quarta-feira

O desencantamento no Dia dos Namorados...

Hoje celebra-se o famoso Dia dos Namorados, um simbolismo que envolve declarações de amor, histórias, mentiras, simulações, dissimulações, poesias, canções, cartões, sms, mails, anedotas, estaladas e ofensas - tudo em inúmeras línguas. Apesar do dia remontar ao jejum da Igreja Católica em homenagem a S. Valentim, é só na Idade Moderna que esse simbolismo é reformulado e passa a estar associado ao conceito de amor romântico com o trade-of daquela parafernália de instrumentos de comunicação entre as pessoas que estão - aparentemente - apaixonadas. E algumas estão mesmo, e não sabem que estão!!!
Contudo, a maior parte daqueles instrumentos de comunicação entre as pessoas é "filho" da revolução industrial e agora da revolução digital que colonizou as práticas e os hábitos das pessoas. Cumpridos estes rituais para iludir o tempo que passa, mascarar as mudanças com pílulas douradas, são crenças assentes em superstições, na religião, no costume, enfim, nos hábitos enraizados.
Depois veio o racionalismo e o cálculo com a sociedade industrial que tinha como núcleo a eficiência e as consequências futuras daqueles cálculos na vida das sociedades. Aqui, começou a haver pouco espaço para os sentimentos e para fazer as coisas só porque sempre tinham sido feitas assim desde há inúmeras gerações. O desenvolvimento da C & T moderna trouxe a burocracia que ainda consolidou mais o racionalismo e a burocracia, outro grande instrumento de amor, desta feita pelo lado Estado.
Assim de um lado, temos oa valores, a religião e os hábitos enraizados das pessoas, do outro, na sociedade moderna, temos o "amor" pela racionalização da política, da economia e das coisas militares. Com o passar do tempo o capitalismo impôs a sua regra. Resultado: mais racionalização, mais eficiência. Já não se tratava do mero conflito de classes, como supunha Carlinhos Marx, mas sim do avanço da C & T, logo da burocracia e das organizações de grande dimensão, que também era necessário tratar com amor e carinho. E mesmo assim é o que se vê. O Estado nunca poupa nenhum imposto ao seu contribuinte, ao seu cidadão..
Com a burocracia em larga escala, para organizar eficientemente um grande número de pessoas e de estruturas funcionais, na economia, na sociedade e na esfera militar, deixou de haver tanto espaço para o Amor genuino. É daqui que nasce o termo desencantamento ditado por Max Weber, para descrever a forma pela qual o pensamento científico no mundo moderno também vai lavrando algumas desgraças, ou seja, contribui para fazer desaparecer as correntes e as forças sentimentais do passado, na Era do pré-racionalismo e da pré-burocracia.
Com isto se desumanizaram as relações humanas e isso teve (e tem) consequências na forma como hoje todos nos relacionamos. Interrogo-me se a felicidade passará pelo racionalismo, pela C&T, pela riqueza tout court, pela rejeição da tradição e dos costumes onde até as rosas, essas sim, tinham cheiro e eram genuínas.
Hoje quando vejo alguém de rosa (de plástico) na mão para fazer algum impulse não posso deixar de pensar que foram roubá-las aos cemitérios... Em rigor, a maior parte das pessoas até as comprou em lojas legalizadas que pagam os seus impostos, mas duvido que se trate dum sentimento genuino e que elas, as rosas, cheirem mesmo a rosas...