terça-feira

O Amor é um mistério como os Ovnis ou a morte...

Esta época é propícia a leituras da realidade mais personalistas, mais humanizadas, mais espirituais, ainda que passemos a vida a pecar, mas é a vida, como diria o outro. Tal decorre dum questionamento: e se, de súbito, compreendêssemos que, na realidade, a noção de amor que temos desenvolvido com o nosso pai, mãe, namorada, mulher, filho, filha, irmão, neto é, afinal, uma noção deturpada do verdadeiro Amor?!
Quer dizer, se descobrissemos que, num ápice, tudo não passaria duma farsa bem montada, dado que tomamos por verdadeiro amor o amor resultante do impulso biológico, que depende apenas da nossa química e hormonas. Que é fácilmente mutável consoante os estados fisiológicos do organismo e as ambiências onde estamos envolvidos. Numa palavra: este nosso amor - que cultivamos desde que nos conhecemos, não é, de facto, o verdadeiro amor.
Recordamos aqui o Banquete de Platão, quando Sócrates dizia: um homem que pratica os mistérios do amor estará em contacto não com um reflexo, mas com a própria verdade. Para encontrar essa benção da natureza humana, não se pode encontrar melhor auxílio que o amor.
Além de que entre o amor e o desejo há uma distinção a fazer: aquele implica mistério, este não passa dum jogo biológico, corrente em cada animal, ave ou árvore. Daí que a linha de interpretação mais consistente me parece ser a que é apontada por Sócrates, segundo a qual um homem que pratica os mistérios do amor estará, à partida, mais apto a reflectir a Verdade do que aquele que apenas conhece o impulso do desejo.
Neste sentido, é natural admitir que enquanto o desejo emana do corpo, o Amor resulta da consciência. E se muitos de nós não conhecermos a nossa própria consciência!? - tudo o que vem depois sossobra. Assim sendo, até podemos dizer que muito pouca gente no mundo conheceu o verdadeiro Amor, e os que alcançaram esse desígnio são os silenciosos que pacificamente andam por aí, de forma discreta mas felizes.
Com isto pretendo significar uma coisa simples: e se, de facto, andamos mesmo todos enganados, e tomamos por verdadeiro amor aquilo que na realidade não passa duma sombra.. É aqui que vem o pior, pois somos obrigados a admitir que, afinal, nunca amámos, pois pudera - como se pode amar se verdadeiramente se desconhece o Amor?! Eis o nó górdio da nossa cultura, da nossa civilização.
O amor é capaz de ser esse mistério que não se dá a conhecer fácilmente, e estou em crer que andamos todos iludidos acerca da noção que temos e usamos do amor quando, na verdade, há algo escondido por detrás dele que nem sequer conseguimos imaginar. Um pouco como os Ovnis ou mesmo a vida para lá da morte...
O melhor mesmo é andar atento não vá "ele" um dia aparecer por aí e convidá-lo/a para jantar, e como vai logo supor que é do amor-comum (fingimento) que se trata, acabamos por desperdiçar uma oportunidade derradeira.
Tendo a pensar que o amor é como a verdade, um mistério que quando se desvanece outro logo sobrevém para ocupar o lugar do anterior. E andamos nisto desde que nascemos até morrermos. Se pudesse telecomandar os mistérios do amor & verdade confesso que pediria...
  • Dedicado à nossa amiga Valéria Mazza Sudjanski que se encontra em Camberra a estudar o organismo dos jacarés.