terça-feira

O mundo de António Vitorino

António Vitorino mostrou hoje o que pode pensar, dizer ou fazer quando vai ao estrangeiro: retrata-nos um mundo com os aspectos negativos e positivos. Não faz como outros cronistas quando reportam de Luanda - tecendo elogios às elites angolanas enquanto o povo vegeta nos bairros infra-humanos que circundam a capital. Isto também distingue um analista que faz jeitaços ao psd daquele outro analista que, enquanto tal, contribui - a partir do campo analítico - para a boa governação. É óbvio que não é só isto que deixa Vitorino a milhas de distância do frenético Marcelo das farturas do psd - que já se repete nas queixas e nos favores que faz aos amigos da política, quiça pensando em Belém.
Mas isto são os peanuts da política caseira que pouco ou nenhum interesse tem. AV foi a Berlim acompanhar a evolução do Tratado Constitucional que pode ajudar esta Europa a ser mais Europa, desobstruindo-a dos escolhos, das hesitações e da falta de visão e de projecto de Fujão Barroso.
Do CDS/PP sabe-se que Portas vai-lhe pegar pressionando com isso mais o PSD. Revelando que nada corre bem a Mendes, o desgraçadinho da política lusa que em breve terá de partilhar o seu eleitorado com o de Paulinho das feiras. À "volúpia mediática" do PP soçobra Ribeiro e Castro - de "low profile cinzentão" que já começou a ser trucidado por Portas. Sucede que a política vai para além das personalidades mediáticas, não se circunscreve apenas à federação dos descontentes como sistematizou António Vitorino. A política é a arte e técnica de resolver problemas complexos através de soluções simples, rápidas e eficazes.
Percebemos isto se compulsarmos as piroseiras ditas por Portas naquele programa da sic cujo nome desconheço e tem um décor que faz lembrar o dos cabarets da Europa da década de 80 (só não tem meninas de Amsterdam) - com a essência dos problemas com que os portugueses estão efectivamente confrontados. Um exemplo: há tempos o sr. paulinho Portas referiu que passou a interessar-se pelo Ambiente por causa das leituras e das conversas do seu grande amigo Nobre Guedes que, se calhar, passou a estudar a camada do ozono depois de ter visto a video-propaganda de Al Gore... São estes faits-divers que fazem a malha discursiva de PPortas - que não argumenta, faz antes confidências à jornalistas, com aquela sua expressão: ouça!
Ou seja, enquanto os portugueses não marginalizarem esses elementos perniciosos do funcionamento do sistema político e que estão radicados naqueles vícios hiper-mediáticos dos sound-bites ao estilo de Portas nesta fase post-ministro e post-Indy - continuarão a confundir a azeitona com o caroço. E Portas é, manifestamente, o caroço, embora Ribeiro e castro também não sirva para azeitona...
O putativo regresso de Portas ao PP de par com o desejo dos portugueses segundo sondagem recente que reclama marcelo no psd, faz lembrar aquele velho slogan: votemos para que as moscas mudem, mas a "política" será a sempre a mesma... A lógica de PPortas fazer política já todos a conhecemos.
Quanto ao PS na sua relação com o regresso do ex-director do Indy terá apenas de estar mais atento no Parlamento e nos media para cercear aquele frenesim portista - cuja mais valia reside apenas na sua relação privilegiada com a mediacracia sem que daí decorram vantagens para a democracia e para o quotidiano dos portugueses. A esta luz PPortas pode fazer-se ecoar nos media mais os seus sound-bites que aprendeu quando fazia parangonas falsas e injuriosas nas manchetes do Independente - e por elas foi processado, punido e setenciado - pagando aquele semanário milhares de cts de indemnização por difamação e outros crimes.
Noutra latitude, as eleições franceses já igualizaram o score das intenções de voto entre Ségoléne e Sarkosi, com a particularidade de se o 3º candidato passar à 2ª volta pode, efectivamente, ganhar a cada um daqueles dois candidatos, o que revela bem a volatilidade das atitudes, das crenças e das intenções de voto em política.
Quanto ao Irão o info-ruído continua, pois nem os EUA se irão meter em mais aventuras, além de que g.w.Bush já esgotou toda a sua quota de alarvidade mental. Mesmo que queira o actual locatário da Casa Branca já não consegue fazer pior.
Tudo isto ocorre no melhor dos mundos possíveis, apesar do ouro negro ter aumentado, e nós, os otários das quatro rodas, somos obrigados a andar com a carteira mais leve porque o esbulho é de monta. Tal é o reflexo da alegada intervenção dos EUA no Irão...
Aqui AV poderia fazer como Marcelo, omitir o sinal da crise só para não desagradar a certos players. Mas Vitorino lembrou aos tugas directamente de Berlim que até a fazer análise é e pode-se ser um homem sério. Por isso gostamos tanto de o ver e ouvir.
E quando digo "gostamos" devem ser milhões pessoas, as mesmas que compram o crude já transformado à boca da mangueira de combustível nas bombinhas do nosso descontentamento.
Venham os carros a alcool, e só não digo a água porque depois matavamo-nos uns aos outros...