É proibido proibir... Penteados, modas, religião e política
Cfr. Hoje há conquilhas e Claro
" Joana Amaral Dias: mostra-se preocupadíssima com a proibição, em alguns países europeus, das vestes medievais que os árabes emigrados na Europa obrigam as suas mulheres a usar. Ela, a senhora “bem”, é tão reaccionária e tão inconsistente que não enxerga o que isso tem de descriminação contra as mulheres árabes cujos maridos, pais ou irmãos não andam pelas ruas de carapuça enfiada. Eles não; elas sim - assim deve estar escrito no Alcorão. A dita Joana, qual embaixadora de um (ou de todos) aqueles países em que a mulher é tratada abaixo de cão, em que os homossexuais são condenados a pena de morte, em que a mutilação genital é prática comum, em que um homem pode ter dez mulheres, mas uma mulher não pode ter dez homens, em que o adultério feminino dá direito a apedrejamento, mas o adultério masculino nem sequer existe enquanto conceito, e muito mais, insurge-se contra a “islamofobia”. Pergunto: porque é que a Joana, indefectível defensora da opressão das mulheres árabes, não emigra para Teerão e, aí, se passeia em mini-saia para experimentar os ares da “liberdade” árabe em contraste com a “opressão” europeia. "
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- O conflito entre a ansiedade culpável e o desejo de ser objecto de admiração sempre se reflectiu na forma como a mulher tratava o cabelo: comprido e solto simbolizava a sexualidade desenfreada; fora das fantasias do poeta, era algo só permitido na intimidade mais absoluta da alcova ou na cabeça inocente de uma jovem, como explica José M. Pais no Artes de Amar a Burguesia. Alí trata-se duma questão algo diversa, mais religiosa mas, ao mesmo tempo, mais problemática, na medida em que estamos no séc. XXI. Mesmo em adolescente a caminho de ser uma mulherzinha via-se obrigada, sempre que ia para o colégio ou saía à rua, a utilizar um austero laço ou uma trança, apesar dos protestos iniciais que se socorriam da própria imprensa, como revela a seguinte carta ao DN do séc. XIX:
Senhor Redactor:
Escola Normal, 11 de Outubro de 1868Permita V. que eu apele paea o seu auxílio e, soltando um brado de indignação, torne pública pelo seu muito lido jornal a prepotência de que eu e todas as minhas consdiscípulas aqui estamos sendo vítimas. Sr. redactor, sou aluna da Escola Normal, ao Calvário, onde era livre a qualquer de nós usar o penteado que quisesse, com cuia ou sem cuia. Há dias, foi a todas ordenado que o penteado deveria ser uniforme; o cabelo todo arrepiado e atado num carrapito atrás da cabeça, como usam as chinesas! A cuia expressamente proibida! Ameaçadas de castigo todas as que transgredirem esta ordem [...]. Espero, sr. redactor, que V. tomará a nossa defesa... Respeite-se a liberdade do penteado. Queremos a liberdade na cabeça, onde existe a mais santa e a mais invidável de todas as liberdades - a liberdade de pensar.
Uma aluna
- Obs: Já agora esperemos que ninguém daqui aconselhe a Joana a mudar o penteado porque cada um/a tem sempre a cabeça que tem. Sendo que o ideal em política, cínicamente é claro(!!), é integrar um partido e depois apoiar o candidato d'outro. Provavelmente, isto também remeterá para a tal liberdade do penteado de que nos fala aquela aluna do séc. XIX...
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