segunda-feira

Um contributo de Max Weber para o pensamento dos media

Há dias falamos aqui de Weber a propósito das ideias e de como ela nos aparecem à mente, ou seja, "saltam" da nossa mente para a nossa mesa de trabalho. Concluiu-se que elas, as ideias, chegam quando menos se espera , e quando não estamos pensando e procurando essas mesmas ideias na nossa mesa de trabalho. Um pouco como os amores das nossas vidas, irrompem quando não esperamos. Não obstante, elas certamente não nos ocorreriam se não tivessemos pensando nelas - nas ideias - intensamente, dia e noite, e também na nossa mesa de trabalho. Weber foi buscar esta formulação simples a Ihering, e eu fui buscá-la a Weber, e já aqui lhe agradeci. Mas agradecer algo aos mortos é sempre um exercício de retribuição duvidosa.
Seja como for, a presente evocação de Max Weber, o maior sociólogo da modernidade, tem agora outro contexto: o das relações entre os media e a política, isto por causa - não só (mas também) da relação de estranha boa imprensa que o actual DGCI, o sr. Paulo Macedo tem junto do Sol, Expresso e demais jornalada onde aquele elemento do grupo Millenium tem participações de capital. Portanto, ao invés do que alguns beginners democráticos pensam - esta questão da recondução (ou não) de D. Macedo atinge o âmago da democracia pluralista, não se trata dum simples clausulado contratual que tem ou não de ser observado e dos muitos milhões de euros que o Estado arrecada mercê da colecta eficaz de impostos.
Porque razão, portanto, e agora em termos mais amplos e genéricos, certas pessoas na Administração, na política, na esfera económica têm tão "boa imprensa" ao invés de outros - que são criticados, por vezes sem fundamento, e até são farpeados por jornalistas que pretendem fazer uma caixa, sair do anonimato, brilhar da pior forma, como em tempos aconteceu com um tal Marújo do jornal Público quando acusou indevidamente um ex-ministro do governo de António Guterres.
Julgo, na companhia de Weber, que temos de procurar a razão deste facto na crescente falta de liberdade do jornalista, mormente do jornalista sem meios de fortuna e, por consequência, ligado à sua profissão, à sua circunstância e também determinado pelo crescimento exponencial dos media.
A necessidade de ganhar o pão com artigos diários ou semanais é, para o jornalista, um imperativo e para o político, uma cadeia de estorvo (ou de estímulo) de movimentos, e até há imensos casos de homens políticos que nasceram para o exercício do mando e atingirem o píncaros do poder, e não conseguem lá chegar, porque alguém lhes criou obstáculos ou inconvenientes exteriores (e interiores) nessa trajectória.
Depois, o jornalista tem cada vez menos influência política, ao passo que o magnata do sector/imprensa goza dessa influência. Vejamos um exemplo comezinho: alguém se lembraria de convidar Francisco Pinto Balsemão para o que quer que fosse se ele não tivesse o império mediático que tem? Creio que não... Nem para os cursos de Verão do PsD onde ele ali vai definhar, ano após ano, para dizer à turba da criançada que alí se encontra para arranjar um emprego, que é ´sócio nº. 1 do PsD e que tem as quotas em dia. Isto é a negação e o "lordismo" decadente da democracia.
O certo é que a carreira jornalística continua a ser uma das vias mais importantes para o profissionalismo político. Um caminho que não é trilhável por toda a gente, como em tempos Max Weber referiu, muito menos pelos espíritos fracos de grande parte dos jornalistas que hoje ocupam lugares de destaque e de responsabilidade nos media nacionais. Mas há excepções, felizmente...

Valerá a pena meditar nisto, especialmente se contribuirmos aqui para que não hajam muitos jornalistas transviados ou até desprezíveis pelo peso do compadrio, da corrupção das almas, das cunhas, dos textos miseráveis que escrevem e reescrevem para agradar aos poderosos deste mundinho imundo, e passe a haver mais jornalistas com valor e autênticos livres-pensadores que possam avaliar os factos da forma mais isenta, objectiva e justa possível. Tomando sempre em contra que, nestas coisas, como em tudo na vida, não há neutralidade absoluta.