domingo

Casamentos e funerais

Apesar de actualmente se casar menos em Portugal, isso não significa crise na indústria dos casamentos, que arrecada perto de mil milhões de euros por ano. A feira EXPONOIVOS, cuja edição de Lisboa abriu sexta-feira as portas ao público com um vasto leque de ofertas para todos os gostos e para todos as bolsas, é organizada há 13 anos e mantém-se um acontecimento mediático e social. António Brito, organizador da feira, diz que a razão de se casar mais tarde em Portugal prende-se com o facto de a dependência familiar se prolongar, com a independência económica a chegar mais tarde, resultando num maior gau de exigência.
Num espaço onde são esperados entre 38 mil e 40 mil visitantes, os mais exigentes poderão encontrar vestidos de noiva com preços até aos 5.000 euros e uma quinta de sonho para a boda onde um convidado pode representar custos mínimos de 100 euros mais IVA.
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Obs: Queríamos daqui dizer ao sr. Brito que com um glamour de preços destes o sonho do casamento transforma-se imediatamente num pesadelo, é mais uma negociata que apanha despevenidos as pessoas mais ingénuas que acabam por embarcar nestas encenações de cor e cheiro que nem sempre terminam bem.

O que me faz lembrar o ambiente dos funerais - em que muito cangalheiro se aproveita nitidamente do momento de vulnerabilidade psicológico dos familiares do defunto para lhe impingir o caixão mais piroso e ao mesmo tempo mais caro. Nos casamentos só muda o discurso e os adereços. É outro negócio da China.

Hoje a família nuclear encontra-se "partida", já não é extensa, a família actual é uma família fantasma - consistindo numa unidade familiar formada por uma mulher casada (ou divorciada) com os seus filhos e o fantasma, seu novel parceiro com quem vive maritalmente. Ou seja, na prática o novo marido não desempenha o papel de pai, é apenas o homem da manutenção sexual que lá vai assegurando um papel menor do pai biológico. Tudo isto mudou, e hoje interrogo-me como é que existem otários que embarcam nestas festanças e negociatas de casamentos pirosos, até as flores são de plástico, de entregar a empresas em que não se conhece uma alma penada a escolha do ambiente dum momento, por natura, íntimo dos cônjuges. De facto, não compreendo tanta transferência de responsabilidade para estes estranhos que fazem negócio à pala de gente sem ideias. Só a falta de imaginação e a estupidez natural explica isto...

Vivemos, de facto, no meio de organizações como diria Amitai Etzioni: precisamos dos transportes, dos restaurantes, dos serviços financeiros, do padeiro, do supermercado e, na hora da verdade, lá vamos nós contratar mais um serviço, quantas vezes de má qualidade, ao cangalheiro da esquina que acaba por nos embarretar com o tipo de caixão fornecido. Por vezes, chega-se a pensar que o melhor mesmo é nunca ter nascido, assim excusamos de casar e depois de morrer.

A melhor forma para não contribuir para o enriquecimento desses "novos lorpas" que, no casamento ou na morte (por vezes são tão indistintos), fazem tudo o que for possível para ludibriar as pessoas mais ingénuas e crédulas que já alguma vez conheci.

E é triste estar com esta prosa a um Domingo, logo hoje que é dia de aniversário do meu irmão. Parabéns Vitor!!!