Lisboa - por António Costa Pinto -
O valor da estabilidade é apreciado pelos cidadãos portugueses e entre eleições e referendos as consultas têm sido muitas, mas a crise recente na Câmara Municipal de Lisboa merece alguma atenção, pois a capital foi-se transformando no palco do País.
É verdade que o que se passa em Lisboa já aconteceu em outros municípios, mas a prudência dos partidos perante a crise é excessiva e pode contribuir para o aumento dos sentimentos anticlasse política.
O caso português caracterizava-se no passado por uma grande passividade do sistema judicial relativamente às eventuais ilegalidades do poder municipal, mas hoje estamos ainda longe do perigo do justicialismo.
Quando Carmona Rodrigues diz que o País ficaria paralisado se todos os autarcas indiciados suspendessem funções, isso é o espelho infeliz de uma realidade pouco saudável.
Nesta conjuntura curiosa em que os principais partidos, nomeadamente o PS, não estão a pedir eleições, porque estaríamos a falar de um mandato curtíssimo, de cerca de ano e meio, talvez fosse altura de estes pensarem mais no interesse geral, dando sinais positivos e apresentando rapidamente alternativas à sociedade civil.
Talvez fosse também uma boa altura para evitar que os sentimentos antipolíticos de uma parte da sociedade portuguesa, associados à passividade e ao desinteresse, evoluam para uma conjuntura propícia ao surgimento de partidos populistas e anti-sistema, à semelhança do que aconteceu em países como a Holanda.
A Câmara Municipal de Lisboa tem-se transformado nas últimas décadas, aliás desde Jorge Sampaio, numa plataforma política nacional, perdendo o regionalismo "alfacinha", se é que não o tinha perdido há mais tempo.
Políticos nacionais, ex-secretários-gerais e futuros primeiros-ministros e presidentes já passaram por lá e é de prever que o movimento continue.
Lisboa é hoje vista como espelho de políticos nacionais e os danos são mais fortes.
Os partidos deveriam ter por isso mais atenção ao tema, apontando alternativas e dando sinais de que estão preparados, caso a crise se agrave.
- Obs: António Costa Pinto dá-nos mais uma pincelada hiper-realista do antro e dos esquemas corruptivos fornecidos pelos múltiplos casos desta equipa camarária dirigida erráticamente por Carmona. A sua grave declaração por um lado, e o efeito-trampolim da autarquia que tem sido sistemáticamente instrumentalizada pelos agentes políticos por outro, resumem eficientemente o caos instalado em Lisboa cujo poder deverá ser imediatamente devolvido ao povo. Ainda que isso custe muito ao PS e ao PCP - que pretendem evitar eleições por taticismos exclusivamente partidários, e não por pensarem no bem comum dos lisboetas. Mas a manutenção deste stato quo só poderá piorar as coisas. Mais um artigo a ler e a meditar, portanto.
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