A sincronicidade de Jung ou a LIberdade e necessidade de Tolstoi
O que Jung não sabia era que, dezenas de anos mais tarde, a sincronicidade fosse a chave da comunicação no mundo moderno. Pode haver blogues e jornais livres e jornalistas absolutamente sérios e impolutos - mas cada vez há menos acasos na actualidade. E, por isso, quando leio uma notícia, qualquer que ela seja, pergunto-me sempre mais do que aquilo que a própria notícia me pode responder. De onde vem? Quem ganha com ela? Quem perde? Quem me traduz o que significa o tempo em que ela aterra nesta página?
A sincronicidade foi descoberta para ajudar os homens a aceitar que nem tudo é determinado pela vontade própria, que não dominamos os mecanismos todos da vida, especialmente aqueles que o nosso inconsciente gosta de manipular. Mas agora, tantos anos depois, a sincronicidade serve para nos baralhar, confundir e atirar areia para os olhos. E parece não servir para mais nada."
Obs: Rolo Duarte descobriu que está mais mais velho e também mais desconfiado. Deve ser um mal comum do tempo. Esse mestre, o tempo, em lugar de nos trazer bondade, ingenuidade, pureza só nos arrasta para o turbilhão das cicatrizes, que melhor percebemos porque com a idade também ficamos mais lúcidos, além da memória que se amplia como um armazém com obras feitas que passa a poder armazenar mais mercadorias-informação. Mas aquilo que Jung apelida de "sincronicidade" - e que serve para nos "baralhar e confundir e atirar areia para os olhos", como diz o articulista no dn, pode resultar de dois conceitos mais potentes e simples: a necessidade e a liberdade. É com base na combinação destas duas variáveis que podemos avaliar o papel dos homens na história, do movimento e dos efeitos dos actos livres de cada um de nós, anónimos que compõem o género humano. Ou seja, aquilo que Jung chama de sincronicidade decorre da decisão livre de cada um de nós, individualmente, que conta pouco em si próprio na cadeia dos acontecimentos, mas o efeito final dessas inumeráveis acções diparadas em todas as direcções consubstancia o tal sentido histórico do conjunto. Na prática, e creio que Carl Jung percebeu isso, a livre decisão de cada homem está condicionada pelas circunstâncias vigentes no momento e pela divina providência que lhe garantiu aquela concreta liberdade de decisão. É algo misterioso, que não tem uma explicação lógica, talvez por isso a história resulte dessa combinação de liberdade e necessidade porque, em rigor, a intervenção livre de cada homem, traduz-se numa resultante que não pode imputar-se à vontade de nenhum. Nem de Jung nem do articulista Rolo Duarte.
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