Seremos todos reféns da vitória virtual
Doravante, seremos todos reféns da nossa própria sombra. Seremos perseguidos pelo pensamento: poderíamos ter ganho a França e depois a taça do Mundo. Isto é uma violência: não se morre mas também não se fica vivo.Fica-se suspenso na trave do mundo preso por uma mola. A mola do sacana do árbitro. Ou do liberalismo, ou da globalização, ou do Rebello de Souza, ou da pedofilia, ou do Procurador-Geral de República, ou do Alberto João da madeira ou por uma qualquer e estulta razão anónima sem fim à vista. O que se quiser arranjar para afagar as nossas mágoas. Somos reféns da imagem que projectámos do nosso próprio sucesso, alicerçado jogo-a-jogo. Seremos os tais reféns objectivos porque respondemos colectivamente perante uma meia coisa, que teve o sabor da vitória mas que, afinal, transformou-se no amargo sabor da derrota. Tanto pior porque nem sequer podemos reconhecer os manipuladores, mas sabemos que a balança da nossa sorte não está mais nas nossas mãos e que estaremos, doravante, num estado de letargia permanente, de expectativa e de excepção cujo símbolo é a vitória com sabor a derrota. Era como se nos dissessem: vocês - Portugueses - são os melhores de entre os melhores, têm o legítimo direito de ganhar mas, no final, uma qualquer divindade aterrorizante (que pode bem ter sido o erratismo do árbitro) manipula as regras do jogo e impede que a vitória virtual se some à vitória material. Ganhar, perder... e se, num ápice, o mundo se transformasse de tal modo que perder é que significasse a vitória!!! Todos quereriam ficar em último lugar, ganhar menos, ser derrotado, ser burro e desqualificado. Ainda assim não teremos nunca a prova de que um mundo assim seria ainda pior do que este que temos. Razão tinha Diógenes quando treinava a esmola junto duma estátua. Exercitava-se na recusa...
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