiro, em que refere que “O nosso principal banqueiro era o Santander, o Banco que conhecia a nossa vida intima como nenhum outro” ou “(…) com base em conhecimentos íntimos ter financiado uma OPA contra nós”. O Banco manifesta simultaneamente o seu profundo respeito pelos seus clientes, Sonae (da qual temos sido o principal Banco) e Portugal Telecom, bem como por todos os Accionistas de ambos os Grupos, sejam eles clientes do Banco Santander Totta ou não. Finalmente, e atenta a despropositada gravidade das declarações do dr. Henrique Granadeiro, entende o Banco repudiá-las, e informar que não têm qualquer fundamento, nem o desresponsabilizam pelo facto de terem sido proferidas no rescaldo de uma operação de elevado desgaste.
Henrique Granadeiro - CEO da PT
O ataque foi claro e directo: [O Santander] “é um banco traidor, porque tinha um grau de conhecimento da vida interna financeira da PT que torna discutível, para não dizer condenável, o facto de, com base em conhecimentos íntimos, ter financiado uma OPA sobre a PT”. Em entrevista à “Visão”, Granadeiro acrescenta ainda que o Santander era “o principal banqueiro” da operadora, desmentindo qualquer tratamento preferencial para o BES na Portugal Telecom.
Nuno Amado - Presidente do Santander
A resposta às críticas de Granadeiro veio na forma de uma “nota de esclarecimento” enviada pelo Santander Totta. Nela, o banco “desmente e lamenta” as “infelizes declarações” de Granadeiro, acrescentando que as mesmas, e as acusações dirigidas ao banco, “não têm qualquer fundamento”. Há ano e meio, quando a OPA começou, foi Horta Osório que liderou a aliança com a Sonaecom. Agora, cabe a Nuno Amado responder aos ataques da PT.
Mário Lino - Ministro das Obr. Públicas
O sim da Telefónica à desblindagem da PT teve direito a um “puxão de orelhas” do Governo. “Como é que uma empresa que tem os seus estatutos blindados em Espanha acha que a PT não deve ter”, referiu Mário Lino ao DE. “Parece uma situação estranha.”
E quanto ao futuro da aliança PT-Telefónica no Brasil? “Isso não é uma questão política”, acrescentou Mário Lino. Mas o parceiro espanhol tem condições para continuar na PT? “Esses assuntos discutem-se com os accionistas, uma pergunta lógica, mas não vou discuti-la.”
Ricardo Salgado - Presidente do BES
“As empresas vão ter que conversar e vão, provavelmente, chegar a uma conclusão que será melhor uma separação das duas.” Tudo porque, acrescentava há poucos dias Ricardo Salgado, “a posição da Telefónica se extremou demasiado e passou a ser o elemento que não faz sentido dentro de uma política da PT que pretende manter o seu investimento no Brasil e na Vivo”. Em entrevista à RTP, o presidente do BES lembrava, desta forma, o apoio espanhol à Sonaecom e à desblindagem dos estatutos.
Paulo Azevedo - CEO Sonaecom
“Ao Governo incumbe uma especial responsabilidade. Tendo preferido o outro projecto [o da PT] , assumindo que as vantagens para os consumidores seriam em qualquer caso alcançadas, fica publicamente ainda mais comprometido”. Morta a OPA, a Sonaecom apontava assim, num comunicado, as responsabilidades de cada uma das partes. Ao Executivo caberá assegurar que a PT compete num mercado aberto. Aos outros coube a morte da OPA que a CGD chumbou com a liberdade de voto dada pelo Estado.
Belmiro de Azevedo - Presidente Sonae SGPS
“Algo se passou para fazer a administração da PT mudar de ideias.” O quê? O patrão da Sonae não quis apontar o dedo me véspera da AG, mas deixou no ar a suspeita. “A administração da PT teve uma reacção eufórica depois de anunciarmos o nosso aumento para 10.5 euros por acção. Essa reacção de satisfação deu lugar a uma grande agressividade.” E o que motivou esta mudança? “Não percebemos que interesses estão a representar com esta mudança de posição”, acrescentou.
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